Nota: Um fato curioso relacionado ao tema. Em outubro de 2023, data de atualização deste texto, o famoso youtuber Lucas Rangel visitou a orla de Santos, SP, para ver os prédios tortos da cidade. Ele expressou surpresa com a inclinação dos edifícios, brincando que a maresia "comeu" uma parte deles.
Rangel questionou o motivo da inclinação, brincando com a ideia de que a pessoa que vive ali fica inclinada. Ao constatar a inclinação dos prédios, ele ficou impressionado, comentando sobre a situação.
Um levantamento da Prefeitura de Santos indicou a presença de 319 prédios inclinados na cidade, com 65 deles na orla. Ela acompanha a situação regularmente, exigindo laudos de segurança a cada dois anos e destacou que, embora os prédios estejam inclinados, a estrutura atual não indica perigo iminente.
Muitos já tiveram a oportunidade de visitar a cidade de Santos, localizada no estado de São Paulo, e puderam observar os prédios tortos. Os que não conheceram pessoalmente pelo menos já devem ter ouvido falar. Mas por que esses prédios são tortos? Será que foi uma idealização no projeto para que eles tivessem essa inclinação?
Quais são esses prédios tortos?
Eles estão localizados na orla da praia de Santos e, ao todo, são 65 prédios que apresentaram alguma inclinação. Esses prédios foram construídos por volta de 1950 e 1960 e começaram a afundar pouco tempo depois, por volta de 1970. Sendo edifícios residenciais, acabaram gerando diversos transtornos aos moradores.

O que causou as inclinações em tantos prédios?
A inclinação ocorreu devido a dois fatores: um deles foi a concepção errônea da fundação dos edifícios e o outro evento chamamos de recalque. Se quiser entender um pouco sobre patologias acesse um artigo que publicamos sobre patologias na construção civil.
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Para dimensionar a fundação devemos realizar estudos geotécnicos e entender o solo ano qual o edifício estará locado. Incrivelmente, o solo de Santos é o segundo pior solo do mundo a se construir, ficando apenas atrás da cidade do México.
Nos projetos desses edifícios, foram utilizadas fundações rasas, já que a investigação de solo realizada na época mostrou que o solo até 12 metros de profundidade se demonstrava compacto. Porém, não sabiam que abaixo desse solo existia uma camada de solo mole e outra camada de solo arenoso.
Com apenas as informações que tinham e sem nenhum estudo geotécnico mais profundo, os engenheiros e empreiteiros utilizaram fundações com até 10 metros de profundidade.
Com o passar dos anos, ocorreu o evento que chamamos de recalque, que é causado pelas ações das cargas provenientes dos edifícios, causando o rebaixamento das fundações. O recalque ocorreu de forma não uniforme, então houve o rebaixamento apenas de um dos lados, causando a inclinação.
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Como agravante, a construção dos prédios próximos um do outro faz com que as cargas provenientes de um prédio ajam simultaneamente nas cargas dos outros prédios. Isso mesmo, os prédios não dispersam as cargas verticalmente, eles formam o que chamamos de bulbo de tensões e, com a proximidade de um edifício do outro, estes bulbos de tensões acabam se cruzando e acelerando o recalque do solo e das fundações.

Como ter evitado essa patologia?
Hoje entendemos a importância de um estudo mais profundo ou mais específico do solo devido às patologias encontradas em edifícios já construídos. E esses problemas não ocorreram apenas no Brasil, temos como grande exemplo a Torre de Pisa, na Itália, que teve a sua inclinação gerada com o mesmo princípio de que os prédios de Santos. Porém, como se tornou um ponto de referência histórico e turístico, realizaram a manutenção e as devidas correções para que ela se mantivesse inclinada.
Mas essa não era a ideia para Torre de Pisa e principalmente para os prédios de Santos e, para ter sido evitado esse problema, o estudo geotécnico deveria ter sido mais profundo e a concepção do projeto de fundação ser com estacas maiores de 50 metros. Atualmente, sabemos a caracterização do solo de Santos, o que facilita na concepção da fundação e gera segurança e conforto para as edificações.

E qual a solução para endireitar os prédios?
Por conta da segurança dos moradores e até mesmo da cidade, por possíveis colapsos das estruturas dos edifícios, os condomínios resolveram realizar o reaprumo dos prédios. Alguns tiveram que realizar esse processo após intimação do Poder Público.
O reaprumo constitui em levantar o prédio e alinhá-lo novamente. Falando assim parece algo estranho, mas vamos explicar como ocorre. A partir de macacos hidráulicos os pilares ou blocos de fundação do edifício são apoiados e levantados.
Com o prédio suspenso, é executada uma nova fundação. Agora, com o estudo geotécnico correto, a fundação não apresentara problemas futuros.

Com aproximadamente 50 metros de profundidade são executadas as estacas de fundação, após o tempo pré-estabelecido em projeto, o prédio aos poucos irá sendo locado em cima destas estacas. Já com a correção da inclinação, os prédios ficam novamente alinhados proporcionando, o devido conforto e segurança aos seus moradores.

E você, conhece algum outro prédio que está ou já esteve torto? Curte e comente!
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Guilherme Menezes
Engenheiro Civil, nascido e criado em São Paulo. Atua na área de projetos de Infraestrutura, estruturas e portuária. Se interessa por economia, atualidades e inovação.