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Starlink: como grandes satélites de comunicação podem prejudicar a Astronomia?

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por Kamila Jessie
| 21/11/2019 | Atualizado em 27/09/2023 4 min
Imagem de wirestock em Freepik

Starlink: como grandes satélites de comunicação podem prejudicar a Astronomia?

por Kamila Jessie | 21/11/2019 | Atualizado em 27/09/2023
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Nota: A SpaceX de Elon Musk pode ter perdido mais de 200 satélites da Starlink em apenas 2 meses, de acordo com o site SatelliteMap.space. Não está claro se a perda foi devida a falhas ou ao fim de suas vidas úteis. A constelação Starlink tem mais de 5 mil satélites, e essa perda é incomum. A SpaceX ainda não comentou oficialmente sobre o assunto.


A SpaceX, empresa de exploração espacial fundada pelo polêmico Elon Musk, realizou só em 2019 o lançamento de mais 60 satélites de comunicação referentes ao projeto Starlink, com centenas a mais programados nos anos seguintes. E a SpaceX é apenas uma das muitas empresas que planejam fazer isso a longo prazo.

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Justamente pensando nisso é que os astrônomos temem que essas "megaconstelações" de satélite possam interromper as frequências de rádio usadas para observação astronômica, criar faixas brilhantes no céu noturno e aumentar o congestionamento na órbita, potencializando o risco de colisões.

lançamento dos satélites starlink
Imagem: SpaceX

A missão Starlink

O lote mais recente de Starlinks - o segundo grupo de foguetes que Elon Musk lançou em órbita - faz parte do plano da SpaceX de cobrir à Terra com internet via satélite de alta velocidade. A proposta, no que se refere a prover comunicação para diversas localidades do planeta é, sem dúvida, animadora e faz a gente vibrar com a perspectiva, tanto quanto acontece com o lançamento de qualquer foguete.

A primeira grande batelada de satélites já foi lançada e espera-se que a SpaceX conclua esse projeto em 2027. Até então, a rede de Starlinks poderá totalizar até 42 mil satélites. A princípio, parece extremamente promissor e é competitivo com outras empresas, mas trata-se de um plano que coloca muitos cientistas preocupados com o futuro da astronomia. De acordo com dados do governo americano, a estimativa é de 50 mil novos satélites em planejamento para serem lançados por empresas privadas.

Veja Também: O que é um satélite e como funciona a comunicação via satélite?

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“Megaconstelações” de satélites

Quando a SpaceX lançou seu primeiro conjunto de satélites Starlink, profissionais da astronomia ficaram alarmados com o brilho dos novos objetos. Nos dias seguintes ao lançamento, pessoas em todo o mundo avistaram a carreira de satélites.

Atualmente, a maioria dos satélites Starlink mudou-se para faixas mais altas de órbita, mas alguns ainda são visíveis em áreas rurais. Um telescópio na Terra projetado para procurar objetos distantes e escuros captaria facilmente essas estrelas falsas e isso pode prejudicar observações astronômicas. Vale pontuar que esse tipo de inconveniente pode ser acentuado em determinadas estações do ano, como no verão, causando desequilíbrio sazonal nos dados de alguns telescópios e distorções em estudos de longo prazo.

Uma das alternativas mais simples para conter a questão do brilho é
tornar parte dos satélites opacos. Nesse sentido, a SpaceX disse que planeja
pintar de preto os lados dos Starlinks voltados para a Terra. Contudo, o último
lote lançado não teve essa pintura e, além do mais, pintar de preto não
cobriria ondas de rádio.

trem de luz dos satélites starlink
Imagem: Vimeo/SatTrackCam Leiden

Efeitos das ondas de rádio

Astrônomos de rádio enfrentam um segundo conjunto de desafios. As
comunicações via satélite usam comprimentos de onda semelhantes aos que os
radiotelescópios no solo usam para estudar objetos no espaço. O uso de tais
frequências é regulamentado, mas o grande número de satélites planejados
complica a situação.

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Colisões e lixo espacial

Mais de 100 milhões de pedaços de lixo revolvem à Terra: são objetos que variam desde satélites abandonados a naves espaciais que se separaram em outras missões espaciais. Cada pedaço de detrito, por menor que seja, viaja a velocidades altas o suficiente para causar danos catastróficos a equipamentos vitais.

Quanto mais coisas colocamos em órbita, maior o risco de colisões.
Qualquer colisão em potencial fragmentaria os satélites ou outros objetos em
órbita em pedaços menores, aumentando a probabilidade de colisões adicionais.

Ao lançar seu primeiro lote de satélites Starlink, a SpaceX disse planejar "desorbitar" dois satélites usando motores de íons para movê-los para a atmosfera da Terra, onde queimariam. Isso demonstraria como a empresa poderia remover satélites antigos ou quebrados da órbita, reduzindo assim o risco de colisões. Bem, isso ainda não aconteceu.

Satélite Starlink em órbita
Imagem: SpaceX

Maneiras de mitigar o impacto das megaconstelações

Nos editoriais espalhados por aí, com relação à controvérsia dos Starlinks e derivados, alguns cientistas propuseram possíveis maneiras de lidar com os problemas associados às megaconstelações. Além do citado previamente, a gente resume alguns pontos:

  • Compartilhar informações detalhadas de localização de satélites que permitem aos astrônomos agendar seu horário.
  • Pintar as superfícies voltadas para a Terra dos satélites de preto opaco para que pareçam mais fracas.
  • Afastar as frequências de satélite das utilizadas para a radioastronomia.
  • Desligar temporariamente as comunicações via satélite enquanto elas passam pelas instalações de radioastronomia.
  • Desenvolver um sistema global de prevenção de colisões que detecte automaticamente possíveis falhas.

Mas e aí? Em meio a tantas ideias brilhantes (trocadilho intencional), vocês defendem ou não o Musk nessa?

Veja Também:


Fontes: Business Insider; Nature.

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Kamila Jessie

Doutora em Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo (EESC/USP) e Mestre em Ciências pela mesma instituição; é formada em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) com período sanduíche na University of Ottawa, no Canadá; possui experiência em tratamentos físico-químicos de água e efluentes; atualmente, integra o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF) do Instituto de Física de São Carlos (USP), onde realiza estágio pós-doutoral no Biophotonics Lab.

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