Todo mundo já ouviu falar, ao menos uma vez na vida, sobre as mudanças climáticas. A engenharia também está envolvida neste meio e, como em quase todas as áreas, possui suas contribuições. Especificamente, estamos falando da geoengenharia, que busca manipular o meio ambiente com o objetivo de amenizar as mudanças climáticas. Tal área ainda é muito controversa e gera vários questionamentos no meio científico. Por mais que a intenção seja boa, como salvar a integridade de ecossistemas vulneráveis, as consequências são desconhecidas e podem trazer um risco maior ainda. Vamos conhecer um pouco mais sobre a geoengenharia?
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC, a geoengenharia poderia trazer importantes soluções para combater as mudanças climáticas, mas há a necessidade de mais pesquisas sobre o tema. O Programa de Geoengenharia de Oxford separa as técnicas existentes em duas categorias:
Gerenciamento de Radiação Solar (SRM)
Consiste em refletir uma pequena proporção de energia solar de volta ao espaço. Algumas técnicas são:
- Melhoramento do Albedo: o albedo é a capacidade de reflexão da luz solar por uma superfície. Tal técnica pretende aumentar a capacidade de reflexão das nuvens sobre a superfície da Terra, de modo que mais radiação solar seja refletida de volta para o espaço;
- Refletores espaciais: consiste em bloquear uma pequena proporção da luz solar antes que ela atinja a Terra;
- Aerossóis estratosféricos: introdução de pequenas partículas na atmosfera que possam refletir a luz solar antes que ela atinja o planeta.
Remoção do Dióxido de Carbono (CDR)
Técnicas com o objetivo de eliminar o dióxido de carbono da atmosfera. Devem ser implementadas a nível mundial para ter algum resultado significativo. Englobam:
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- Arborização: plantio de árvores em escala global;
- Biocarbono: queimar biomassa e enterrar para que o carbono fique preso no solo;
- Bioenergia com captura e sequestro de carbono: cultivo de biomassa, queima para produção de energia e captura e armazenamento do dióxido de carbono gerado no processo;
- Captura no ar ambiente: construção de máquinas capazes de remover o dióxido de carbono do ar e armazená-lo em outro lugar.
- Fertilização oceânica: seleção de alguns pontos do oceano para o acréscimo de nutrientes com o objetivo de aumentar a produção de fitoplânctons, responsáveis por absorver o dióxido de carbono da atmosfera.
- Meteorização melhorada: exposição de grandes quantidades de minerais capazes de reagir com o dióxido de carbono na atmosfera e armazenar os compostos resultantes no oceano ou no solo.
- Aumento da alcalinidade do oceano: moer, dispersar e dissolver alguns tipos de rocha como o calcário, silicato ou hidróxido de cálcio no oceano para aumentar sua capacidade de armazenar carbono e combater a acidificação oceânica, uma consequência das mudanças climáticas.
Algumas destas técnicas são bem arriscadas e largamente criticadas por ambientalistas. O método de aerossóis estratosféricos, por exemplo, ao utilizar partículas de enxofre, simula o que ocorre quando um vulcão entra em erupção e acaba proporcionando a redução da temperatura do planeta por um determinado período devido a quantidade de enxofre lançado na atmosfera. Mas, este método apenas remedia os sintomas e não elimina o problema. Além disso, apesar de simular um processo natural, há indícios de que o ato de espalhar aerossóis de enxofre pode levar ao esgotamento do ozônio atmosférico e a afetar as monções na África e na Ásia.
Outro ponto negativo destas tecnologias é custo. Apesar se ser uma oportunidade para quem quer investir em pesquisas do ramo, o custo para algumas técnicas é alto. Seria mais barato, por exemplo, investir na redução da emissão de dióxido de carbono das indústrias e dos veículos a investir na remoção do mesmo gás da atmosfera. Por outro lado, algumas técnicas podem ser a única solução quando apenas a redução da emissão não fornece o suporte necessário.
A geoengenharia recebeu um grande impulso mediante a recusa de alguns países quanto a acordos que previam a redução das emissões de gases que contribuem para o aumento do efeito estufa. De acordo com o Instituto Nacional do Meio Ambiente, países desenvolvidos apoiam as técnicas da geoengenharia e países em desenvolvimento são a favor da redução das emissões. Enquanto isso, várias patentes relacionadas a tais tecnologias da geoengenharia já foram obtidas pelo setor privado.
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De maneira geral, a geoengenharia é um campo de pesquisa em expansão e que oferece boas oportunidades para quem pretende seguir a área. Entretanto, é necessário que as pesquisas sejam aprofundadas e tenham resultados que garantam que a intervenção humana não vá prejudicar ainda mais o ambiente. Vale ressaltar que, desde que começou a intervir na natureza, o homem sempre buscou meios para aumentar o seu conforto e que, talvez, desenvolver tecnologias para que possa continuar poluindo não seja a melhor maneira de enfrentar os problemas. Se as tecnologias desenvolvidas comprovarem sua efetividade, por que não atrelar à redução das emissões e obter um resultado melhor?
Fontes: Oxford Geoengineering Programme; Instituto Nacional do Meio Ambiente; BBC.
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Larissa Fereguetti
Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.