Charles-Édouard Jeanneret-Gris foi um famoso arquiteto de origem Suíça e naturalizado francês conhecido como Le Corbusier. Ele faleceu no ano de 1965, mas deixou um legado que inspira até hoje muitos engenheiros, arquitetos e designers. Suas obras são consideradas umas das referências mais importantes do modernismo ao lado de nomes como Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto e Mies van der Rohe. E sabia que esse profissional teve uma passada no Brasil? Continue lendo esse artigo para descobrir como foi!
Visita de Le Corbusier ao Brasil
Em 1929, o arquiteto Le Corbusier visitou a capital do Brasil, que era até então o Rio de Janeiro. Essa viagem foi bem marcante, com grande repercussão na mídia - principalmente um ano depois, quando, inspirado em nosso país, lançou o livro ‘Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo’. Suas palestras guiaram muitos profissionais nas novas criações modernas - embora alguns seguissem suas palavras quase como uma cartilha de regras. De fato, suas contribuições para a escola de Belas Artes e nosso meio cultural como um todo foram inestimáveis.
Mas o que queremos destacar neste texto é a proposta que Le Corbusier fez para a cidade na ocasião: um projeto de viaduto habitável cortando a zona sul. Este projeto dito futurista cortaria bairros inteiros, do Leblon à Lagoa Rodrigo de Freitas, com conexão em Copacabana, Leme, passando pelo Flamengo e chegando ao Centro. Para o arquiteto, a edificação equilibraria a relação arquitetura e paisagem. Mas será mesmo?
Rio de Janeiro Moderno
Le Corbusier chegou a apresentar esta proposta entre outras ideias ousadas como para o Ministério da Educação e Saúde e a Cidade Universitária, mas esse complexo habitacional chama mais atenção. Imagine um edifício com tamanha extensão, 12 níveis sobre pilotis, autopista no topo, calçadas, praças e jardins verticais. Como seria esta estrutura se tivesse sido construída? Será que seria como um elefante branco? Ou um lindo acréscimo à Cidade Maravilhosa?

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O grande plano para a cidade de Argel
É interessante essa fixação de Le Corbusier por um ideal de cidade linear. Em 1930, um ano depois de estar no Rio de Janeiro, o arquiteto foi chamado para participar da elaboração de um plano para a cidade de Argel, na Argélia. Na fase um, o projeto expressava a intenção de construção de uma mega estrutura. Especialistas garantem que essas se tratava de uma expressão que resumia seus 20 anos de investigação Urbana e também certa influência pelo projeto da Ville Radieuse também feito por ele.
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A ideia era transformar Argel em uma cidade capital, que serviço de refúgio para o governo francês diante de uma possível ocupação nazista na França. Lembrando que Argélia era uma colônia francesa.
Cronologia do Pensamento Urbanístico
Cronologia do Pensamento Urbanístico
Por conta da topografia irregular do local, Le Corbusier acreditava que o melhor seria uma cidade de um edifício só. Haveria o viaduto, habitado pelas classes trabalhadoras, o grande Complexo Residencial para a classe alta e as áreas de serviços. Sim, como no Titanic! No fim das contas, os desenvolvedores fragmentaram sua proposta e, no lugar do edifício, fizeram uma via linear costeando a praia. Mesmo assim, o discurso arquitetônico envolvendo esse projeto chegou aos quatro cantos do mundo, inspirando outros partidos arquitetônicos.
A estrutura com espinha dorsal generativa
Pense na complexidade que seria unir uma diversidade tão grande de pessoas, de formas individuais de expressão, em uma única estrutura. Será possível que haja algum mecanismo projetual tão poderoso capaz de conseguir resolver esse desafio? Bem, não é assim que tentamos viver? Toda cidade ou todo o tecido urbano já é uma forma de tentar ordenar o básico necessário para nossa sobrevivência em sociedade.
A ideia dessa mega estrutura alongada de Le Corbusier é uma proposta de ordenação apenas fora do convencional ao qual estamos acostumados. Mas vale destacar que as pessoas ainda teriam liberdade de personalizar, dentro dessa grade ou malha volumétrica, a sua unidade de moradia ao estilo que desejassem. O conceito é traduzido por "chãos artificiais", com grandes lajes construídas em operação única, com vãos internos em subdivisões variadas. Isso é ou não a cara do movimento moderno?
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Então, apesar da “força” de regularidade exercida pela mega estrutura projetada pelo arquiteto, as pessoas ainda seriam os próprios arquitetos dos seus espaços de habitação. A estrutura coletiva indica apenas os limites espaciais de cada moradia, mas o conjunto é que determina a aparência do todo - quase como brincar de LEGO. Inclusive, segundo Le Corbusier, nesse caso, métodos de construção diferentes poderiam coexistir harmoniosamente. Tal característica seria a maior qualidade dessa arquitetura!
O projeto de cidade futurista para a Arábia Saudita
Agora vamos dar um salto no tempo para provar que as ideias do modernismo de grandes projetistas como Le Corbusier ainda inspiram engenheiros e arquitetos mais do que muitos gostariam de admitir. Por exemplo, será que o projeto The Line para Arábia Saudita não teria suas raízes nos projetos de Le Corbusier para o Rio de Janeiro e a Argélia?
Caso você não conheça a proposta, vamos apresentá-la a você. Seria uma estrutura de 170 km, 500 m de altura e 200 m de largura. Essa cidade linear seria erguida sobre áreas desérticas, a cerca de 50 km do Golfo de Aqaba, tendo capacidade para 9 mil pessoas. A saber, a expectativa é que a primeira fase da obra seja concluída em breve, como parte de um programa de aceleração da economia até 2030.
A proposta tem ganho destaque nos periódicos de engenharia por suas soluções avançadas. Isso inclui plano de produção de energia 100% renovável. A megalópole vertical futurista funcionaria sem carros, estradas ou emissões de carbono. As funções seriam sobrepostas, dando às pessoas a possibilidade de se moverem em três dimensões - trens fariam transporte em alta velocidade. E para delimitar o espaço urbano, dois paredões com exterior espelhado misturariam a fachada com a natureza ao redor. Interessante, não?
Diferente da realidade do que se tinha na época de Le Corbusier, agora, na contemporaneidade, se tem tecnologia suficiente para criar uma cidade linear de muito mais qualidade. Para Neom, a expectativa é que seja 2% da pegada de infraestrutura em comparação com a cidades tradicionais.
Muitos projetistas tentam convencer que o clima adverso desse tipo de cidade seria o maior atrativo - atraindo sobretudo turistas. Mas será que eles estão levando em conta questões como crescimento populacional, violência urbana ou situações de pandemia? Escreva para nós a sua opinião na aba de comentários logo abaixo.
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Fontes: Wikipédia, UFBA, Agenda Bafafá, Exame.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.