O mundo realmente está passando por ondas de calor excepcionais. Claro que isso tem relação com as mudanças climáticas, aceleradas pela ação do homem sobre a natureza. E já existem relatórios científicos que apontam que nossas próximas gerações devem sofrer ainda mais com isso. Mas desde já existem planejadores urbanos preocupados com os impactos do aquecimento global sobre os centros urbanos. Lembrando que isso interfere não apenas no nosso bem-estar, mas na preservação das áreas verdes, na construção de edifícios, na manutenção de vias públicas, e mais.
Em Sevilha, por exemplo, a situação pode ser assim: temperaturas acima de 40 °C por 21 dias seguidos - quem vive no Brasil entende muito bem o drama. E olha que a ONU alerta que, nos últimos 30 anos, as temperaturas na Europa aumentaram mais do que o dobro do aumento médio global; imagina o que vem pela frente. A cidade espanhola se viu num beco sem saída, onde a única direção a seguir era a inovação. Saiba mais sobre o caso no texto a seguir!
Projeto Cartuja Qanat
Esta é uma iniciativa - envolvendo a prefeitura local, a Universidade de Sevilha e a UIA - inaugurada na ilha de Cartuja. Os espaços públicos estão sendo climatizados. E a técnica utilizada para isso já tem 3 mil anos e também começou a ser reproduzida em outras áreas da cidade, podendo inspirar diversas ações urbanas ao redor do mundo. O grupo Termotecnia é que pensou nesta solução, visando a recuperação da vida nas ruas, já que hoje as pessoas simplesmente não conseguem aproveitar sequer praças e parques no verão, tamanho o calor no ambiente externo às moradias.
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Técnica dos qanats
A intenção é criar espaços de conforto nos quais as pessoas possam desenvolver atividades com custo energético praticamente inexistente. Para isso, uma velha tecnologia dos povos árabes será utilizada, a chamada "qanats". Tem a ver com criar grandes canais ou aquedutos subterrâneos para transportar água ao longo de centenas de quilômetros até o centro das cidades. O que acontece depois disso é que, onde existe água fria e o terreno é frio, ele se resfria. Podemos comparar isso aos sistemas de aquecimento de pisos - só que ao inverso, pois o que se espera é baixar a temperatura.
"O ar percorre os qanats e, por estar em um ambiente onde existe água fria e o terreno é frio, ele se resfria. Quando o ar volta a sair, ele está mais fresco." - José Sánchez Ramos, do Departamento de Engenharia Energética da Universidade de Sevilha.
Técnica dos captadores de vento
Outra opção é adotar um sistema como o utilizado em Yazd, no Irã. Na cidade, foram instaladas torres de vento com aberturas que permitem a entrada de ar para ventilar as construções. O ar mais fresco desce até a parte inferior, por ser mais denso, e expulsa o ar mais quente por outra abertura. E, em muitos casos, o ar seco e quente que entra pelas torres passa por qanats subterrâneos ou por outras superfícies com água, voltando a sair, mais úmido e frio, por outra abertura.
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Decisões participativas
Agora que já se levantaram algumas ideias, o que já foi decidido? Bem, primeiro foi apresentada a hipótese da implantação, em zonas específicas, como o anfiteatro da Expo 92, de canais retangulares com 30 metros de comprimento e enterrados, armazenando 140 metros cúbicos de água. Condutores ficariam resfriados porque o terreno estaria frio por conta da água nos qanats - chegando a ficar, à noite, entre 17 e 18 °C.
Sánchez Ramos resume do seguinte modo: "Nós recolhemos o ar de Sevilha a 40 °C, fazemos passar por esses condutores e o ar é resfriado.", "Temos painéis fotovoltaicos para produzir eletricidade e, à noite, descartamos a água do qanat por cima da placa fotovoltaica, como uma cascata, para que a água seja resfriada.".
armazenamento de água = água resfriada à noite = uso dessa água de dia para produzir muito ar frio e superfícies frescas
O plano prevê, óbvio, tratar a água para que não se tenha proliferação de micróbios. E a administração desses espaços seria de gestão participativa.
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Plano LIFE Watercool
Este é outro projeto de Sevilha, que visa climatizar pontos de ônibus, fazendo circular água fria pelo teto, permitindo que as pessoas possam ficar no local com conforto por 20 ou 30 minutos. Mais uma medida é o resfriamento do pátio de um colégio público por meio de uma pérgola, impulsionando ar resfriado com água procedente de uma cisterna em praça próxima, resfriada à noite. E pode ser que, em breve, seja detalhado mais um projeto, para usar a água subterrânea que segue para o sistema de saneamento na climatização de edifícios. O que acha?
Detalhe: Sevilha fica a 10 metros acima do nível do mar, tendo muita água no seu subsolo, de forma que, quando se perfura um túnel de metrô, a água do lençol freático costuma se infiltrar. Inclusive, existe um sistema de bombas para evitar inundações. E é por isso que os engenheiros pensam que as qanats dariam tão certo!
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Fontes: G1.
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Eduardo Mikail
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