Engenharia 360

O problema do plástico nos oceanos

Engenharia 360
por Larissa Fereguetti
| 04/03/2015 | Atualizado em 04/02/2022 5 min

O problema do plástico nos oceanos

por Larissa Fereguetti | 04/03/2015 | Atualizado em 04/02/2022
Engenharia 360

O plástico é uma maravilha moderna, sem dúvida. Desde que foram inventados, os diferentes tipos de plástico oferecem conforto e praticidade que outros materiais não são capazes de oferecer. Tudo ótimo, exceto por um problema: o que fazer com ele depois de usar? O descarte inadequado leva boa parte do plástico produzido para os oceanos, acarretando problemas sérios.

Fonte: marinedebris.noaa.gov

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O plástico leva anos para decompor e ocupa um espaço grande em aterros sanitários, quando são destinados para lá. Um estudo publicado em fevereiro deste ano, cujo time de autores é composto por alguns engenheiros de diferentes áreas, demonstrou que, em 2010, entre 4,8 e 12,7 milhões de toneladas de plásticos foram parar nos oceanos. Tal quantidade foi estimada com base na população de 192 países que vive a menos de 50km da costa, o que equivale a cinco sacolas de supermercado cheias de resíduos plásticos a cada pé ao longo da costa destes países, de acordo com Jenna Jambeck, principal autora do estudo e professora de engenharia ambiental da Universidade da Geórgia.
A estimativa média é de que 8 milhões de toneladas das 275 milhões produzidas por estes 192 países foram parar nos oceanos em 2010. A determinação da quantidade de plástico que vai para os oceanos foi realizada a partir de modelos que estimam a quantidade proveniente das diferentes fontes, como o solo, o mar e outros meios.

Fonte: telegraph.com.uk

Fonte: telegraph.com.uk

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Em 1970 foi a primeira vez que a presença de plástico nos oceanos foi relatada na literatura científica, mas nenhuma estimativa rigorosa foi feita a partir daí. O plástico surgiu entre meados de 1930 e 1940, mas uma política de descarte deste material só começou a ser implantada em 1970 nos EUA, Europa e parte da Ásia. Antes, o plástico era destinado para aterros não estruturados, como lixões.
Jambeck afirma que houve um avanço significativo no ramo da engenharia ambiental no que diz respeito aos sistemas de reciclagem e de gestão de resíduos em prol da saúde humana e do meio ambiente em um curto período, mas essas ações não estão disponíveis igualmente no mundo. Geralmente, a gestão de resíduos sólidos é colocada atrás de outros fatores como tratamento de água e esgoto. Segundo ela, os resíduos sólidos são deixados por último porque não parecem ameaçar imediatamente os seres humanos e depois acabam esquecidos por um tempo.
No Brasil, o tema da gestão de resíduos começou a alavancar com o estabelecimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS em 2010. A PNRS trata de temas como o papel do governo federal, dos estados e dos municípios na gestão de resíduos, a logística reversa, o fechamento dos lixões e outros temas pertinentes que serão implantados aos poucos. O país possui 395 municípios costeiros que devem englobar ações referentes aos resíduos que vão parar nos oceanos em seus respectivos planos municipais.
O plástico dos oceanos representa um problema enorme para os animais marinhos que ingerem ou sufocam com o material, acarretando a morte. Tartarugas, por exemplo, confundem a sacola plástica com a água-viva, enquanto albatrozes acabam alimentando-se dos objetos plásticos flutuantes por confundirem com alimento.

Fonte: circulo.com.br

Fonte: circulo.com.br

Os oceanos recebem não só o lixo proveniente da fonte terrestre (que são levados pelas chuvas, rios e ventos), mas também das fontes marinhas (através de embarcações e de plataformas de petróleo e gás), que acreditam na falsa ideia de que os oceanos são locais de assimilação infinita de resíduos.

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Restos de albatroz demonstram a quantidade de plástico ingerida pelo animal. Fonte: engineering.curiouscatblog.net

Restos de albatroz demonstram a quantidade de plástico ingerida pelo animal. Fonte: engineering.curiouscatblog.net

E o problema é sério: o giro do oceano Pacífico Norte possui uma mancha de lixo (não só plástico) imensa. Os giros dos oceanos são áreas em torno das quais se deslocam as correntes marinhas. Nas zonas centrais destas áreas as correntes têm baixa intensidade e quase não há ventos, de maneira que os resíduos ficam retidos e acumulam-se ali, formando lixões oceânicos.
É através de correntes marinhas que o então estudante de engenharia aeroespacial Boyan Slat desenvolveu, ainda no colégio, um sistema que pretende limpar boa parte dos resíduos plásticos do oceano. O projeto, denominado The Ocean Cleanup, utiliza as correntes oceânicas naturais e ventos para transportar o plástico para uma plataforma de coleta com barreiras flutuantes. Testes com o protótipo demonstraram que ele foi capaz de recolher plásticos em até três metros de profundidade e coletar uma pequena porção de zooplâncton, que pode facilitar a reciclagem do material. A corrente passaria por baixo da barreira, levando a vida marinha com ela. O procedimento não oferece riscos para a vida marinha pois não utiliza redes e outros equipamentos em que os seres poderiam ficar presos, além de não emitir qualquer tipo de gás na atmosfera.

Fonte: theoceancleanup.com

Fonte: theoceancleanup.com

No vídeo abaixo Slat explica como surgiu sua ideia, fala sobre seu projeto e também sobre a importância de retirar o plástico dos oceanos em sua apresentação no TEDxDelft 2012:

Claro que não devemos abolir de vez o plástico, pois ele se tornou um material com diversas e importantes aplicações em nosso meio. Entretanto, é preciso reduzir o consumo e o desperdício e destinar corretamente após o uso. Projetos inovadores como o Slat começam a ser aceitos, mas para terem efeito é necessário parar de descartar inadequadamente. Além das ferramentas de gestão de resíduos, é preciso também trabalhar a conscientização por meio da educação ambiental para que comecemos a recolher nossa sujeira após um dia na praia e a descartemos corretamente todos os nossos resíduos. O vídeo a seguir é uma prévia do documentário realizado pela Plastic Oceans Foundation. que trata um pouco mais da questão do plástico como um problema para os oceanos e, consequentemente, um problema para os seres humanos:

Referências:University of GeorgiaCiência HojeBBC.

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Larissa Fereguetti

Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.

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