Em meio a Pandemia, a sociedade brasileira tem demandado melhorias na prestação de serviços na área da saúde, sobretudo na produção de vacinas. Nesse panorama, a atuação do engenheiro de produção tem sido essencial, tendo em vista a gama de conhecimentos sobre melhoria contínua, gestão de recursos e estoque, planejamento, padronização dos processos produtivos de insumos, qualidade e logística de abastecimento. Aliás, esses fundamentos vêm sendo utilizados em centros de fabricação de imunizantes, como em Bio-Manguinhos, produtor de imunobiológicos da Fiocruz.
Planejamento institucional
O Programa de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PEP/UFRJ) convidou a vice diretora de Gestão e Mercado de Bio-Manguinhos, Priscila Ferraz – mestre e doutora em Engenharia de Produção –, para uma palestra sobre a "Engenharia de produção e o enfrentamento da Covid-19: produção de vacinas em Bio-Manguinhos/Fiocruz”. No webinar, foi abordado como a unidade de Bio-Manguinhos se preparou, interna e externamente, para encontrar soluções e prestar apoio ao Ministério da Saúde frente à pandemia da Covid-19.
Com a chegada do novo coronavírus ao Brasil, alguns desafios relacionados à gestão foram impostos ao Instituto. Primeiramente, foi necessário reforçar o trabalho de prospecção tecnológica. Antes de tudo, objetivando a procura por respostas sobre o enfrentamento da então nova doença, na área de diagnóstico (testes moleculares e rápidos) e tratamento (criação de vacinas ou medicamentos).
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Frentes de trabalho
Dessa forma, surgiram outras frentes de trabalho. Foram cerca de 70 iniciativas de combate à Pandemia (como a elaboração de uma construção fabril para a produção de máscaras, visto ser necessário manter os funcionários de atividades essenciais da unidade operando presencialmente). Isso exigiu da instituição uma retificação do planejamento e controle das operações, das preferências (projetos e intentos); novos princípios de trabalho; bem como novas estruturas de governança e gestão (como comitês para estudo de questões sustentáveis ligadas ao vírus), considerando o aumento da demanda e a redução de recursos.
Além disso, também foi primordial arquitetar uma estrutura de engenharia industrial, com a finalidade de realizar análises de capacidade das linhas de produção, tal qual uma área de planejamento e controle das análises dos processos de controle de qualidade. Medidas tradicionais da engenharia de produção que precisaram ser acionadas ligeiramente.
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Diagnóstico
O primeiro obstáculo da Pandemia foi a disponibilidade dos testes, que hoje são conhecidos como PCR, moleculares e padrão. À vista disso, o instituto de Bio-Manguinhos ficou responsável por desenvolver um kit molecular que fosse apto a detectar o vírus em um indivíduo. Para isso, foi preciso escalonar a produção, rever o sistema produtivo e automatizar a operação de envase, a fim de elevar a produtividade e capacidade de entrega para o Ministério da Saúde. Além disso, com o trabalho minucioso da área de logística, foi possível produzir um plano de gestão de riscos dos insumos escassos ao nível mundial. Dessa maneira, o kit foi desenvolvido em menos de 40 dias após o sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2.
Logo, o próximo passo era organizar a distribuição desses kits para o Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, utilizou-se mais uma ferramenta da Engenharia de Produção: a cadeia produtiva. Inicialmente, um dos principais problemas dessa cadeia era a capacidade laboratorial. Com isso, foi utilizada a estratégia de concentração – também bastante conhecida pelo setor. A mesma consistia em estabelecer centrais de grande processamento, capazes de gerar o máximo de output (ou seja, o maior número de amostras processadas para os resultados gerais da população). E em um tempo recorde de 45 dias, foram implantadas 25 plataformas de testagem no Rio de Janeiro, em Curitiba e São Paulo.
A logística também está incluída nessas etapas. Era necessário coletar as amostras e transportá-las em 24 horas até as centrais de processamento, com o propósito de que o indivíduo obtivesse o resultado rapidamente.
Prevenção
No que concerne a produção da vacina, a preocupação inicial era produzir uma alternativa que permitisse uma distribuição de curto prazo para a população. Diante disso, a opção viável era realizar a transferência de tecnologia de vacinas em etapas mais avançadas, sem abster das iniciativas de desenvolvimento tecnológico nacional.
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Para a realização da transferência de tecnologia da vacina produzida pela Universidade de Oxford, foi necessário realizar o planejamento fino da produção (PFP), isto é, utilizar ferramentas que auxiliam a função de Planejamento e Controle de Produção (PCP) a atingir a flexibilidade da organização. Dessa forma, foram desenvolvidos estudos de capacidade, análise de turnos e feita a adaptação das áreas de produção baseada na demanda.
Além disso, foi montada a estrutura do projeto de transferência de tecnologia da vacina. O intuito era organizar as etapas incluídas no processo de transferência de tecnologia e impedir gargalos na produção. E também foram construídas estruturas laboratoriais de controle de qualidade, para impedir que o controle de qualidade não se tornasse um limitador da capacidade de produção e distribuição das vacinas.
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Samira Gomes
Engenheira de Produção formada pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF); certificada como Yellow Belt em Lean Seis Sigma.