Engenharia 360

O que acontece se você entrar em câmaras anecoicas? Descubra!

Engenharia 360
por Joachim Emidio
| 29/03/2021 | Atualizado em 11/06/2024 4 min
Imagem reproduzida de Gizmodo – UOL

O que acontece se você entrar em câmaras anecoicas? Descubra!

por Joachim Emidio | 29/03/2021 | Atualizado em 11/06/2024
Imagem reproduzida de Gizmodo – UOL
Engenharia 360

Imagine um lugar onde o silêncio é tão absoluto que você pode ouvir o som do seu próprio sangue batendo! No campo da Acústica, muito se fala sobre as câmaras anecoicas (sem eco). De fato, são construções arrojadas que têm o propósito de simular um ambiente isento de vibrações, tanto sonoras quanto eletromagnéticas.

Assim, uma sala anecoica é projetada para conter qualquer tipo de reflexão ou refração, vindas do ambiente externo ou interno. Ou seja, a construção cria uma condição de "campo livre", onde não há sinais refletidos. Obviamente, é impossível conter absolutamente todas as vibrações. No entanto, o ambiente onde isso se torna mais próximo da realidade é a câmara anecoica.

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Construídas para diversos propósitos, como teste de radares, antenas e, obviamente, estudos de Engenharia Acústica, as câmaras desse tipo produzem uma experiência única para qualquer um que entra em seu domínio. Com efeito, a construção não só serve para testes científicos, mas também já influenciou músicos e artistas. Continue lendo este artigo do Engenharia 360 para saber mais!

câmaras anecoicas
Imagem reproduzida de Compensated Compact Test Range
câmaras anecoicas
Imagem reproduzida de everything RF

O que são câmaras anecoicas?

O objetivo das câmaras anecoicas é absorver energia (vibrações, ondas) vindas de qualquer direção. Por isso, todas as superfícies internas precisam ser revestidas com determinados materiais, incluindo o chão. Como tais materiais impossibilitam qualquer pessoa de andar no local, são frequentemente instaladas grades no chão.

Tais materiais são espumas de alta absorção. Além de funcionar como um bom isolante, o formato dessas espumas é especialmente desenhado para que o som reflita o menos possível.

câmaras anecoicas
Imagem reproduzida de concepcaoacustica

Câmara semi-anecoica

Por outro lado, a câmara semi-anecoica já não usa espumas no chão. Ao invés disso, o chão é maciço, contendo no máximo alguns tapetes como revestimento externo. Isso se faz necessário, por exemplo, em testes com objetos pesados, como carros, máquinas industriais, entre outros. Estes, não seriam suportados por uma grade como a da câmara anecoica. Ademais, estúdios profissionais de gravação contém, geralmente, salas semi-anecoicas.

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A experiência do "silêncio"

Apesar de seu emprego pragmático, as salas anecoicas ou câmaras anecoicas sempre instigam os curiosos. Comumente, são descritas como lugares que deixarão qualquer um louco, proporcionando um silêncio insuportável.

Apesar de haver um pouco de exagero nisso, também há um pouco de verdade. Certamente, se você ficar por tempo suficiente numa câmara desse tipo, será possível ouvir seus próprios batimentos cardíacos. Com isso, a própria sensação física de seu coração batendo se intensificará.

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Muitas pessoas também relatam que, quando você se move dentro das câmaras anecoicas, os ossos fazem "creques". Além disso, é possível também perder o equilíbrio. Isso se dá pelo fato de que a falta absoluta de reverberação sabota a noção de espaço.

câmaras anecoicas
Imagem de Microsoft reproduzida de Fatos Desconhecidos

No vídeo a seguir, confira uma reportagem feita por Derek Muller, em seu canal Veritasium. O vlogueiro e PhD em engenharia física põe à prova o mito de que é impossível permanecer em câmaras anecoicas por mais de 45 minutos.

A influência das câmaras anecoicas na música

Ainda acerca da experiência de estar em uma sala dessas, um interessante relato é o do compositor norte-americano John Cage. Depois de visitar a câmara projetada por Harvey Sleeper e Leo Beranek, em Harvard (uma das primeiras do mundo), Cage relatou um pouco de sua experiência:

"Naquela sala silenciosa, ouvi dois sons, um alto e um baixo. Depois, perguntei ao engenheiro responsável por que, se a sala estava tão silenciosa, eu tinha ouvido dois sons. Ele disse: ‘O mais alto era seu sistema nervoso em operação. O mais baixo era seu sangue em circulação.'." - John Cage.

A experiência o influenciou a criar a famosa obra 4’33”, de 1952. Nele, o músico não toca nenhuma nota sequer, sendo que a ideia é encorajar a audiência a ouvir o "silêncio" do ambiente, assim como a profusão de sons implícitos que ele apresenta. Mais tarde, em seu livro "Silence", de 1961, o compositor de vanguarda atesta, de forma poética: "Por mais que tentemos fazer silêncio, não podemos… Até eu morrer haverá sons. E eles continuarão seguindo minha morte.".

câmaras anecoicas
Imagem reproduzida de Olá! Como estás

Salas de silêncio ao redor do mundo

Apesar de a sala de Harvard ter sido demolida em 1971, hoje existem vários outros exemplos ao redor do mundo. A câmara do Orfield Laboratories, por exemplo, bateu recordes como o lugar mais sonoramente isolado do mundo. A sala fica em Minneapolis (EUA), e é usada para testes de ruídos em válvulas cardíacas, displays de smartphones e outros aparelhos eletrônicos.

Além dela, também são famosas a Benefield Anechoic Facility, da aeronáutica estado-unidense, e a Compact Payload Test Range, na Holanda. Também vale mencionar as câmaras da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, e da Universidade de Salford, na Inglaterra.

Já pensou em desafiar seus sentidos e experimentar o silêncio absoluto em uma câmara anecoica? Conte para a gente na aba de comentários! 

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Fontes: Intelligent Sound Engineering; Brüel & Kjær; Veritasium; Orfield Labs; Concepção acústica.

Imagens: Todos os Créditos reservados aos respectivos proprietários (sem direitos autorais pretendidos). Caso eventualmente você se considere titular de direitos sobre algumas das imagens em questão, por favor entre em contato com contato@engenharia360.com para que possa ser atribuído o respectivo crédito ou providenciada a sua remoção, conforme o caso.

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Joachim Emidio Ribeiro Silva

Pesquisador, professor e artista. Colaborador do E360, difunde notícias e atualidades da Engenharia e todos os seus desdobramentos. É especialmente curioso sobre os campos de intersecção entre Engenharia e Música, como a Acústica e a Organologia. Atualmente é pós-graduando em Performance Musical pelo Instituto de Artes da UNESP, em São Paulo, SP.

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