Desde que o ser humano deixou de ser nômade e passou a viver em assentamentos, ou melhor, em comunidade, moldou a natureza como quis, conforme as suas necessidades. Um exemplo, é a retificação de rios, que visa o controle do fluxo de água. E foi exatamente assim que chegamos onde chegamos. Certamente, não é o melhor cenário! Isto porque as consequências nós estamos vendo aí. O planeta está reagindo forte por meio das mudanças climáticas.
Infelizmente, algumas soluções encontradas ao longo de séculos estão provocando consequências graves e inesperadas. Uma delas é o aumento da frequência e intensidade de enchentes e inundações, como ocorreu em maio de 2024 no Rio Grande do Sul. Continue lendo este artigo do Engenharia 360 para saber mais!
O que é assoreamento e retificação de rios
Assoreamento é um fenômeno natural que ocorre quando sedimentos se acumulam no leito dos rios. Explicando melhor, esse material, proveniente da erosão das margens e do transporte de terra firme, tende a se depositar em áreas de menor velocidade da correnteza, formando os bancos de areia e diminuindo a profundidade do rio. Até aí, tudo certo. Contudo, o ser humano tem acelerado esse processo com a remoção de vegetação das margens dos rios - conhecida como mata ciliar.
A ideia de criar um calçadão, praças secas ou loteamentos de casas perto dessa água pode ser atraente, só que justamente essa vegetação extraída vai fazer falta, porque ela desempenha um papel crucial na diminuição do transporte de material sólido, proveniente da erosão das próprias margens.
Mesmo sabendo que a coisa não está certa, o homem acha que pode enganar a natureza. Uma alternativa proposta para o problema do assoreamento foi a retificação de rios. Trata-se da técnica para "endireitar" o curso do rio, removendo as suas curvas naturais. Entenda melhor na ilustração a seguir:
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Exemplo de caso
No Brasil, um exemplo famoso disso é o rio Tietê, em São Paulo, que teve um trecho retificado no início do século XX, sem considerar as consequências a longo prazo, como o confinamento de águas em estreitos canais, intensificando a velocidade das águas e aumentando a declividade. Além disso, a várzea do Tietê, fundamental para receber o excesso de água durante as cheias, não foi mantida. Enfim, as margens do rio foram ocupadas por rodovias e indústrias, impermeabilizando mais a região.
Atualmente, nos projetos de paisagismo em geral, buscam-se alternativas à retificação que priorizem a preservação do meio ambiente e a segurança da população. A proteção das áreas de várzea e matas ciliares, a criação de parques públicos e a construção de piscinões são algumas das medidas que podem ser tomadas para minimizar o risco de enchentes e inundações.
Uma bomba-relógio para as enchentes
A retificação de rios é uma prática comum em muitas cidades brasileiras e ela pode estar, sim, diretamente relacionada a tragédias de enchentes, transbordamentos e inundações. Como dito antes, com a falta de proteção natural, a erosão se intensifica em diversas regiões, levando ao acúmulo acelerado de sedimentos no leito do rio. E intervir em áreas de várzea, que são como reservatórios, só agrava o problema.
O pior cenário possível é a impermeabilização do solo - causada pela expansão das cidades -, com asfalto, concreto ou outros materiais impermeáveis. Nesse caso, a água da chuva não penetra na superfície como deveria. Em vez disso, ela é redirecionada diretamente para os rios, aumentando o volume de água que precisa ser estocado. A situação é agravada pelo lançamento de lixo e esgoto nas águas. E como o rio já está sobrecarregado, o efeito em cascata é absurdo.
Soluções Sustentáveis
A matemática é simples! Devemos proteger a natureza e garantir a qualidade de vida da população, incluindo as matas ciliares. Isso pode ser feito pela criação de parques públicos. Em centros urbanos, com a construção de piscinões que recriam artificialmente as regiões de várzea - só não pode ter acúmulo de lixo, proliferação de pragas e mau cheiro, claro.
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Um chamado à reflexão
Decidimos desenvolver este texto num período tão triste que é este vivido pelo Rio Grande do Sul para chamar nossos leitores à reflexão. Devemos estar mais cientes dos riscos associados à retificação de rios. Precisamos encontrar alternativas mais sustentáveis e resilientes para lidar com os desafios relacionados aos recursos hídricos.
Vamos repensar nossa relação com os rios e reconhecer que a natureza não deve ser moldada à nossa vontade, mas sim respeitada e protegida!
Os engenheiros e planejadores urbanos têm um papel crucial a desempenhar na promoção de práticas sustentáveis e no desenvolvimento de cidades resilientes às mudanças climáticas. Que tal trabalhar juntos para construir um futuro mais seguro para todos?!
Veja Também: A importância da atuação de engenheiros hídricos e hidrogeólogos na gestão da água
Fontes: Monolito Nimbus.
Imagens: Todos os Créditos reservados aos respectivos proprietários (sem direitos autorais pretendidos). Caso eventualmente você se considere titular de direitos sobre algumas das imagens em questão, por favor entre em contato com contato@engenharia360.com para que possa ser atribuído o respectivo crédito ou providenciada a sua remoção, conforme o caso.
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Eduardo Mikail
Somos uma equipe de apaixonados por inovação, liderada pelo engenheiro Eduardo Mikail, e com “DNA” na Engenharia. Nosso objetivo é mostrar ao mundo a presença e beleza das engenharias em nossas vidas e toda transformação que podem promover na sociedade.