Já se passaram 9 anos desde o rompimento da Barragem do Fundão em Mariana, completou. Esse é um dos capítulos mais tristes da história do Brasil. Até hoje, não temos uma resposta exata sobre o que houve e quem foram os culpados. Infelizmente, nada se pode mais fazer pelas vidas que foram perdidas. Mas como cidadãos, temos a obrigação de refletir sobre o que a nossa sociedade pode fazer de diferente para que casos assim não se repitam. Afinal, quais as lições que a tribo do Engenharia 360 pode tirar de tudo o que aconteceu? Vamos debater sobre o caso?
O que aconteceu em Mariana?
Mariana é um município localizado no estado de Minas Gerais, muito conhecido pelos engenheiros por sua arquitetura barroca colonial. Em 5 de novembro de 2015, uma barragem controlada pela empresa Samarco Mineração S.A. (uma joint venture entre a Vale e a BHP Billiton) acabou se rompendo, matando 19 pessoas, afetando outras milhares e devastando toda a região. E mesmo apesar das tentativas de contenção, o colapso da estrutura foi inevitável.
O impacto do desastre de Mariana foi absurdo. As vilas de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo foram completamente destruídas. A lama tóxica, com aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, se estendeu por mais de 600 km ao longo do rio Doce até chegar ao Oceano Atlântico. Foi um rastro de destruição ambiental sem precedentes, que até hoje é sentido pela fauna, flora e população local.
Linha do tempo do desastre
- 5 de novembro de 2015: Rompimento da barragem de Fundão às 16h20min.
- 9 de novembro de 2015: A prefeitura de Governador Valadares interrompe a captação de água devido à contaminação do Rio Doce.
- 16 de novembro de 2015: A lama atinge o município de Baixo Guandu, no Espírito Santo.
- 22 de novembro de 2015: A lama chega ao mar, afetando praias e ecossistemas marinhos.
Quais as causas e consequências do desastre em Mariana?
Nos anos seguintes à tragédia, os especialistas apontaram como as causas do rompimento possíveis falhas administrativas e estruturais. Vale destacar que a barragem estava naquela época de 2015, quando ocorreu o vazamento, passando por um processo crítico. E, pelo que apontam alguns estudiosos, supostamente não havia um plano efetivo de contingência ou rotas de fuga para os moradores das comunidades próximas.
Além das vidas perdidas, houve a destruição do ecossistema do rio Doce e das comunidades ribeirinhas. A contaminação da água e do solo comprometeu a saúde pública e o abastecimento de água em várias regiões. Estima-se que várias espécies tenham sido extintas devido à poluição causada pelos rejeitos - inclusive, os ambientalistas dizem que a recuperação da área pode levar até 100 anos.
No plano econômico, as perdas foram imensuráveis. O comércio local registrou queda nas vendas e na arrecadação. Diversos processos e demandas de indenizações bilionárias tramitaram na justiça, e o custo para a recuperação ambiental e social foi monumental. Por todo o país, a tragédia abalou a confiança dos brasileiros nas medidas de segurança das barragens e na fiscalização das atividades de mineração. Após anos, com tantas perdas humanas e materiais, tem sido difícil para as famílias afetadas reconstruir as suas vidas.
Qual a decisão da justiça sobre o caso?
Na segunda semana de novembro de 2024, após anos de processos judiciais, a Justiça Federal, através do Tribunal Regional Federal da 6ª Região, localizado em Ponte Nova, absolveu das acusações relacionadas ao desastre as empresas Samarco, a Vale, a BHP Billiton, a empresa de consultoria VogBR, além de sete pessoas (incluindo diretores e técnicos). A decisão foi baseada na "insuficiência de provas para estabelecer a responsabilidade criminal direta e individual dos envolvidos".
É claro que essa decisão gerou muita polêmica e protestos, sobretudo de sobreviventes e ativistas ambientais. Afinal, quem deveria ser responsabilizado pela inundação, pelas mortes de pessoas, pela destruição da flora e fauna e pelas perdas de patrimônio? É por isso mesmo que o Ministério Público Federal (MPF) anunciou que irá recorrer da decisão, em busca de uma nova interpretação judicial. Enquanto isso, acontece um julgamento paralelo em Londres, movido por um grupo de atingidos pelos desastres.
Quais as lições para a engenharia?
Vamos trazer a discussão agora para o nosso "universo"? É claro que o desastre de Mariana pode ensinar muito aos engenheiros. Antes de tudo, é preciso de modo urgente revisar os padrões de segurança das barragens no Brasil e no mundo. Estruturas como essa, com tamanha importância e complexidade, necessitam de manutenção adequada; e seus projetos devem seguir rigorosamente as normas técnicas. Confira outras lições que podem ser tiradas da tragédia:
1. Melhoria nas normas de segurança e fiscalização
- Implementação de normas mais rígidas para construção e manutenção de barragens.
- Revisão e maior rigidez na fiscalização e cumprimento das normas.
2. Responsabilidade e transparência corporativa
- Adoção de práticas mais transparentes na divulgação de riscos.
- Empresas devem manter altos padrões de responsabilidade para prevenir desastres.
3. Investimento em tecnologia e monitoramento
- Utilização de sistemas de monitoramento em tempo real.
- Realização de simulações de cenários de risco para evitar colapsos.
4. Planos de contingência
- Criação de planos eficazes de emergência.
- Fornecimento de informações claras sobre rotas de evacuação para comunidades próximas.
5. Capacitação profissional e conscientização
- Capacitação contínua de profissionais.
- Promoção de uma cultura de segurança para minimizar erros e omissões.
6. Responsabilidade corporativa e operacional
- Empresas devem ser responsabilizadas por danos materiais e práticas arriscadas.
- Transparência nas operações mineradoras é essencial para garantir a confiança pública e prevenir desastres futuros.
Podemos concluir que o desastre de Mariana é um lembrete doloroso de como falhas de segurança e prevenção podem levar a tragédias absurdas. E mesmo que empresas e indivíduos acusados sejam absolvidos, a discussão sobre o caso não pode morrer.
A engenharia ainda deve continuar estudando o evento e buscar desenvolver tecnologias, sistemas, materiais e processos que contribuam para a construção de estruturas mais resistentes e que auxiliem na prevenção contra futuras catástrofes.
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