Estamos vivendo uma grave crise climática, mas muitas pessoas parecem não ter acordado ainda para a situação. Vez ou outra, por conta das catástrofes naturais, a população se pergunta sobre o que está acontecendo. Fato é que as consequências estão visíveis em todas as regiões do planeta, explicam melhor do que qualquer fala de cientista sobre o que são as mudanças climáticas. Começando pelo derretimento do gelo do Ártico, que vem afetando a fauna e flora local, além de contribuir para o aumento do nível do mar.
Em meio a tudo isso, uma startup britânica Real Ice lançou uma proposta bastante controversa para reverter o processo de degelo. Ao invés de ações para mitigação dos efeitos do aquecimento global, ela propôs, para restauração de áreas extintas, usar bombas submersíveis para engrossar o gelo marinho. Essa ideia divide muito opiniões e levanta questões sobre sua viabilidade e potenciais impactos. Vamos explorar, neste artigo do Engenharia 360, a história por trás dessa iniciativa audaciosa, os testes preliminares e todas as críticas enfrentadas.
A crise do gelo marinho e o aquecimento global
Desde os anos 1980, os cientistas têm monitorado o Ártico e perceberam que o gelo marinho tem diminuído drasticamente. Pode parecer pouca coisa, mas sua espessura caiu em até 95%. Chegamos ao ponto de já saber que até a década de 2030 teremos verão sem gelo no Polo Norte do planeta. A perspectiva é de ciclos de extremo calor e um aumento expressivo no aquecimento global. Ou seja, a perspectiva é de um cenário desolador!
Mas o que explica tudo isso? Bem, a Terra consegue, com seus polos gelados, através dessas superfícies brancas, refletir a luz do Sul e se manter sua temperatura equilibrada. Então, se o gelo superficial derreter, o oceano escuro abaixo é que precisará absorver todo o calor, intensificando o aquecimento global. E as consequências são devastadoras para o crime e o meio ambiente.
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A proposta de geoengenharia da Real Ice
A Real Ice está propondo um novo modelo de enfrentamento de derretimento do gelo marinho no Ártico. A ideia é se valer de uma abordagem de geoengenharia para manipular o ambiente. Envolve instalar bombas submersíveis sob o gelo para “puxar” água do mar para superfície para que ela congele e aumente a espessura do gelo existente. Traduzindo, remover a neve “fraca” que atua como isolante e criar uma cama extra de gelo mais “robusto”, garantindo assim a restauração da região.
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Para provar que essa teoria deveria ser considerada, a Real Ice iniciou em 2023 testes em Cambridge Bay, no Ártico canadense. Seus cientistas conseguiram, seguindo o passo a passo, cobrir com gelo uma área de 4 mil metros quadrados. E a expectativa da startup é aumentar em mais 40 centímetros esse ganho em algumas áreas, trabalhando com a meta de cerca de 1,5 milhão de quilômetros quadrados, retardando o derretimento do gelo nos meses de verão.
Tecnologias complementares
Para colocar seu projeto em prática, a Real Ice conta com outras tecnologias avançadas. Por exemplo, a automação de drones subaquáticos de 2 metros de comprimento alimentados por hidrogênio verde. Cada dispositivo seria cuidadosamente posicionado para evitar impactos negativos sobre rotas de migração de animais ou rotas marítimas. Sua função seria perfurar o gelo e derreter buracos com brocas aquecidas.
Mas confere os cálculos! Seria preciso cerca de 500 mil drones em operação em larga escala para dar conta do recado em uma área de 1,5 milhão de quilômetros quadrados. Diante desse número, os especialistas calculam um investimento mínimo necessário em US$ 5 bilhões ou US$ 6 bilhões. Seria preciso fazer negociações com bancos e outras instituições privadas para aprovação de financiamento que viabilizassem o projeto.
A aposta da Real Ice é que, no futuro, fundos globais e até governos também fiquem interessados em colaborar através de "créditos de resfriamento", onde poluidores pagariam pela compensação das suas emissões através do congelamento adicional do gelo. Será mesmo? Será que o ser humano está interessado em abrir a carteira para salvar o mundo, para salvar sua vida?
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O que dizem os cientistas sobre o caso
Atualmente, os cientistas têm muitas dúvidas sobre a eficácia desse projeto em longo prazo. Jennifer Francis, do Woodwell Climate Research Center, chegou a dizer, em entrevistas que, embora o gelo ao redor das bombas fique mais espesso e brilhante, não está claro se esse processo poderia ser suficiente para reverter o derretimento generalizado do gelo marinho.
Outros cientistas também concordam que esse “cultivo” de gelo marinho não seria suficiente para combater a crise global, até mesmo desviando a atenção aos esforços necessários para o enfrentamento das mudanças climáticas, como a diminuição da dependência contínua dos combustíveis fósseis. Outros avaliam que a escalabilidade da solução é extremamente questionável diante dos óbvios impactos ecológicos da presença humana sem precedentes no Ártico, manipulando ecossistemas tão vulneráveis. Afinal, como fica a questão da responsabilidade ambiental?
Fato é que estamos nos esforçando para nadar contra a maré. Infelizmente, nenhuma tecnologia pode substituir ações concretas para redução das emissões globais de gases de efeito estufa. E é compreensível a desconfiança dos cientistas sobre o caso, já que a geoengenharia polar sempre foi um campo altamente experimental e controverso. Não quer dizer que a proposta da Real Ice seja inválida, só que ela não pode ser vista como substituta de políticas efetivas contra mudanças climáticas.
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Fontes: CNN Brasil, Exame,
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Eduardo Mikail
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