Engenharia 360

O papel da engenharia no rompimento da barragem de Mariana, um ano depois (PARTE 2)

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por Larissa Fereguetti
| 21/11/2016 | Atualizado em 11/05/2022 4 min

O papel da engenharia no rompimento da barragem de Mariana, um ano depois (PARTE 2)

por Larissa Fereguetti | 21/11/2016 | Atualizado em 11/05/2022
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Um ano se passou após o rompimento da barragem que caracterizou o maior desastre ambiental do Brasil. Na parte 1 do texto, nós explicamos o que foi o acidente e quais as consequências imediatas dele. Nesta parte, vamos falar sobre os impactos que ainda persistem, além de abordar o que está sendo feito para a sua recuperação.


+ Leia também: O papel da engenharia no rompimento da barragem de Mariana, um ano depois (PARTE 1)


Imagem: oglobo.globo.com

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No total, estima-se que mais de 11 mil pessoas foram prejudicadas com o rompimento da barragem. A geração de energia, a atividade industrial, a agropecuária, a pesca e o turismo também foram impactados.

Quando a barragem rompeu, as análises de água demonstraram que havia altos níveis de contaminação, baixo oxigênio e presença de metais em um nível acima do permitido (ferro, alumínio, manganês, arsênio, cádmio, chumbo, cromo, mercúrio, níquel e cobre). A água amostrada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Governador Valadares, cidade abastecida pelo Rio Doce, demonstrou que os índices de ferro estavam muito acima do recomendado para tratamento, assim como os níveis de manganês.

Imagem: fotospublicas.com

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Em um ano, a situação não melhorou muito. A ONG SOS Mata Atlântica percorreu o Rio Doce para analisar a situação atual da água. A qualidade foi considerada imprópria para consumo em 14 dos 17 pontos analisados. Próximo ao local da barragem de Fundão, que rompeu ano passado, o nível de oxigênio medido pela ONG foi zero. O oxigênio dissolvido é um dos principais indicadores da qualidade de água e é imprescindível para o desenvolvimento da vida aquática.

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Outro parâmetro analisado foi a turbidez, que mede a dificuldade de um feixe de luz para atravessar a água (quanto mais sólidos suspensos e coloidais, mais difícil passar a luz, a qual é essencial para a fotossíntese). A medição de turbidez em alguns pontos registrou valores 10 vezes acima do limite, que é de 100 UNT (unidade nefelométrica de turbidez). No entanto, esses valores ainda são menores que os medidos um mês após o rompimento da barragem, nos quais a turbidez estava 50 vezes maior que o permitido.

Imagem: g1.globo.com

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Normalmente, quanto pior a qualidade da água, maior o gasto com tratamento. Embora a água do Rio Doce seja tratada antes de abastecer a população, os moradores ainda desconfiam da qualidade. A situação piora com a chegada da chuva, que pode carregar todo o material que ficou para trás para dentro do rio. Para evitar isso, a Samarco está construindo diques de contenção, mas as obras estão atrasadas.

Embora degradado em alguns pontos, o Doce era considerado um rio com alta capacidade de recuperação após sofrer alterações (alta resiliência). Porém, essa característica não foi suficiente para resistir à quantidade de lama que recebeu, de forma que sua recuperação deve ser lenta, necessitando de tempo e intervenções periódicas, com a possibilidade de nunca retornar ao estado anterior.

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Com relação à população, as casas continuam destruídas e ninguém pode voltar para Bento Rodrigues devido ao alto risco da área. Os moradores foram alocados em novas residências, nas proximidades de Mariana, e aguardam a construção do novo Bento Rodrigues, em um lugar já escolhido por votação. Porém, o que aconteceu durante o rompimento da barragem e os bens materiais e imateriais perdidos estão registrados na memória da população e jamais serão esquecidos.

Imagem: especiais.g1.globo.com

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De acordo com os princípios do direito ambiental, o meio ambiente não pode esperar para ser reparado, de forma que, independentemente de quem seja o culpado, é necessário iniciar a recuperação o mais rápido possível. No caso de Mariana, as ações de recuperação ainda estão em curso e devem perdurar por um bom tempo.

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br

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Como foi dito no primeiro texto, nós, engenheiros e futuros engenheiros, sabemos que há sempre um risco associado a um projeto e devemos trabalhar para minimizá-lo. Se, infelizmente, a tragédia acontece, como foi o caso do rompimento da barragem de Fundão, os engenheiros devem voltar à cena para tentar minimizar os impactos e reparar os danos causados. Durante o ano que passou, engenheiros de todos os tipos trabalharam em grupos com outros profissionais para providenciar ações como: a dragagem das barragens das hidrelétricas, o planejamento do abastecimento de água e energia, a escolha do tratamento de água adequado, o remanejamento de pessoas, a restauração do ecossistema do Rio Doce, a previsão de impactos de longo prazo e outras.

Assim, para evitar situações como essa, cabe a cada um de nós fazer tudo de maneira correta e saber que segurança não é um gasto, é um investimento. Que esse exemplo de desastre ambiental fique como uma lição que nunca deve ser repetida, nem mesmo esquecida..

Referências: G1[1][2], Ibama, O Tempo, R7, SIGRH.

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Larissa Fereguetti

Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.

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