“Eca, que nojo!”
Provavelmente foi isso que você pensou. Se não pensou, vai pensar agora: essa água reciclada veio do esgoto.
É nojento, admitimos. Porém, não é nojento para a ciência, que prova que essa água está livre de todas as impurezas.
A situação fica um pouco menos nojenta se você lembrar que a mesma molécula de água que está agora na sua garrafinha pode ter sido parte da urina de dinossauro há muito tempo atrás.
Imagem: grandforksherald.com
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Quarenta e cinco minutos. Esse é o tempo que o esgoto leva para ser transformado em água pura na Califórnia. A seca não é uma novidade e o estado americano sofre deste problema assim como São Paulo. Claro, não necessariamente pelos mesmos motivos ou na mesma proporção.
Entretanto, lá, todos os recursos tecnológicos estão sendo utilizados para obter água potável.
Dessalinizar a água dos oceanos talvez seja mais aceitável que purificar a água do esgoto, na visão de quem consome. Ou seja, o maior problema não é a tecnologia ou o custo, é convencer a população a tomar uma água que saiu do esgoto.
Diversas cidades da californianas utilizam a água de reciclagem para irrigação ou outros usos, passando por meio de tubulações roxas. Mas no Condado de Orange a situação começou a mudar.
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Imagem: water-technology.net
Desde 2008, o Condado incentiva as pessoas a beber água reciclada. A água não é diretamente bombeada para estações de tratamento de água, ela é enviada para o subsolo, para abastecer aquíferos e voltar depois no bombeamento.
A ideia de ter o solo como um meio intermediário tranquiliza os moradores, embora saibamos que nem sempre o solo é um meio filtrante eficaz. Isso varia de acordo com algumas características.
Tudo começou em uma seca, quando 481 milhões de dólares foram investidos para abrir o projeto. Agora, concluiu-se a expansão de 142 milhões de dólares, que proporcionará um aumento em mais de 40% da capacidade. Depois, planeja-se uma expansão para 492 milhões de litros por dia.
O tratamento consiste em uma microfiltração que é capaz de reter tudo que mede mais de 0,2 mícrons, removendo a maioria dos sólidos suspensos, bactérias e protozoários. Depois o líquido passa por osmose reversa, em que é submetido a uma membrana que remove as impurezas, incluindo vírus, produtos farmacêuticos e minerais dissolvidos. Luz ultravioleta e peróxido de hidrogênio finalizam o processo, desinfetando e neutralizando compostos químicos.
Membranas filtrantes no Condado de Orange. Imagem: nytimes.com
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Para a ciência essa água é mais pura que a que sai da sua torneira. Para você, ela ainda é nojenta. Ninguém é mais adequado para provar que esta água é limpa que um astronauta, que passa o tempo todo no espaço bebendo água reciclada. Já mostramos aqui no BDE o Bill Gates bebendo água reciclada do Omniprocessor, uma engenhoca que transforma esgoto em água potável. A questão resume-se a um ponto: existem várias tecnologias diferentes disponíveis para purificar a água do esgoto, só resta mudarmos nossos hábitos.
Referências: Orange County Sanitation District; The New York Times; BNC Los Angeles.
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Larissa Fereguetti
Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.