Quem acha que a vida do pesquisador brasileiro está limitada às nossas fronteiras políticas ou a cubículos de bibliotecas, ou laboratórios, não imagina que temos equipes na porção mais sul do planeta: a Antártica. O Criosfera 1, módulo laboratorial latino-americano, foi reaberto em dezembro e está em operação. Trata-se de uma ação conjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto Nacional de Pesquisas Espacias (INPE) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e faz parte do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR).
O que é o Criosfera 1?
O Criosfera 1 é uma plataforma científica, autossustentável, inaugurada em 2012: o módulo laboratorial usa sol e energia eólica para suprir o necessário para seus equipamentos contendo também uma estação meteorológica operante durante o ano inteiro. Com esses atributos, o Criosfera 1 permite investigar interações entre as massas de ar antárticas e as do Brasil.
Os sensores do módulo
laboratorial também fornecem amostragem contínua de componentes químicos da
atmosfera. Em especial, dióxido de carbono (CO2),
nesse que é um dos locais mais isolados Terra, sugerindo sinais globais de
poluição. No Criosfera 1, também há um detector de raios cósmicos e sistema
coletor de aerossóis.
Pesquisadores brasileiros numa fria:
Nossos cientistas BR, nesta reabertura do Criosfera 1,
vivenciaram uma colônia de férias, por assim dizer, um tanto quanto inusitada.
No caso, os pesquisadores tiveram de ficar acampados sobre a neve nos arredores
do Criosfera, após enfrentarem fortes ventos responsáveis por uma sensação
térmica de -40º C. A equipe estava lá para dar um check nos equipamentos, dados
que alguns estavam na geladeira, com o perdão do trocadilho, há quase 12 meses.
O acampamento para ser realizada a manutenção anual consistiu de duas barracas para os pesquisadores e outras duas utilizadas como cozinha e banheiro. Dentro do Criosfera 1, somente estão os equipamentos científicos, computadores e ferramentas. A temperatura nas barracas oscila ente -8º C e -18º C, o que combina com a atmosfera natalina de alguns comerciais, mas não parece aquecer o coração.
Vale citar, como trivia, que não há freezer nas barracas e a
alimentação é normal, mas os congelados são deixados guardados na própria neve
antártica. Uma estufa, mantida por energia solar, derrete os congelados na hora
do preparo. Além disso, massas, arroz, cereais, queijo e, é claro, vinho mantém
a equipe em dieta hipercalórica, evitando hipotermia. Uma panela é mantida no
fogão continuamente derretendo neve, assim, provendo água, principalmente para
beber (desidratação e um perigo constante nas baixas temperaturas enfrentadas).
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A expedição permaneceu na Antártica
até 20 de dezembro.
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Kamila Jessie
Doutora em Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo (EESC/USP) e Mestre em Ciências pela mesma instituição; é formada em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) com período sanduíche na University of Ottawa, no Canadá; possui experiência em tratamentos físico-químicos de água e efluentes; atualmente, integra o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF) do Instituto de Física de São Carlos (USP), onde realiza estágio pós-doutoral no Biophotonics Lab.