Diante de tantas crises (ambientais, políticas e sociais) que enfrentamos, a ideia de que a humanidade pode enfrentar, em breve, uma extinção em massa não parece nenhum absurdo. Isso tem sido pauta de várias discussões científicas e culturais. Inclusive, pesquisadores da Universidade de Southampton chegaram a sugerir armazenar o genoma humano completo em um cristal 5D, cogitando como preservar e restaurar a vida em caso de catástrofes futuras. O artigo a seguir, do Engenharia 360, explora as nuances dessa tecnologia e suas implicações. Confira!
O que seria um cristal de memória 5D
O cristal 5D citado neste texto é um dispositivo feito de quartzo fundido (um dos materiais mais resistentes tanto quimicamente quanto termicamente) desenvolvido pelo Centro de Pesquisa em Optoeletrônica (ORC) da Universidade de Southampton, na Inglaterra. O mesmo teria capacidade para armazenar até 360 terabytes de dados por bilhões de anos, incluindo de nanoestruturas celulares, além de resistir a condições extremas, como impactos de até 10 toneladas por centímetro quadrado, temperaturas superiores a 1000°C e radiação cósmica, permanecendo inalterado.
Essas características fazem do cristal 5D uma solução promissora para não apenas preservar informações humanas, mas também para restaurar organismos complexos no futuro.
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Como funcionaria o armazenamento em 5D
Antes de tudo, vamos lembrar como funcionavam os discos rígidos, fitas magnéticas ou DVDs. Eles armazenam dados em apenas uma superfície bidimensional. Mas os pesquisadores buscavam uma solução com propriedades físicas e ópticas em estrutura interna para distribuição em toda a sua massa. Assim surgiu a ideia do cristal de memória 5D!
Os cientistas ingleses explicam que, para armazenar dados em cristal 5D, seria preciso o uso de lasers ultra rápidos para criar, via emissão de pulsos, padrões microscópicos em sua estrutura interna - em duas ópticas e três espaciais. Esses padrões seriam rigorosamente controlados, permitindo a codificação de informações. Desse modo, os dados ficariam bem armazenados por um período estimado de 300 quintilhões de anos em condições normais de temperatura.
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Vale destacar que as informações em código ficariam gravadas no cristal 5D em cavidades com até 20 nanômetros de tamanho (sendo que 1 nanômetro equivale a 1 bilionésimo de metro). Para gravar o genoma humano completo seria necessário cerca de 150 milhões de pulsos de laser.
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O potencial do cristal 5D para restaurar a vida
Atualmente, não é possível criar seres humanos ou organismos complexos diretamente a partir das informações genéticas salvas. Então, se essa realidade está mudando é graças aos avanços na engenharia genética e biologia sintética - a exemplo da criação da primeira bactéria sintética, em 2010.
A perspectiva é que, mesmo que nossa civilização enfrente uma catástrofe ou extinção global, futuras gerações - talvez de civilizações alienígenas - possam acessar e decifrar o código genético humano via cristal de memória 5D, com informações visuais de como interpretá-lo, incluindo gráficos mostrando a estrutura molecular do DNA, os elementos químicos universais e as bases que formam a dupla hélice do genoma. É um jeito de garantir que nossa espécie não seja perdida para sempre!
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A saber, essa ideia de criação de "arquivo genético", de "cápsula do tempo" para restauração (ou recriação) da humanidade, foi inspirada nos discos dourados das sondas Voyager, da NASA.
O cristal 5D como um legado para o futuro
O cristal 5D desenvolvido pelos cientistas ingleses está hoje no Memory of Mankind, uma cápsula do tempo localizada em uma caverna de sal em Hallstatt, na Áustria. Este local foi escolhido estrategicamente para garantir a proteção e preservação do cristal ao longo dos milênios. E até que seja necessário, por lá ficará guardado.
Por hora, vale refletir sobre questões éticas envolvendo essas pesquisas de engenharia e biologia. Afinal, quais seriam os limites da ciência? Até onde devemos ir na busca pela restauração da vida? Quem ficaria responsável pela manipulação genética da vida terrena? Que impactos tudo isso pode causar sobre a biodiversidade atual?
Antes de concluir este, podemos considerar outros usos menos tristes para o cristal 5D, como o armazenamento de grandes volumes de dados históricos, obras literárias e teses científicas para compartilhamento de conhecimento para gerações futuras. Pense bem: assim como construímos bibliotecas no passado, esse novo invento pode ser a próxima grande revolução na preservação da informação.
Fontes: O Globo.
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Eduardo Mikail
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