Diante da guerra comercial com os Estados Unidos, a China vem adotando estratégias para assegurar a sua indústria de semicondutores. Foi divulgado recentemente que o país está se preparando para lançar um projeto inovador de construção de uma mega fonte de luz ultravioleta extremo (UVE), utilizando um acelerador de partículas. A mesma seria capaz de substituir equipamentos de fotolitografia mais avançados do mundo – que, aliás, são hoje monopolizados por empresas ocidentais.

luz ultravioleta extremo (UVE) e a fabricação de chips avançados
Instalações High Energy Photon Source (HEPS) – Imagem de IHEP reproduzida de physicsworld

Agora, vale destacar que, diferente do famoso projeto americano “Manhattan”, que visava criação de armas nucleares durante a Segunda Guerra Mundial, este projeto visa estimular a produção de chips avançados, essenciais para a atual economia digital. Segundo os idealizadores da iniciativa chinesa, a ideia é conseguir bater de frente com os maiores players globais do setor, incluindo a Coreia do Sul e Taiwan. Conversamos mais sobre o assunto no artigo a seguir, do Engenharia 360!

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O que é tecnologia de luz UVE e por que ela é tão importante?

Atualmente, nossa sociedade depende demais da utilização de equipamentos como smartphones e computadores com Inteligência Artificial. Esses por sua vez exigem bastante técnicas de precisão extrema para funcionar. E hoje, a saber, o que os cientistas têm disponível para gravação de circuitos minúsculos em placas de Silício são os feixes de luz ultravioleta (com comprimento de ondas de apenas 13,5 nanômetros). Inclusive, quanto mais avançada e precisa for a luz utilizada, menores e mais eficientes podem ser os transistores e componentes dos chips fabricados.

luz ultravioleta extremo (UVE) e a fabricação de chips avançados
Imagem de kjpargeter em Freepik

Acontece que, por hora, a única fornecedora global de equipamentos processadores desses feixes é a empresa holandesa ASML. Até agora, isso não era necessariamente um problema para a China. Porém, as recentes sanções impostas pelos Estados Unidos às empresas de tecnologia do país, que provocaram uma reviravolta também no mercado europeu, acabaram limitando o acesso à tecnologia de ponta, forçando os chineses a buscar soluções independentes.

A estratégia chinesa

É claro que, mesmo diante desses bloqueios tecnológicos, era impossível deter o avanço chinês. O país adotou uma nova abordagem bastante ousada de utilizar um acelerador de partículas para gerar a luz ultravioleta (potente e estável) necessária  para alimentar as fábricas de semicondutores. O equipamento em questão é o High Energy Photon Source (HEPS), um sincrotron localizado em Pequim. Ele é capaz de gerar radiação eletromagnética em diferentes comprimentos de onda e pode ser usado também em pesquisas científicas em física e biologia. 

luz ultravioleta extremo (UVE) e a fabricação de chips avançados
Instalações High Energy Photon Source (HEPS) – Imagem de IHEP reproduzida de physicsworld

Então, resumindo, o plano é que esse acelerador de partículas funcione como uma usina de luz UVE, fornecendo energia luminosa para múltiplas linhas de produção de chips. A expectativa é que isso revolucione a cadeia produtiva chinesa e reduza drasticamente a dependência de equipamentos estrangeiros.

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Quais as consequências se a China liderar a próxima Revolução dos chips?

Em 2024, vazaram imagens na Internet mostrando um protótipo de máquina de litografia UVE totalmente desenvolvida na China, dentro das instalações da Huawei em Dongguan; e ainda vale lembrar do lançamento da inteligência DeepSeek. Por isso, os especialistas de mercado concluíram que o país está muito próximo de dominar recursos críticos e dar um salto tecnológico como ninguém imagina. Inclusive, é provável que ela possa liderar a próxima revolução dos chips, causando uma disrupção da economia global.

luz ultravioleta extremo (UVE) e a fabricação de chips avançados
Imagem de Freepik

Ou seja, se a China conseguir operacionalizar sua mega fonte de luz ultravioleta e integrar essa tecnologia à produção em massa de chips avançados, o equilíbrio de poder na indústria pode mudar. Haverá uma soberania tecnológica chinesa, reduzindo vulnerabilidades em cadeias de suprimentos e aumentando sua influência geopolítica. Então, será que os Estados Unidos estão mesmo preparados para tal competição? Como será que serão ajustadas as políticas de exportação neste novo cenário? Será que surgiram novas oportunidades para mercados emergentes que buscam chips mais acessíveis?

Por hora, a única coisa que podemos concluir é que, se a China conseguir produzir chips tão avançados assim – ainda mais de forma autônoma – isso afetará diretamente em todos os países setores estratégicos como de defesa, Inteligência Artificial, telecomunicações e automação industrial.

Quais as perspectivas para o Futuro da indústria de semicondutores?

Será mesmo que a China só tomou essa decisão de desenvolver uma máquina de fotolitografia de ultravioleta extremo mediante a taxação dos Estados Unidos? É provável que não! Afinal, a própria ASML levou mais de 20 anos para aperfeiçoar as suas máquinas. Certamente o país já vinha prevendo retaliações dos americanos e também o crescimento econômico e tecnológico de nações como Japão e Coreia.

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Não se sabe ainda muito bem o que a China já conquistou nesse setor de semicondutores. Por exemplo, existe o desafio de criar um sistema integrado que combine a fonte de luz ultravioleta gerada pelo acelerador de partículas com lentes e sistemas ópticos capazes de projetar padrões com precisão atômica sobre o silício, o que exige avanços em materiais, engenharia óptica, controle de precisão e fabricação em escala. Ainda é preciso provar que os processos adotados podem alcançar níveis diferentes de miniaturização do circuito.

Portanto, o processo de experimentação para produção comercial ainda pode estar longe de ser concluído, mas quando isso finalmente acontecer, a China poderá acelerar a produção de chips de última geração, incluindo aqueles utilizados em sistemas de IA, 5G, automação e computação de alto desempenho. Daí, neste momento, as empresas ocidentais precisarão intensificar seus esforços se quiserem manter sua liderança tecnológica, enquanto o governo terão que repensar políticas de segurança e comércio.

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Fontes: Terra, Click Petróleo e Gás.

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