A SpaceX, empresa de exploração espacial fundada pelo polêmico Elon Musk, realizou o lançamento de mais 60 satélites de comunicação referentes ao projeto Starlink na segunda-feira (11), com centenas a mais programados este ano. E a SpaceX é apenas uma das muitas empresas que planejam fazer isso nos próximos anos. Os astrônomos temem que essas "megaconstelações" de satélite possam interromper as frequências de rádio usadas para observação astronômica, criar faixas brilhantes no céu noturno e aumentar o congestionamento na órbita, potencializando o risco de colisões.

A missão Starlink
O lote mais recente de Starlinks - o segundo grupo de foguetes que Elon Musk lançou em órbita - faz parte do plano da SpaceX de cobrir à Terra com internet via satélite de alta velocidade. A proposta, no que se refere a prover comunicação para diversas localidades do planeta é, sem dúvida, animadora e faz a gente vibrar com a perspectiva, tanto quanto acontece com o lançamento de qualquer foguete.
A primeira batelada de 60 satélites foi lançada em maio e espera-se que a SpaceX conclua esse projeto em 2027. Até então, a rede de Starlinks poderá totalizar até 42 mil satélites. A princípio, parece extremamente promissor e é competitivo com outras empresas, mas trata-se de um plano que coloca muitos cientistas preocupados com o futuro da astronomia. De acordo com dados do governo americano, a estimativa é de 50 mil novos satélites em planejamento para serem lançados por empresas privadas.
“Megaconstelações” de satélites
Quando a SpaceX lançou seu primeiro conjunto de satélites Starlink,
profissionais da astronomia ficaram alarmados com o brilho dos novos objetos.
Nos dias seguintes ao lançamento, pessoas em todo o mundo avistaram a carreira
de satélites. Atualmente, a maioria dos satélites Starlink mudou-se para faixas
mais altas de órbita, mas alguns ainda são visíveis em áreas rurais. Um
telescópio na Terra projetado para procurar objetos distantes e escuros
captaria facilmente essas estrelas falsas e isso pode prejudicar observações
astronômicas. Vale pontuar que esse tipo de inconveniente pode ser acentuado em
determinadas estações do ano, como no verão, causando desequilíbrio sazonal nos
dados de alguns telescópios e distorções em estudos de longo prazo.
Uma das alternativas mais simples para conter a questão do brilho é
tornar parte dos satélites opacos. Nesse sentido, a SpaceX disse que planeja
pintar de preto os lados dos Starlinks voltados para a Terra. Contudo, o último
lote lançado não teve essa pintura e, além do mais, pintar de preto não
cobriria ondas de rádio.

Efeitos das ondas de rádio
Astrônomos de rádio enfrentam um segundo conjunto de desafios. As
comunicações via satélite usam comprimentos de onda semelhantes aos que os
radiotelescópios no solo usam para estudar objetos no espaço. O uso de tais
frequências é regulamentado, mas o grande número de satélites planejados
complica a situação.
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Colisões e lixo espacial
Mais de 100 milhões de pedaços de lixo revolvem à Terra: são objetos que variam desde satélites abandonados a naves espaciais que se separaram em outras missões espaciais. Cada pedaço de detrito, por menor que seja, viaja a velocidades altas o suficiente para causar danos catastróficos a equipamentos vitais.
Quanto mais coisas colocamos em órbita, maior o risco de colisões.
Qualquer colisão em potencial fragmentaria os satélites ou outros objetos em
órbita em pedaços menores, aumentando a probabilidade de colisões adicionais.
Ao lançar seu primeiro lote de satélites Starlink, a SpaceX disse planejar "desorbitar" dois satélites usando motores de íons para movê-los para a atmosfera da Terra, onde queimariam. Isso demonstraria como a empresa poderia remover satélites antigos ou quebrados da órbita, reduzindo assim o risco de colisões. Bem, isso ainda não aconteceu.

Maneiras de mitigar o impacto das megaconstelações
Nos editoriais espalhados por aí, com relação à controvérsia dos Starlinks e derivados, alguns cientistas propuseram possíveis maneiras de lidar com os problemas associados às megaconstelações. Além do citado previamente, a gente resume alguns pontos:
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- Compartilhar informações detalhadas de localização de satélites que permitem aos astrônomos agendar seu horário.
- Pintar as superfícies voltadas para a Terra dos satélites de preto opaco para que pareçam mais fracas.
- Afastar as frequências de satélite das utilizadas para a radioastronomia.
- Desligar temporariamente as comunicações via satélite enquanto elas passam pelas instalações de radioastronomia.
- Desenvolver um sistema global de prevenção de colisões que detecte automaticamente possíveis falhas.
Mas e aí? Em meio a tantas ideias brilhantes (trocadilho intencional), vocês defendem ou não o Musk nessa?
Fontes: Business Insider; Nature.
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Kamila Jessie
Doutoranda e mestre em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo, é formada em Engenharia Ambiental e Sanitária.