Engenharia 360

Sua selfie de máscara pode estar ajudando a treinar sistemas de reconhecimento facial

Engenharia 360
por Kamila Jessie
| 15/06/2020 3 min

Sua selfie de máscara pode estar ajudando a treinar sistemas de reconhecimento facial

por Kamila Jessie | 15/06/2020
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Se você achou que as máscaras estão atrapalhando o reconhecimento facial, achou errado. Sua selfie de máscara pode ser utilizada por pesquisadores, com o objetivo de melhorar os polêmicos algoritmos de reconhecimento facial. Um banco de dados público foi identificado com milhares de fotos de pessoas com máscaras, tiradas diretamente do Instagram.

Bancos de dados de pessoas de com máscaras

As máscaras faciais cobrem uma parte significativa do que o reconhecimento facial precisa para identificar e detectar pessoas, coisa que vem levantando muita polêmica por aí. Entretanto, esses algoritmos se baseiam no reconhecimento de padrões, de forma que, se treinados devidamente, podem, sim, se tornarem aptos a reconhecer faces mascaradas. E é isso que as pesquisas estão fazendo.

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Em abril deste ano, pesquisadores publicaram o COVID19 Mask Image Dataset no Github, usando mais de 1.200 imagens coletadas do Instagram. Um mês antes, pesquisadores da China compilaram um banco de dados com mais de 5.000 fotos de pessoas mascaradas coletadas online.

Mas pode fazer isso?

Os criadores do COVID19 Mask Image Dataset usaram sua solução alternativa de inicialização de IA para ajudar a vasculhar as imagens e rotulá-las adequadamente com máscaras. De acordo com Wafaa Arbash, CEO da empresa responsável por esse banco de dados, eles se inspiraram em “todas as empresas que lançavam ferramentas gratuitas e tudo o que podem fazer para ajudar (...) Temos essas imagens públicas do Instagram, portanto não são privadas. Estávamos apenas pesquisando e obtendo os dados certos". Aí é com vocês interpretar quem eles estão ajudando.

As empresas de reconhecimento facial há muito tempo usam as imagens das pessoas sem consentimento para treinar seus algoritmos. Os defensores da liberdade civil afirmam que a tecnologia de reconhecimento facial ameaça a privacidade e a liberdade de expressão, alertando também que quase não existem leis que impeçam o abuso das ferramentas de vigilância, polêmica muito grande principalmente no cenário da pandemia.

Para o banco de dados público de sua empresa, Arbash disse que as fotos vieram da pesquisa no Instagram com hashtags relacionadas a máscaras. Eles coletaram cerca de 3.000 fotos da plataforma de mídia social, mas a reduziram para um conjunto de 1.200 fotos. As imagens de amostra postadas incluíam a foto de uma criança como parte do cenário - Arbash disse que era um possível erro que essa foto acabasse no banco de dados.

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Mulher usando máscara durante pandemia.
Imagem: Engin Akyurt via Unsplash.

Caiu na rede...

A CEO da empresa disse que não pediu permissão às pessoas incluídas no banco de dados para usar suas selfies de máscara facial mas que, se quisessem ser excluídas, poderiam tornar suas páginas privadas. Muito porém, as pessoas incluídas nesse banco de dados não necessariamente sabem que estão lá.

"Não estamos lucrando com isso, não é comercial", disse Arbash. "O objetivo e a intenção era ajudar todos os engenheiros de ciência de dados ou aprendizado de máquina que estão trabalhando para corrigir esse problema e ajudar na segurança pública".

Manda foto de agora

Os links para as imagens do Instagram expiraram desde então, mas a página do conjunto de dados fez uma chamada pública perguntando se alguém sabia como recuperar as fotos. Arbash disse que, se houver interesse suficiente, a empresa consideraria estudar mais como obter mais imagens de máscaras faciais.

Diante desse cenário, o Facebook - que rege o Instagram -  se manifestou, dizendo que não permite que terceiros colecionem ou usem fotos postadas pelos usuários dessa maneira, sem consentimento, e que estão investigando a situação.

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Reconhecimento facial e a pandemia

A prática (nada respeitosa) de capturar fotos das pessoas nas mídias sociais para treinar algoritmos de reconhecimento facial não é nova, mas o foco nas máscaras faciais por causa do COVID-19 é. É urgente entre os desenvolvedores criar a tecnologia de detecção de máscara facial como uma preocupação de segurança pública, mas problemas éticos surgem quando as imagens são coletadas sem o consentimento. Além disso, nem todo o público está de acordo com a implementação desses sistemas, que se tornam mais controversos ainda em meio aos protestos que vem ocorrendo recentemente.

Ainda assim, o reconhecimento facial está sendo proposto como uma solução para monitorar o espalhamento da COVID-19, sem nenhuma prova de que a medida de vigilância traga benefícios ou que funcione adequadamente com máscaras ou que as pessoas estejam de acordo com isso.

Pessoas usando máscaras em manifestação de Black Lives Matter durante pandemia de covid-19.
Imagem: Koshu Kunni via Unsplash.

Leia também: Relatório mostra viés em softwares de reconhecimento facial.

Fonte: CNET.

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Kamila Jessie

Doutora em Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo (EESC/USP) e Mestre em Ciências pela mesma instituição; é formada em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) com período sanduíche na University of Ottawa, no Canadá; possui experiência em tratamentos físico-químicos de água e efluentes; atualmente, integra o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF) do Instituto de Física de São Carlos (USP), onde realiza estágio pós-doutoral no Biophotonics Lab.

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