Em fevereiro de 2025, aconteceu uma tragédia no município de Buriticupu, no interior do Maranhão: surgiu uma cratera de 80 metros de profundidade e altura equivalente a um prédio de 20 andares, “engolindo” ruas e construções. Esse fenômeno é conhecido pela engenharia como voçoroca - o termo vem do tupi-guarani e quer dizer “terra rasgada”; trata-se de uma forma agressiva de erosão do solo que pode ser causada pela água da chuva e outras fontes.
Vale destacar que as voçorocas são, em grande parte, consequência da degradação ambiental. Suas possíveis causas são o desmatamento e a falta de infraestrutura adequada, como sistemas de drenagem e saneamento básico. Continue lendo este artigo do Engenharia 360 para entender melhor!
A situação em Buriticupu, no Maranhão
Em 2023, um morador de Buriticupu, situada a 350 metros acima do mar, estava voltando para casa à noite quando seu carro despencou em uma cratera no solo. O resgate foi complexo e a experiência foi narrada nas principais mídias de comunicação do país. Esse incidente era um anúncio dos riscos a que os habitantes da cidade estavam expostos. Infelizmente, geólogos da região já haviam apontado que voçorocas poderiam dividir a zona em duas partes, transformando-se em um rio no futuro. A saber, mais de 30 erosões já foram catalogadas.
Agora, depois do incidente ocorrido em fevereiro de 2025, o Ministério Público do Maranhão está cobrando na Justiça a execução de um acordo em que o município se compromete a realizar obras de prevenção e ajudar as pessoas afetadas. O governo federal também anunciou a análise da liberação de recursos para a cidade. No entanto, as soluções para a cidade devem ir além de obras emergenciais.
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É preciso fazer um mapeamento melhor das áreas vulneráveis à erosão e um plano de prevenção e contenção para cada local. Ademais, realocação de famílias em áreas de risco. Na sequência, recuperação das áreas degradadas, com reflorestamento e recuperação de solo; construção de infraestrutura de drenagem e saneamento básico para evitar mais erosão; e promoção do desenvolvimento sustentável, incentivando atividades que gerem emprego e renda sem degradar o meio ambiente.
As possíveis causas para a formação das voçorocas
A formação de voçorocas é um processo que pode envolver vários fatores, naturais e não naturais. Chuvas intensas podem remover partículas superficiais, formando pequenos sulcos e canais - processo mais recorrente com as mudanças climáticas; o líquido concentrado nesses canais aumenta a velocidade e o poder erosivo do fluxo. A água filtrada no solo e, em áreas com solos heterogêneos, tende a erodir camadas mais profundas, criando vazios e túneis subterrâneos. Enfim, o solo frágil acaba entrando em colapso, formando ravinas e voçorocas.
A própria natureza trabalha e se transforma ao longo dos anos, mas as ações dos seres humanos ajudam a acelerar o surgimento de voçorocas. A começar pela remoção da cobertura vegetal (proteção natural contra erosão), lembrando que as raízes das árvores têm o papel de manter o solo estável. A urbanização desordenada faz aumentar o escoamento superficial da água e, consequentemente, a erosão. E para completar, o uso intenso do solo na agricultura, sem técnicas de conservação, leva à formação dessas crateras.
O papel do clima e do desmatamento
Em 2023, Buriticupu registrou recordes de tempestades. Inclusive, o estado do Maranhão enfrentou neste ano as piores enchentes de sua história. Esses são, segundo especialistas, sinais das mudanças climáticas no planeta. A pesquisa de Matthias Vanmaercke, da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, com foco no estudo de voçorocas, concluiu que o aumento da intensidade da chuva pode dobrar ou triplicar o risco de erosões como as ocorridas no Brasil.
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O desmatamento acelerado em Buriticupu talvez seja o problema maior. Antes, a região tinha uma densa floresta, rica de árvores de todos os tipos. Mas, nos anos de 1990, a instalação de serrarias na região, passou a derrubar grande parte dessas árvores e plantas que absorviam a água da chuva, contribuindo para o surgimento e expansão de voçorocas.
O impacto devastador das voçorocas
Concluímos que as voçorocas são um problema ambiental, econômico e social. O fenômeno arrasa paisagens, construções e histórias. Só em Buriticupu já foram perdidas, segundo a prefeitura, ao menos cinquenta residências. Dezenas de famílias precisaram deixar suas casas por pedido da Defesa Civil. As erosões têm carregado sedimentos para os rios (assoreamento), causado perdas nas produções agrícolas e contaminando a água distribuída à população, que sofre, em decorrência disso, com doenças e outros problemas de saúde.
As soluções de combate propostas pela engenharia
- Construção de barreiras: Muros de arrimo e gabiões para impedir o avanço da erosão e estabilizar o solo.
- Sistemas de drenagem: Canaletas e tubulações para direcionar água da chuva para locais seguros, prevenindo a erosão.
- Estabilização do solo: Uso de geotêxteis e compactação do solo para aumentar sua resistência à erosão.
- Bioengenharia: Plantio de vegetação em áreas erodidas para estabilizar o solo e promover a recuperação ambiental.
- Retaludamento: Suavização da inclinação do talude da voçoroca para torná-lo mais estável.
- Construção de bacias de contenção: Estruturas que armazenam água da chuva temporariamente, reduzindo erosão.
Essas medidas integradas e adaptadas às características locais são essenciais para prevenir e conter os danos causados pelas voçorocas.

As lições aprendidas e o futuro de Buriticupu
O caso de Buriticupu nos ensina sobre os riscos da degradação ambiental e a importância da prevenção de desastres. Sua tragédia é um recado claro de que precisamos investir mais em soluções de engenharia, legislação ambiental, fiscalização do desmatamento, promoção da educação ambiental, implementação de políticas públicas, desenvolvimento sustentável e medidas tecnológicas para mitigar as mudanças climáticas.
Devemos trabalhar com criatividade e dedicação em prol da sustentabilidade, protegendo nossas cidades e o meio ambiente como um todo, garantindo nosso futuro e das próximas gerações.
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Fontes: eCycle, BBC, Mega Curioso, G1.
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Eduardo Mikail
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