Não se engane com o papo de gerações passadas sobre crianças acreditarem em tudo que elas veem em qualquer mídia. Isso é falso. Começando pela assistente de voz: Alexa, por que as crianças não confiam em você?
Estudos em desenvolvimento cognitivo sugerem que as crianças
têm muito mais probabilidade de confiar em seus professores do que em um
assistente de voz, como a Alexa. Coisa parecida acontece quando a gente não
encontra uma resposta convincente no Oráculo Google e já solta aquele “ô, mãe!”.
Mas atestar o fato no desenvolvimento infantil é, no mínimo, interessante.
In Internet we trust,
mas as crianças não.
Um exemplo de teste envolveu crianças chinesas entre cinco e oito anos, separadas em grupos e fizeram perguntas como "Quantos dias Marte leva para girar em torno do sol?". Os pesquisadores ofereceram algumas respostas contrastantes para essas crianças: a internet disse 600 dias; seu professor disse 700 dias. Em quem eles confiavam? (A resposta, a propósito, é 687 dias).
Surpreendentemente, as crianças confiavam mais no professor,
não importa se ele (ou ela) estiver dando uma resposta errada. O sentido disso
se baseia no fato de as crianças conhecerem professor ou a professora e ali existir
um elo de relacionamento, que envolve confiança. Até aí tudo bem. O mais
curioso é que as crianças também preferiam as respostas de seus próprios
coleguinhas em detrimento daquelas fornecidas pela assistente de voz, mesmo
sendo nítido que o conhecimento das demais crianças não variasse tanto. De
fato, a pesquisa sugere que as crianças geralmente são bastante céticas em relação
aos assistentes de voz.
“Ok, Google, unicórnios existem?”
As crianças também são notavelmente criativas em suas
tentativas de testar a confiabilidade dos aparelhos. Tal como costumam fazer
com adultos, as crianças enchem assistentes de voz de perguntas.
Os assistentes de voz são geralmente programados para responder “não sei” a questionamentos infantis como “unicórnios existem?”. Isso vale para Papai Noel, Coelho da Páscoa, dentre outros. A falta de uma resposta elaborada acaba fazendo com que pareçam menos confiáveis para as crianças.
Pequenos céticos:
Esse tipo de estudo sugere não apenas que as crianças são
muito mais sofisticadas em tecnologia do que pensamos, mas também que nós, como
seres humanos, temos um senso de ceticismo arraigado sobre fontes desconhecidas
que de alguma forma ficam mais confusas à medida que envelhecemos.
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O ataque de fake news e as campanhas desenfreadas de desinformação agora comuns nas mídias sociais podem fazer parecer que nós não investigamos as fontes tão profundamente quanto deveríamos. Esses estudos indicam o contrário: a tecnologia não é algo em que confiamos naturalmente, pelo menos quando somos novinhos.
Fontes: Cognitive Development. MIT Technology Review 1. MIT Technology Review 2.
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Kamila Jessie
Doutora em Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo (EESC/USP) e Mestre em Ciências pela mesma instituição; é formada em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) com período sanduíche na University of Ottawa, no Canadá; possui experiência em tratamentos físico-químicos de água e efluentes; atualmente, integra o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF) do Instituto de Física de São Carlos (USP), onde realiza estágio pós-doutoral no Biophotonics Lab.