Engenharia 360

9 motivos pelos quais as obras atrasam no Brasil

Engenharia 360
por Matheus Martins
| 28/01/2020 | Atualizado em 11/05/2022 5 min

9 motivos pelos quais as obras atrasam no Brasil

por Matheus Martins | 28/01/2020 | Atualizado em 11/05/2022
Engenharia 360

Quando pensamos em obras, eventualmente surgem vários aspectos a serem considerados. Um destes é o prazo de entrega. Sempre existe um receio em relação a este cumprimento. Este receio ocorre devido a um histórico de atrasos em obras no Brasil.

Histórico de atraso brasileiro

Existe um histórico que não nos deixa otimista em relação ao prazo em obras. Podemos citar uma pesquisa realizada pela ONG Transparência Brasil, que mapeou obras de colégios e creches com atrasos no país. Na pesquisa em questão, ao analisar dados de 12.925 obras de escolas e creches públicas da rede municipal de todo o país constatou-se que, após 10 anos de funcionamento dos programas do Governo Federal, apenas 37% das obras foram efetivamente entregues.

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No entanto, há de se ponderar situações distintas em relação
ao domínio desses empreendimentos.

Imagem de obra de edifícios em andamento, com três guindastes e céu azul ao fundo
Imagem: proativaplanejamento

É preciso separar o domínio das obras para analisarmos com
maior precisão. O domínio pode ser: público, privado ou público-privado.

Domínio Público

Para as obras públicas, a margem de risco sempre é maior.
Isto se deve em virtude do próprio regime de contratação. Geralmente as obras
são concedidas por uma licitação, pregão ou disputa de preço com dispensa de licitação,
em casos específicos.

O que se tem em comum, é que a concessão funciona como um
tipo de empreita para a empresa que conquistar o direito a executar a obra. Há
um preço fixo para o atendimento de um escopo de obra.

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Até aí, parece bem. Pois, o preço fixado e o escopo definido incentivam o contratado a executar dentro de um prazo já programado, para evitar prejuízo com custos indiretos.

No entanto, há outros fatores que influenciam numa obra pública até o seu encerramento. Podemos citar, por exemplo, as alterações de escopo que são feitas durante a execução do projeto, o que prejudica o andamento da obra, faz com que o empreiteiro fique com frentes de serviço paradas e leva a necessidade de reajustes orçamentários e de cronograma, através dos aditivos.

Imagem ilustrativa de fundo cinza de obra em andamento, com guindastes erguento materiais.
Imagem: upwordstranslation.com

Outro fator que é inerente à máquina pública, infelizmente, é a corrupção. Eventualmente, surgem obras de fachada ou “projetos de mandato” e não de governo, que leva a não conclusão ou grandes atrasos na execução de obras públicas. Entre outros aspectos que não colaboram.

Domínio Privado

Para as obras privadas, a margem de risco em relação ao atraso é menor. Uma vez que o controle do empreendimento fica sob domínio exclusivamente de uma (ou mais) empresa privada. Sabe-se que, o setor privado comumente prioriza os resultados antes de qualquer coisa, e isso é determinante para que se trabalhe para cumprir as metas impreterivelmente.

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Pelo fato de os recursos aplicados serem oriundos geralmente
da própria empresa que gerencia a obra ou de investidores externos, o resultado
acontece de modo mais fácil pela pressão dos stakeholders. Embora as obras
públicas não sejam distintas em nada com relação a responsabilidade pelo
resultado, o funcionalismo público tem um menor rigor com o não cumprimento de
metas. Sempre dá-se um jeito.

Domínio Público-Privado

Este tipo de obra dá-se através de parcerias-público-privadas, as PPP’s. Este modelo de concessão ocorre geralmente para obras de infraestrutura que requerem grande investimentos e que o governo não consegue aportar todo o recurso necessário. A concessão nesse formato ocorre geralmente com a entrega de um bem para usufruto de empresa privada por tempo determinado.

Como exemplo, temos a concessão de rodovias. As partes tem
suas obrigações e direitos. Geralmente o governo concede uma rodovia para que
uma empresa privada faça benfeitorias, como recapeamento e duplicação, aportando
parte dos recursos (ou não) e a empresa usufrui da rodovia, garantindo a sua
manutenção, mas taxando o uso com os pedágios. Entre outros tipos de concessão,
mas sempre nesse molde, cada parte tem seu ganho.

Funcionários em obra de pavimentação, colocando asfalto na pista
Obra de pavimentação. Imagem: arteris.com.br

Neste modelo, o risco de atraso é diminuído. Pela relação
com o setor privado, há uma pressão maior pelo lucro do negócio. O que ocorre
apenas se as metas forem atingidas, inclusive o cronograma estabelecido. No
entanto, divergências no escopo, ou inconsistências de rendimento para a parte
privada, podem acarretar atrasos, paralisações e até encerramento de contratos
sem obras concluídas. Como temos exemplo da BR-163 atualmente.

Motivos para atrasos em obras

Bem, entendendo o caráter das obras em relação ao domínio.
Podemos então listar os motivos mais comuns para o atraso em obras no Brasil.
São eles:

1. Gerenciamento ineficaz

O gerenciamento ineficaz ocorre geralmente pela falta de qualificação profissional ou estrutura organizacional inadequada. Reprogramações equivocadas, acompanhamento e medições ineficientes, são exemplos deste problema.

2. Falhas na comunicação

A falha de comunicação é um mal em todas as esferas. Ocorre, em casos de não comunicação ou não entendimento entre contratante e contratado, entre empreiteiros e supervisores de obra, entre comprador e fornecedor.

3. Atraso na entrega de material

Inevitavelmente, podem ocorrer atrasos na entrega de material por parte dos fornecedores. Mesmo com a compra feita seguindo um cronograma de compras, ocorrem atrasos por falta de material do fornecedor ou ineficiência de transportes, e outros fatores.

4. Escassez de mão de obra especializada

Este problema é comum em muitas regiões do país. A mão de obra não qualificada muitas vezes lesa o andamento dos serviços, gera retrabalhos e prejudica o andamento da obra.

5. Modificações no escopo

Este é um dos maiores problemas de atraso. Em muitos casos, o escopo fica mal especificado e durante a obra encontra-se dificuldades na execução. Podem haver também modificações no escopo durante a execução, seja por escopo mal feito ou por solicitações do cliente, ou por situação não prevista em fase de projetos. Isso geralmente acarreta em acréscimo de prazo.

6. Dificuldades financeiras do empreiteiro

Em alguns casos, o empreiteiro da obra fica à mercê de medições e acaba diminuindo equipes até ter caixa suficientes, o que leva o andamento da execução a lentidão.

7. Demora na tomada de decisões

Em muitos casos, como mudança de escopo, atrasos de material, necessidade contratação de novas equipes, necessidade de novos equipamentos, reprogramação de cronograma, é preciso que haja uma tomada de decisão rápida. Se houver omissão pelos responsáveis, a obra certamente atrasa.

8. Fatores externos ambientais

Existem os fatores ambientais e meteorológicos que afetam o andamento da obra. É o caso de chuvas em obras de aterro ou fundações, calor excessivo. E ainda há questões legais de liberação de alvarás.

9. Baixa produtividade

Um grande mal na indústria da construção brasileira é a produtividade. Estamos lutando para evoluir nossa produtividade, que é baixa, seja por sistemas construtivos, tecnologia de equipamentos ou mão de obra. Sempre é preciso manter a produtividade de acordo ao previsto no planejamento da obra, caso contrário, a obra irá atrasar.

Conclusões

Imagem de obra em andamento, com guindaste erguendo blocos, céu azul ao fundo
Imagem: imgur.com

Nota-se que é preciso e necessário investir na infraestrutura das empresas, através de equipamentos, implantação de novas metodologias mais rápidas (novos sistemas construtivos, por exemplo) e, principalmente, qualificação profissional de pessoal. Equipes preparadas para executar serviços, e profissionais preparados para gerenciar os empreendimentos, líderes para a condução das obras, é um dos pontos chaves para atingirmos um patamar melhor em relação ao índice de atendimento aos prazos de obras.

Fontes: Transparência Brasil, Smart Building, Scielo, TCE SP, Construct.

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Matheus Alves Martins

Engenheiro civil; formado pelo Centro Universitário da Grande Dourados; possui especialização em Gestão de Projetos; e é mestre em Ciência dos Materiais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; é entusiasta da gestão, da qualidade e da inovação na indústria da construção; fã de tecnologias e eterno estudante de Engenharia.

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