Engenharia 360

O que a impressora 3D e o PC têm em comum?

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por Vinicius Licks
| 04/02/2015 | Atualizado em 04/12/2022 4 min

O que a impressora 3D e o PC têm em comum?

por Vinicius Licks | 04/02/2015 | Atualizado em 04/12/2022
Engenharia 360
“Bom dia, professor. Chegou uma encomenda aqui para o senhor.” Finalmente chegara a caixa que eu tanto esperava. Depois de mais de um mês de espera e desembaraços alfandegários, lá estava ela: a minha primeira impressora 3D. Tirei da caixa, liguei na tomada e menos de uma hora depois ela já estava lá imprimindo, em plástico azul, uma engrenagem. Depois de pronta, levei-a, todo orgulhoso, para meu colega, especialista em processo de fabricação. Ele pegou a engrenagem azul na mão, olhou rapidamente e saiu disparando perguntas. “Quanto tempo levou para imprimir? Qual a precisão? Dá para imprimir em metal?” Depois de ouvir minhas respostas, ele deu um sorriso amarelo e disparou: “Super bacana mas é brinquedo de criança essa sua impressora 3D; prefiro meu torno!”
3d
Foto: Reprodução FAB LAB SP.

Confesso que a cena me lembrou da primeira vez que chegou um PC no escritório do pai de um amigo meu, lá se vão uns trinta anos. Ele e um colega, ambos contadores, levaram menos de uma hora entre tirá-lo da caixa e digitar a primeira fórmula em uma planilha eletrônica, maravilhados em frente à tela verde. Mas nem tudo era perfeito: o PC levava tempo para rodar a folha de pagamentos da empresa, a planilha tinha limite de linhas, os disquetes davam problema. Ou seja, no começo, os PCs eram lentos, não muito precisos e não faziam tudo o que o usuário queria. Só quem os utilizava eram pessoas que não podiam ter acesso aos caríssimos supercomputadores e que não se importavam com estas limitações.  Hoje em dia, esses problemas são coisa do passado e a capacidade de processamento dos computadores pessoais supera, em muito, a necessidade da grande maioria dos usuários.

Esse mesmo fenômeno, conhecido como inovação disruptiva, aconteceu em inúmeros outros mercados, das mini-mills (usinas siderúrgicas que utilizam aciarias elétricas e têm a sucata como matéria-prima ) às câmeras digitais. Com o passar do tempo, esses produtos que inicialmente não eram lá grande coisa e que somente eram adotados nas margens dos mercados, acabaram crescendo rapidamente e tomando conta dos grandes mercados, desalojando os seus predecessores. Isso aconteceu com o PC, que deixaram para trás os supercomputadores, com as câmeras digitais, que deixaram no esquecimento as câmeras que utilizam filmes e com as mini-mills, que tomaram um boa parte do mercado das siderúrgicas integradas. Se você quiser saber mais sobre as inovações disruptivas, leia os livros de um professor de Harvard chamado Clayton Christensen.

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O que a impressora 3D e o PC têm em comum?
Foto: Insper.

Outro exemplo de inovação disruptiva: as impressoras 3D que se tornaram populares recentemente e que utilizam a tecnologia de extrusão plástica conhecida como FDM (fused deposition modeling). Elas são apenas a ponta do iceberg. As primeiras tecnologias de manufatura aditiva estão entre nós desde os anos 80. Em 1984, Chuck Hull, o engenheiro que fundou a 3D Systems Corporation, inventou um processo chamado de estereolitografia no qual camadas de material polimérico eram curadas utilizando lasers ultravioleta. A partir daí, a tecnologia só tem evoluído. A manufatura aditiva já trabalha com metais desde a década de 1980, com os processos de sinterização seletiva como o SLS (Selective Laser Sintering) e o DMLS (direct metal laser sintering).

As indústrias aeroespacial e de próteses médicas estão entre os primeiros usuários destas tecnologias em escala industrial. As normas técnicas internacionais também estão sendo desenvolvidas, como por exemplo a norma ASTM F2792-10 que define a terminologia padrão para as tecnologias de manufatura aditiva.

Para entender melhor como funciona uma impressora 3D, veja no vídeo abaixo um projeto feito no Insper Fab Lab.

A manufatura aditiva é um caso típico de inovação disruptiva que surgiu em mercados periféricos como um produto marginal e que, pouco a pouco, se aproxima das aplicações mainstream da indústria. Ela traz consigo inovações em processos de fabricação mas não para por aí. Ela também traz grandes mudanças ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos, começando com a metodologia que hoje empregamos para projetá-los. Quem insistir em considerar a impressão 3D como brinquedo de criança (assim como quem achava isto sobre o PC) ficará para trás.

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Em função destas mudanças metodológicas do projeto de produto, é fundamental que o Engenheiro se capacite no emprego dos processos de fabricação que utilizam a manufatura aditiva. São poucas as instituições de ensino brasileiras que oferecem alternativas para a formação no tema. Uma destas instituições é o Insper, em São Paulo, que conta com um laboratório de fabricação digital, o Insper Fab Lab, e que periodicamente oferece atividades voltadas ao assunto.

A partir de 05 de fevereiro, é possível conhecer o Insper Fab Lab todas as quintas-feiras. O funcionamento do laboratório é das 12h30 às 21h00. Lourenço é o guru do Fab Lab e responsável por conduzir as visitas programadas. Para participar das visitas, ver de perto este e outros projetos, inscreva-se e venha nos conhecer.

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