No dia 3 de junho de 2021, foi amplamente noticiado o acidente ocorrido em uma construção irregular localizada em Rio das Pedras, no Rio de Janeiro. Infelizmente, essa queda de edifício, foi mais um caso que alerta para os problemas históricos na construção civil brasileira. Atualmente, no país, são milhões de obras na mesma situação - com projeto inexistente, locais sem fiscalização onde são construídas edificações sem os devidos alvarás e erguidas sobre áreas em situação de risco. Nesta matéria, vamos destacar alguns pontos que devem ser considerados caso se deseje resolver problemas sistêmicos assim!
Como ocorreu a queda de um edifício no Rio?
Sobre essa queda de edifício no Rio de Janeiro, vizinhos relataram que ouviram as esquadrias estourando momentos antes do evento. Também ouviram estalos. Os mesmos, muito provavelmente, devem ter sido oriundos da ruptura de vigas ou pilares, ou seja, rupturas locais e, na sequência, a ruptura total.
Esse acidente custou a vida de um pai e uma filha, enquanto a mãe foi levada em estado grave para a UTI de um hospital. Certamente a sociedade na totalidade não deseja que uma história semelhante se repita. Dessa forma, se faz necessário discutir urgentemente caminhos que possam encaminhar soluções!
Como ocorrem as rupturas estruturais?
Sobre o mecanismo de ruptura, de forma resumida, pode ser entendido da seguinte maneira: sobrecarga atuante maior que as resistências dos elementos estruturais, causando rupturas locais que seguem em efeito-cascata e acabam por colapsar a estrutura na totalidade, levando à queda de edifício.
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A saber, fator de segurança é a relação entre as cargas resistentes e as cargas aplicadas. Mas quantas são as residências que podem apresentar fator de segurança menor que 1? O que fazer efetivamente? É possível regularizar e aproveitar as boas construções? E nas casas condenadas, onde essas famílias vão ir morar? São perguntas importantes para a obtenção de um "mapa" com a identificação do problema e ações voltadas à solução das questões levantadas!
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Será que esse tipo de construção é mais comum do que se imagina?
Sim, muitas famílias na periferia de São Paulo e em tantas outras regiões do país vivem em habitações que podem estar em situação irregular e/ou de perigo. É importante diferenciar essas condições, visto que:
- para as habitações em perigo, é preciso dar a prioridade de remoção,
- ao passo que, para as habitações irregulares, precisa-se apenas de uma validação do projeto e adequada regularização junto à prefeitura.
Nessas construções irregulares - como pode ser no caso dessa queda de edifício no Rio -, os proprietários possuem baixa renda e vão construindo gradualmente: primeiro um pavimento, depois o superior e assim até um 3º ou 4º pavimento e além. E, muitas vezes, o objetivo é familiar, ou seja, os filhos que vão casando já têm uma casa. Outra possibilidade é a locação desses imóveis para uma renda passiva vinda de aluguéis.
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E o que se pode fazer a respeito?
A solução, portanto, não é simplesmente sair demolindo casas. Muito pelo contrário: deve-se, antes, buscar validar as casas que estão bem construídas. Essa validação seria fornecida por um engenheiro experiente nessa área. Ele também deve ser capaz de identificar as casas que estão numa situação mais crítica.
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Para isso funcionar, tal solução deveria "andar de mãos dadas" com políticas públicas adequadas, identificando novas casas para as quais os moradores em situação de risco seriam encaminhados. De preferência, com fácil acesso a um transporte público adequado.
Existe, portanto, uma necessidade de se cumprir uma espécie de roteiro para o encaminhamento das seguintes soluções:
- avaliação dos imóveis por perito experiente e apresentar um laudo com classificação quanto ao risco;
- incentivo a programas habitacionais;
- mapeamento da situação para identificar prioridades;
- classificar imóveis com "baixo risco", imediatamente tomam as providências para regularização do imóvel;
- imóveis em processo de regularização e que devem ter o seu projeto As Built em plataforma BIM - de preferência, em um modelo paramétrico 3D construído no Revit;
- imóveis de "alto risco" e que devem ter plano de evacuação e encaminhamento das famílias para novas casas;
- por fim, imóveis de "alto risco" e que devem ter plano de reforço provisório, de modo a evitar uma possível ruptura. E então, tomar a decisão de reforçar definitivamente se possível, senão, traçar um plano de demolição, garantindo a segurança dos imóveis adjacentes.
Conclusão sobre a queda de edifício
É importante considerar que muitos imóveis construídos no Brasil, embora não apresentem projeto ou qualquer documentação técnica referente à sua construção, podem ter sido construídos por mestres-de-obras experientes e, portanto, com qualidade na execução. Todavia, outros não!
Portanto, para dizer se um imóvel está em risco, seria necessária a consulta de opinião de um engenheiro com experiência, capaz de realizar esse mapeamento - que deverá ser o ponto de partida para uma solução adequada.
A população não deve temer ter que deixar seus lares. Tampouco, ter dúvidas em relação à segurança de onde vivem. É absolutamente possível, de forma inteligente e coordenada, garantir a segurança através de uma engenharia bem articulada e com um plano de execução nas mãos.
Fontes: CNN Brasil, Jornal El Pais, R7.
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Cristiano Oliveira da Silva
Engenheiro Civil; formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; com conhecimentos em 'BIM Manager at OEC'; promove palestras com foco em Capacitação e Disseminação de BIM / Soft Skills.