Os Jogos Olímpicos não são "apenas" uma competição esportiva, mas também uma vitrine de cultura, inovação tecnológica, arquitetura e engenharia. Especialmente Paris 2024 promete ser tudo isso e muito mais, seus gestores garantem um nível de sustentabilidade sem precedentes. Bem, será mesmo? Claro que, como bons brasileiros, sempre ficamos com um "pé atrás" com falas como esta.
O que sabemos por certo é que, sim, esse tipo de evento tem sempre um grande impacto social, ambiental e econômico. E seria ótimo se pudéssemos somar adequadamente a sustentabilidade nesta equação. No discurso, os franceses parecem realmente muito esforçados em fazer de Paris 2024 os Jogos Olímpicos exemplo para o mundo, incorporando diversas iniciativas extraordinárias em seu plano. Vamos explorar isso melhor no texto a seguir, do Engenharia 360!
O legado no centro do projeto para Paris 2024
Começamos este artigo contando que desde a fase de licitação, o Comitê Organizador de Paris 2024 colocou o tema 'sustentabilidade' no centro do seu projeto para esta nova edição dos Jogos Olímpicos. Vale dizer que a questão do 'Legado Olímpico' é sempre um desafio no planejamento desse evento. E a cada quatro anos vemos coisas que deram super certo e outras que falharam miseravelmente. Podemos falar com propriedade, já que o próprio Brasil já foi sede dos Jogos em 2016 - e na mesma linha tivemos a Copa do Mundo de futebol dois anos antes.
Paris tem hoje a ambição de mostrar que essa história pode ser diferente, inspirando novos padrões de arquitetura e engenharia para futuros Jogos Olímpicos, deixando um legado duradouro para a França. E a sua obra como um todo já está gerando muitos debates e reflexões importantes.
Desafios e polêmicas
Existe uma lista de desafios que o Comitê Olímpico precisa enfrentar, considerando que um evento deste porte deve reunir milhões de pessoas em um só local. Há uma necessidade de se repensar o modelo já aplicado em outras edições. O principal é pensar como evitar a grande geração de emissões de gases de efeito estufa, considerando especialmente os deslocamentos de transporte.
Ande tudo, vale utilizar mecanismos de compensação de carbono. Porém, aqueles já vistos, na prática, como o plantio de árvores, são questionados sobre a sua real efetividade na mitigação (volume) dessas emissões. Outra coisa que gera dúvidas neste momento é o fato dos franceses aceitarem o patrocínio de empresas de setores com alta emissão de carbono, como a indústria aérea e siderúrgica - incluindo Air France, a CMA CGM Group e a ArcelorMittal. Como era mesmo essa tal mensagem de sustentabilidade e eco-friendly?
O compromisso dos Jogos Olímpicos com o planeta
As metas de Paris 2024 são realmente muito ambiciosas - será que os franceses dão conta?
- Redução de emissões: A meta é reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% em comparação com os Jogos de Londres 2012.
- Estruturas temporárias: 95% dos locais de competição já existem ou serão estruturas temporárias, minimizando a necessidade de novas construções.
- Transporte verde: Priorização do transporte público, ciclovias e outras opções de baixo impacto ambiental para os atletas e torcedores.
- Energia renovável: Abastecimento dos jogos com 100% de energia renovável, proveniente de fontes como solar e eólica.
- Material reutilizado: Uso de materiais reciclados e de baixa pegada de carbono na construção das estruturas temporárias.
- Legado duradouro: As estruturas temporárias serão desmontadas após os jogos e reutilizadas em outros projetos.
O que se pode concluir disso? Que, olhando para as novas necessidades do planeta, será fundamental os Jogos Olímpicos desde já adotem uma abordagem sistemática e multifacetada. E a arquitetura e engenharia podem contribuir muito para isso!
Há duas coisas que já desagradaram o povo parisiense. Primeiro o projeto do Tour Triangle, um arranha-céu triangular de 42 andares, que não faz parte da infraestrutura oficial dos Jogos, mas foi colocado no orçamento. Depois, a decisão da realização das competições de surfe no Taiti, a milhares de quilômetros da cidade. Os organizadores argumentam que essa escolha resultará em menos construções e emissões em comparação com a realização das competições em áreas metropolitanas.
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As estratégias-chave dos Jogos de Paris 2024
Construções temporárias
A utilização de estruturas temporárias é uma solução inteligente e sustentável que garante a reutilização de materiais e redução de custos. Podemos citar como exemplo as estruturas montadas perto de pontos turísticos da cidade, como Torre Eiffel, jardins do Trocadéro e Champ-de-Mars. Elas são fáceis e rápidas de serem erguidas e desmontadas, evitando que, após os jogos, fiquem aqueles "elefantes brancos" sem utilização.
Reaproveitamento de estruturas
Outra ação adotada é a reutilização de instalações existentes. Vamos aos dados: dos locais de competição, 95% já existiam ou serão construções temporárias.
A cerimônia de abertura ocorrerá no Rio Sena, marcando a primeira vez na história que este evento não será realizado em um estádio. Outros locais históricos, como o Grand Palais, a Ponte Alexandre III e o Hôtel National des Invalides servirão como arenas esportivas. Já novas construções permanentes serão depois convertidas para receber novas funções, como as da Vila Olímpica e Paralímpica (com 7 km de extensão, e ligada ao novo hub do metrô), que virarão residências e escritórios com praça internacional aberta ao Rio Sena, garantindo o uso contínuo da infraestrutura.
Redução de emissões
Para tornar as obras dos Jogos Olímpicos Paris 2024 mais sustentáveis, estão sendo utilizados materiais como madeira, cimento de baixa pegada de carbono e materiais recuperados, o que é algo, segundo os projetistas, que reduz as emissões em 30% em comparação aos métodos tradicionais de construção.
Outro aspecto inovador é a abordagem à alimentação. Paris 2024 pretende que 80% dos ingredientes utilizados nos Jogos sejam produzidos localmente; 60% dos alimentos oferecidos serão à base de plantas, alinhando-se às tendências globais de dietas e promovendo a agricultura francesa. E, com base no projeto arquitetônico, todos os atletas estarão a menos de 20 minutos de distância de suas áreas de treino e 85% a menos de 30 minutos dos locais de competição, reduzindo a necessidade de longos deslocamentos e diminuindo as emissões associadas ao transporte.
Alimentação ecológica
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 serão alimentados 100% por fontes de energia renováveis, incluindo parques solares e eólicos, além de paineis solares instalados em alguns locais de competição. Aliás, talvez esta seja a primeira vez que veremos por completo o potencial das energias renováveis em grandes eventos. Haverá a utilização de iluminação de LED e eliminação do uso de geradores a diesel, que emitem muito mais CO2. E será incentivado o uso de transporte público menos poluente, como metrô, trens, ônibus e ciclovias.
Então, conta aí, está animado para os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Com o uso inteligente de infraestruturas existentes e temporárias, energia renovável, alimentação local e estratégias de mobilidade eficientes, essa edição poderá deixar um legado duradouro e positivo, inspiração para arquitetos e engenheiros.
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Fontes: Valor Globo, Surto Olímpico, Cimento Itambé.
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