Um dos fenômenos mais intrigantes da engenharia são os rastros brancos deixados pelos aviões no céu. Isso é chamado pelos cientistas de 'trilhas de condensação' ou 'contrail' (do inglês "condensation trails"), uma manifestação física que vai muito além dos que os nossos olhos podem captar. No artigo a seguir, do Engenharia 360, vamos explorar como acontece a formação, quais as implicações climáticas e controvérsias envolvidas nesses rastros. Confira com atenção!
O que são os rastros brancos de aviões
Os rastros brancos visíveis saindo da parte de trás das aeronaves são, na verdade, como nuvens formadas pela condensação do vapor de água - que pode se estender por longas distâncias no céu. Eles aparecem quando um avião voa em altitudes elevadas, geralmente acima dos 8 mil metros, onde as temperaturas são bem baixas (algo em torno de - 40 °C). Acontece que, nesses ambientes frios, o vapor de água liberado pelos motores (que costumam operar a mais de 300 °C) se resfria rapidamente e se transforma em pequenas gotas de água ou cristais de gelo.
Então, podemos resumir a formação dos rastros em um processo físico que envolve três fatores principais:
- Vapor d'água: Produzido pela combustão do combustível nos motores.
- Temperatura fria: Necessária para que o vapor se condense em forma de gelo.
- Partículas para nucleação: O vapor d'água precisa de superfícies sobre as quais possa se condensar; essas superfícies geralmente vêm das partículas de fuligem emitidas pelos motores.
Vale destacar que as finas nuvens resultantes desse fenômeno podem, no fim das contas, ter diferentes durações e formas, dependendo da umidade e da temperatura atmosférica. Quando há mais umidade e as temperaturas estão mais frias, os rastros são longos e duradouros; enquanto rastros curtos e efêmeros são comuns em situações de menos unidades e mais calor.
Quando começou a observação de rastros brancos
Os historiadores relatam que os primeiros registros de rastros de condensação datam do período da Primeira Guerra Mundial. Isso aconteceu em 1919, durante o voo de uma aeronave sobre Munique, a uma altitude de cerca de 9.200 metros. Depois desse evento, os aviões começaram a alcançar altitudes cada vez maiores - principalmente com a expansão da aviação comercial -, possibilitando mais facilmente a observação do fenômeno.
Teorias da conspiração
Com o passar dos anos, muitas pessoas começaram a inventar histórias sobre o que poderiam ser esses rastros brancos no céu. Alguns chegaram a afirmar que se tratavam de produtos químicos despejados intencionalmente pelos governos para infectar a população, por exemplo. Mas é importante dizer que todas essas histórias não passam de boatos, sem fundamentos científicos - por isso, amplamente desacreditados pela comunidade acadêmica.
Por outro lado, estudos recentes indicam que as nuvens formadas por esses rastros podem ter um efeito significativo sobre o clima da Terra. Em 2011, foi publicado um estudo na revista International Journal of Climatology que revelava dados sobre mudanças no clima por conta dos rastros de aviões durante a Segunda Guerra Mundial. Foi descoberto que, em datas específicas com um grande número de voos, houve variações significativas de temperatura.
O impacto dos rastos de aviões no clima
Recentemente, o Instituto de Física Atmosférica do Centro Aeroespacial Alemão (DLR) divulgou o seu próprio estudo sobre os rastros de aviões, revelando que, até 2050, o impacto desse fenômeno no clima pode triplicar. As pesquisadoras Ulrike Burkhardt e Lisa Bock descobriram que essas nuvens podem "prender" calor na atmosfera da Terra, contribuindo para o aquecimento global. Então, estamos diante de uma situação série e complexa.
Já existe um grande esforço na engenharia para reduzir as emissões de carbono na aviação - a exemplo do uso do SAF. Porém, a questão dos rastros é frequentemente negligenciada nos modelos de compensação, o que é um erro grave. Os rastros se formam sob condições variáveis e podem desaparecer rapidamente; no entanto, quando duradouros, podem cobrir grandes áreas e alterar a forma como a Terra absorve a radiação solar. Durante o dia, refletem a luz de volta ao espaço; mas, durante a noite ou em condições específicas, retêm o calor.
Comparação com emissões de CO2
Olha que interessante, hoje em dia cerca de 5% do aquecimento global por atividade humanas vem do tráfego aéreo - e é claro que os rastros representam uma parte significativa dessa contribuição. Isso é uma estimativa, pois, na verdade, o impacto das trilhas de condensação é mais difícil de quantificar do que as emissões de CO2 contabilizadas de forma direta. Porém, para se ter uma ideia, alguns estudiosos acreditam que o impacto pode superar as emissões geradas pela aviação desde seu início.
As possíveis soluções para mitigar os impactos
Para mitigar o impacto ambiental dos rastros de aviões, tem várias abordagens que já foram consideradas.
Começando pelo desenvolvimento de aeronaves com engenharia mais eficiente, capaz de reduzir a quantidade de partículas de fuligem emitidas pelos motores e a formação de cristais de gelo nos rastros. Também redirecionar os voos para evitar regiões mais suscetíveis à formação de rastros; no entanto, isso precisa ser bem avaliado para evitar aumentar o consumo de combustível e, consequentemente, as emissões de CO2.
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