Engenharia 360

Fezes, a nova matéria-prima da engenharia

Engenharia 360
por Larissa Fereguetti
| 12/02/2015 | Atualizado em 04/12/2022 3 min

Fezes, a nova matéria-prima da engenharia

por Larissa Fereguetti | 12/02/2015 | Atualizado em 04/12/2022
Engenharia 360

O mundo busca, cada vez mais, alcançar a sustentabilidade como garantia da sobrevivência da espécie humana no planeta. Uma das medidas que começamos a nos acostumar é o reaproveitamento dos resíduos. Dejetos humanos lançados na rede de esgoto são resíduos, por que não aproveitá-los? Acredite, apesar de parecer nojento, há muita engenharia por trás desta história.

O primeiro personagem envolvido é o engenheiro alemão Heinz-Peter Mang, que viu nos habitantes chineses uma mina de ouro. Na China, grande parte dos detritos sanitários é reutilizada como fertilizante ou aproveitada para obtenção de biogás. O país trata, aproximadamente, 6.800 toneladas de fezes humanas por dia. Para ter uma noção, tal quantidade daria para encher três piscinas olímpicas.

O crescimento econômico da China levou a um intenso processo migratório do campo para a cidade. Tal fato origina vários problemas, como a necessidade de fornecimento de energia que suporte a demanda da população. Um dos responsáveis por uma solução é Mang, total defensor do uso de dejetos humanos como fonte energética. O processo de reutilização das fezes está em expansão pela China e Mang afirma que eles devem ser disseminados pelo mundo, quebrando o preconceito sobre o uso de tal matéria-prima.

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O engenheiro, que trabalha com alunos da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pequim em projetos de saneamento, afirma que os processos são seguros. Atualmente, 40 milhões de fazendas na China possuem um tanque para dejetos humanos e animais que é higienizado e onde o sólido é separado do líquido. O produto final é convertido em adubo para ser utilizado nas fazendas. Em escala industrial, o esgoto é encaminhado para um local onde os resíduos sólidos são separados e direcionados para uma fermentação que dura alguns dias (para matar bactérias e ovos de vermes) e depois são transformados em fertilizantes. Por outro lado, o material líquido é encaminhado para tanques para gerar biogás, que é utilizado como fonte energética.

Então, chegamos ao nosso segundo personagem: Bill Gates. Nos últimos anos, a Fundação Bill & Melinda Gates investiu um milhão e meio de dólares em um projeto para explorar a produção de biodiesel a partir de resíduos humanos em Gana. Recentemente, Bill Gates conheceu um dos projetos financiados pela sua fundação, que transforma esgoto em água potável e eletricidade.

Se você questionou “por que alguém iria querer transformar esgoto em água potável?”, Gates responde. Segundo ele, um número chocante de pessoas, pelo menos 2 bilhões, usam latrinas que não são devidamente drenadas, enquanto outros defecam a céu aberto. Tais resíduos contaminam a água potável. O resultado, de acordo com os números, é de cerca de 700.000 crianças mortas anualmente em decorrência da falta de saneamento.

O projeto consiste em uma usina de tratamento denominada Omniprocessor, desenvolvida pela Janicki Bioenergy. A proposta é instalar em países pobres, já que eles não possuem condições de construir um adequado sistema de esgoto ou de dar um fim correto aos dejetos. O projeto-piloto será instalado em Dakar, Senegal, e contará com um sistema remoto que permitirá que os engenheiros da empresa acompanhem o processo e os possíveis problemas que possam ocorrer.

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Os dejetos que chegam ao Omniprocessor por uma esteira, têm sua temperatura elevada e o vapor resultante é purificado, originando a água potável. Os resíduos sólidos são queimados e é gerado um vapor de alta pressão e temperatura que passa por um gerador, resultando em eletricidade. Os resíduos finais são cinzas. De acordo com o site da Janicki Bioenergy, todos os padrões estabelecidos pela legislação estadunidense são atendidos, mas não há especificações sobre a geração de poluentes provenientes da queima. O vídeo abaixo explica o funcionamento do Omniprocessor e ainda mostra Bill Gates provando a água que sai da engenhoca.


Fontes: Gatesnotes, Janicki Bioenergy, Bloomberg.

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Larissa Fereguetti

Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.

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