Quando somos crianças, gostamos de explorar e conhecer o ambiente ao nosso redor. Para isso, escavamos a terra, observamos insetos, perguntamos, subimos em árvores e fazemos várias descobertas que nos levam a entender como o mundo funciona. De certa forma, a ciência é feita assim, por meio de observações, questionamentos e descobertas, o que mostra que as crianças têm um instinto de pesquisador.
Porém, quando somos meninas, existe uma situação um pouco diferente que pode impedir a manifestação do nosso lado científico. Somos muito mais influenciadas por frases como “Meninas não brincam na terra”, “Menina, sai logo desse quintal ou vai sujar seu vestido novo! Uma princesa não pode ter a roupa suja”, “Você é uma menina, não pode pegar um sapo ou uma barata.”. Enquanto tentamos manter o comportamento exigido, vamos perdendo o interesse pela ciência e pelo ato de descobrir.
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Felizmente, a situação está mudando. Há vários projetos que visam fazer com que as meninas tenham mais contato com a ciência e se interessem por áreas dominadas por homens, como as exatas.
Aos poucos as mulheres estão conquistando mais espaço meio científico e nas publicações das pesquisas. No dia internacional da mulher (8 de março), a Elsevier, maior editora científica do mundo, divulgou um relatório denominado Gender in the Global Research Landscape que traz informações sobre pesquisas realizadas entre 1996 e 2000 e de 2011 a 2015.
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O relatório mostra que, no Brasil e em Portugal, as mulheres são responsáveis por 49% das publicações. Por outro lado, as porcentagens são menores em outros países avaliados, como mostra a tabela abaixo (extraída do relatório).
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A pesquisa foi realizada com a base de dados da Elsevier. Para identificar o gênero, utilizou-se um processo que considera informações de cada país (com 80% de confiança), visto que essa identificação não é obrigatória para publicação.
Com relação às áreas, as mulheres são maioria em publicações da saúde/medicina. Por outro lado, estão bem longe da igualdade na área de exatas, dominada por publicações masculinas.
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Na área científica nem sempre há horários definidos, os finais de semana não são sempre livres, às vezes é necessário passar horas ou dias seguidos em laboratórios, no campo ou no computador. Esse é um fator que dificulta o ingresso das mulheres na ciência.
Mulheres são questionadas sobre a disponibilidade de tempo e sobre a abdicação de casar, ter filhos e cuidar da casa para dedicação integral à pesquisa. Além de insinuar que as mulheres devem cuidar da casa, é como se a mulher não conseguisse fazer tudo isso junto e ainda desenvolver uma pesquisa. Muitas mulheres, por exemplo, não engravidam para não “perder” um período da pesquisa.
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No Brasil, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) possui o programa Mulher e Ciência, lançado em 2005, no qual um dos objetivos é promover a participação das mulheres no campo das ciências e carreiras acadêmicas. Dentro do programa há o Pioneiras das Ciências, que presta homenagens às pesquisadoras cujo trabalho contribuiu para o avanço da ciência, e o Jovens Pesquisadoras, que divulga o trabalho de jovens pesquisadoras brasileiras com mérito acadêmico reconhecido.
O que não podemos esquecer é que uma mulher não deixa de ser mulher porque abdica ou deixa para mais tarde as tarefas associadas a ela. Além disso, não é necessário abdicar de nada ou deixar para mais tarde, o problema é a forma como a situação é vista de fora, tratada como se fosse algo absurdo o prejudicial para a carreira. De toda forma, fazer ciência e ser mulher ainda é um desafio, mas já provamos que somos capazes de conquistar a igualdade.
Referências: Elsevier; Folha; ANPG; CNPq.