Com a Pandemia do COVID-19, muitas relações humanas tiveram que ser ressignificadas e uma delas, certamente, foi a nossa relação com o nosso lar e o conceito de morar. A moradia, que para muitos era apenas um local para dormir, tornou-se agora seu lugar de trabalho, estudos, refeições e lazer, fazendo com que seus ambientes inevitavelmente sejam repensados.
Devido a essas necessidades, empresas e profissionais do ramo têm notado um crescimento em demandas de projetos, consultorias, reformas e até mesmo um processo migratório de pequenos apartamentos, em regiões centrais, para unidades com maior número de cômodos e espaços para lazer mais generosos, em bairros mais afastados. Outra crescente observada está nos índices de e-commerce de móveis, principalmente.
A movimentação do mercado imobiliário
A pandemia, sem dúvida, movimentou e muito a nossa vida. Mas, para alguns brasileiros, essa movimentação foi um pouco mais intensa. Portais imobiliários têm registrado alta na procura de casas e apartamentos mais amplos, com maior número de cômodos e que ofertam espaços para lazer. As casas, certamente, tornaram-se objeto de desejo de muitos, aumentando em média 30% a procura.
Tudo isso se deu pela necessidade de mais cômodos, para que seja possível organizar um escritório mais amplo e confortável para o “home office”, que é a nova realidade de muitos. Além disso, com a obrigação do isolamento e as opções de lazer fechadas, foram necessárias adaptações na residência para se obter algumas horas de descanso e relaxamento. Para crianças então, muito tempo confinadas em seus lares, sem contato com seus colegas de escola, ter onde gastar toda aquela energia acumulada - e com segurança - tornou-se imprescindível. Claro, para atender a todas essas necessidades, muitas dessas pessoas tiveram que abrir mão de algo que antes era de extrema importância: localização.
Essa mudança de comportamento levou a um movimento migratório para bairros mais afastados, longe de grandes centros ou de facilidades como comércio e transporte. Além de uma nova relação com o seu lar, as pessoas agora estão priorizando menos estarem próximas a seus trabalhos e locais de estudo e mais estarem distante de engarrafamentos, poluição e aglomerações. Nasce, assim, uma nova relação com os espaços urbanos.
O crescimento das reformas nos lares
O improviso repentino de espaços para trabalho e estudo, e até mesmo a falta de espaço para o lazer de adultos e crianças, motivou a necessidade de modificar ambientes nas residências e consequentemente cresceu a busca por profissionais do setor. Outro fator que fomentou esse aumento na procura foram as reformas que há tempos eram necessárias e sempre foram ignoradas, mas agora passaram a incomodar mais os moradores.
Segundo um aplicativo que auxilia na busca de prestadores de serviços, apenas nos dois primeiros meses de quarentena a procura por arquitetos subiu 112% e, mesmo que inicialmente tenha havido uma queda nas solicitações de serviço de obras, devido às proibições dessas atividades, os índices já registravam recuperação do mercado logo após liberado.
Além das reformas com profissionais, outro movimento crescente, impulsionado pelas redes sociais, é o de consultoria remota. Os especialistas orientam os clientes sobre como fazer suas mudanças. O famoso DIY (“do it yourself”- faça você mesmo), está fazendo a cabeça de muitos brasileiros que estão aproveitando o período de isolamento para botar a mão na massa. Somado a isso, o setor moveleiro de comércio online tem o que comemorar. Segundo dados da ABCOMM (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico), a segunda categoria que mais registrou alta esse ano foi a de Móveis, com 94,4% e faturamento de R$2,51 bilhões.
O poder do DIY
O DIY, do inglês “Do-It-Yourself”, ou numa tradução livre, “Faça-você-mesmo”, é uma cultura muito difundida em países como EUA e Inglaterra, que preconiza a fabricação, reparação ou modificação de alguma coisa por conta própria. É um conceito amplamente divulgado nas redes sociais atualmente, principalmente quando se trata de reformas no lar. Apesar de ser uma prática com forte apelo social, econômico e ambiental, além dessa ampla divulgação, o DIY não era uma muito difundido no Brasil, mas o movimento de empresas do ramo da construção, somado ao cenário atual, fez esse costume crescer nos últimos anos por aqui.
Muito além de apenas economizar ou de manter-se em isolamento, como no atual momento, o DIY, segundo pesquisadores, também é manifestado por outros motivos, tais como: políticos; individualidade; cultura; questionamento ao monopólio de conhecimento; estímulo ao aprendizado e realização de coisas apenas pelo prazer de desenvolver uma ideia; democratização de bens ou ambientes.
Como modificar os ambientes do seu lar?
Antes de falar sobre algumas dicas que você poderá pôr em prática em sua casa, gostaria que fizéssemos uma reflexão. Você é daquele tipo de pessoa que até furava o papel quando ia fazer seus “trabalhinhos da escola” com tinta guache? Eram tantas cores a serem colocadas no papel que não havia tempo para esperar secar! E seu álbum de figurinhas? Sempre que você ia colar uma, acreditava que estava certinha, retinha, e no meio pro final percebia que estava torto? Aí te dava aquele gatilho e você já sem paciência tentava removê-la, começando a rasgar, não restando mais alternativa, a não ser se render àquela situação e colar no lugar outra vez. No final, além de desalinhada, havia bolhas, marcas e talvez até aquele rasgadinho.
Se você se identificou com essas situações, pense bem antes de começar o DIY em seu lar. Algumas tarefas como pintura e aplicação de adesivo são verdadeiros exercícios de paciência. Além de. é claro, exigir determinadas habilidades e disciplina. Portanto contrate um profissional ou busque a orientação de um.
Se você está seguro de que pode arriscar uma veia artística em sua residência, antes de tudo, é importante lembrar que sempre deverá ser verificado com seu município se, para aquela reforma pretendida, há alguma exigência de licença ou alvará, além da necessidade de contratação de um responsável técnico. Não se esqueça também de comunicar e/ou solicitar autorização do seu síndico, no caso de condomínio, assim como do proprietário de sua residência, caso ela seja alugada. Vale ressaltar que, por uma questão de cordialidade e boa vizinhança, é importante conversar com seus vizinhos, principalmente se a reforma em questão gerará odores ou ruídos. Lembre-se estamos todos confinados, muitos com homeschool e/ou home office.
Além do básico, como pintura, mudança da localização dos móveis ou até mesmo substituição desses, atualmente no mercado existem diversas alternativas de reformas independentes e limpas para o lar. Aparecem com grande destaque em blogs e redes sociais adesivos simples e 3D, fôrmas para fabricação de tijolinhos de gesso, desenhos com fitas (mais comumente fita isolante), aplicação de tecidos em paredes e móveis, tintas para cerâmica, tintas para colorir e selar rejuntes, entre tantas outras opções que o comércio oferece.
Então, vamos às dicas:
- Pinturas e aplicações exigem preparo de superfície. Se ela possui muitas camadas de tinta, talvez seja importante a raspagem dessas e depois um nivelamento da área que, para o caso das paredes, deverá ser aplicada uma massa corrida. Lixar bem antes de passar selador, esperar cada camada secar antes de executar a próxima, seguindo as orientações do fabricante, e limpar toda a extensão antes da aplicação seguinte são fatores fundamentais para se obter um bom trabalho e evitar as temidas patologias. Não se esqueça de proteger cantos, metais, e outras regiões que não serão pintadas e que poderão acidentalmente se sujar;
- Ao aplicar adesivos, tecidos, ou placas 3D, tenha sempre níveis e/ou algum tipo de esquadro em mãos, essa será sua maior garantia de que sua peça não será fixada na parede incorretamente. Comece alinhando-as pelo teto e fique atento ao encaixe dos padrões, caso possua. Alguns adesivos tendem a ser fortes e, uma vez colados, são difíceis de tirar, danificando a superfície abaixo. Faça marcações antecipadamente caso se sinta mais seguro. Para o caso de adesivos e papéis de parede, tenha sempre em mãos algo que possa auxiliar na fixação, como um cartão de crédito ou régua de acrílico. Passe gentilmente sobre o papel ou adesivo, em movimentos descendentes, sempre atento à formação de bolhas;
- Sempre que for furar as paredes, busque plantas hidráulicas e elétricas. Caso tenha dificuldade de leitura, procure um profissional. Você poderá também perguntar a vizinhos, no caso de apartamentos, ou antigos moradores.
Boa sorte e bom trabalho!
Você acredita que essa novas relações com o lar permanecerão após a pandemia? Já tentou se aventurar em alguma reforma em casa? Conte pra gente!
Veja Também:
- Como a legislação interfere na hora de projetar e quais as consequências no setor imobiliário?
- Como projetar uma cidade num cenário pós-pandemia?
Referências: Mercado imobiliário, Reformas Internas, ABCOMM, DIY, DIY Exame