Parece uma piada de mal gosto, mas é verdade. Infelizmente, o Brasil foi mais uma vez surpreendido com uma triste notícia, a intenção da União em vender o icônico Palácio Gustavo Capanema, localizado no Rio de Janeiro. O prédio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. Isso justifica as tantas manifestações de entidades de Arquitetura e Engenharia vistas nos últimos dias.
Se aproveitando do amparo da Lei 14.011, de 2020, que flexibiliza exigências para alienação de imóveis da União, o Governo Federal elaborou um cronograma de “feirões de imóveis” nas principais capitais brasileiras, com previsão para ser realizado no dia 27 de agosto de 2021. A princípio, o Palácio Capanema, que hoje passa por obras de restauração, não está na lista de vendas. Porém, a Secretaria Especial de Desestatização do Ministério da Economia admite que ele está apto a receber ofertas.
O que disseram os especialistas?
Especialistas em Arquitetura e Engenharia ficaram simplesmente chocados e indignados com a notícia, incluindo os parentes de seus idealizadores. Dentre estes, a filha do arquiteto Lucio Costa, que divulgou uma carta com o título “Inacreditável”. Além dela, também se manifestaram o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), o Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio (IAB-RJ) e outras oito associações e sociedades da classe que, juntas, assinaram um manifesto, sob o título "o MEC não pode ser vendido", contra a venda do imóvel.
Quando o edifício foi construído?
O edifício Gustavo Capanema foi construído de 1937 a 1945, ou seja, durante o período da 2ª Guerra Mundial; e foi inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas - três semanas antes de ser deposto do cargo. Seu projeto foi assinado por Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Machado Moreira, Ernani Vasconcellos e Carlos Leão, sob a supervisão do francês Le Corbusier, mestre da Arquitetura Moderna.
No início, o prédio foi usado como Ministério da Educação e Saúde Pública e, nos anos 70, Palácio Cultura, um símbolo nacional . Sua engenharia é marcada por linhas curvas e cores do modernismo brasileiro. Exibe uma caixa sobre pilotis elegantes, jardins de Burle Marx, escultura de Bruno Giorgi, e painéis de azulejos de Cândido Portinari. Inclusive, ao morrer, em 1962, Portinari foi velado no Capanema. Hoje, o Palácio é conhecido pelo sobrenome do seu idealizador, o ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema.
O que simboliza para a Arquitetura e Engenharia Mundial?
O Palácio Gustavo Capanema não é apenas admirado por artistas brasileiros, mas do mundo todo. No manifesto elaborado pelas entidades ele está descrito como "a primeira edificação monumental, destinada a sede de serviços públicos, planejada e executada no mundo, em estrita obediência aos princípios da moderna arquitetura”. A própria filha de Lucio Costa disse:
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“(...) foi um marco definitivo na consolidação da arquitetura moderna não apenas no Brasil, mas no mundo. Ignorar este fato é um atestado de ignorância que o Brasil não merece”.,
"(...)foi um marco definitivo na consolidação da arquitetura moderna não apenas no Brasil, mas no mundo.",
"Ignorar este fato é um atestado de ignorância que o Brasil não merece. Como afirma Lucio Costa num vídeo: 'Nós não somos medíocres, não temos vocação para a mediocridade',".
- Maria Elisa Costa.
Para especialistas em História da Arquitetura, a construção do palácio foi um divisor de águas na Arquitetura Brasileira. Foi o auge da inovação para o Brasil, seguindo tendência mundial na criação de arranha-céus sobre pilotis e com terraço-jardim. Chegou a ser considerado, em 1943, como o edifício mais avançado em construção no mundo pelo Museu de Arte Moderna de Nova York. Além disso, o próprio ex-presidente do IPHAN, Jayme Zette, considera o Capanema como "o primeiro prédio
moderno no mundo".
O Palácio Gustavo Capanema tem uma planta que faz bom aproveitamento natural da luz e da ventilação, símbolo do raciocínio ambiental. Dentro de seus ambientes estão algumas das lindas e valiosas obras de arte do nosso país, como o “Quadrilha”. Até mesmo o poeta Carlos Drummond de Andrade trabalhou no local. Não é a toa que, até hoje, tantos profissionais dentro de fora do Brasil se debruçam para entenderem, estudarem e se inspirarem no conjunto. Realmente, é lamentável que tantos desconheçam e desmereçam essa história!
Fontes: O Globo, O Globo 2, Jornal O Dia, Folha de São Paulo.
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Eduardo Mikail
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