A técnica construtiva de pau a pique é um método antigo que utiliza terra crua como o principal componente, em conjunto com outros elementos para criar uma trama que serve como estrutura e vedação para a construção.
Essa técnica possui várias vantagens. Por isso, não à toa, tem um histórico de sucesso, sendo amplamente utilizada no período colonial no Brasil, resultando em estruturas que permanecem intactas até hoje. Saiba mais no texto a seguir, do Engenharia 360!
O que é pau a pique e por que é considerada bioconstrução
A bioconstrução é uma abordagem sustentável de construção que utiliza materiais naturais como terra crua para criar moradias.
Dito isso, pode-se dizer que a técnica de pau a pique faz parte da bioconstrução. Ela envolve entrelaçar madeira e preencher os espaços com uma mistura de solo, esterco e material vegetal. E faz parte do conceito de bioconstrução criar moradias mais sustentáveis ao usar materiais locais e renováveis, reduzindo custos e impactos ambientais. Além disso, essa abordagem pode ter impactos sociais positivos, como a promoção de habitações acessíveis e a capacitação de comunidades.
Contudo, vale destacar que a falta de mão-de-obra especializada é um desafio na prática da bioconstrução, levando a iniciativas de capacitação.
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Como é feita a construção com pau a pique
A técnica de construção conhecida como pau a pique utiliza terra crua em combinação com elementos como madeira, bambu ou cipó para formar uma estrutura básica.
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Nesse método, a construção segue os seguintes passos:
- Primeiro, uma estrutura de suporte é criada usando madeira ou bambu, servindo para sustentar cargas superiores.
- Em seguida, os elementos de suporte são entrelaçados para formar uma trama com espaços vazios.
- Uma mistura de terra é preparada, composta por 60% de argila e silte, 40% de areia, cerca de 10% de esterco verde e uma porção de palha, capim seco ou folhas de bambu. Essa mistura é então cuidadosamente inserida nos espaços vazios da trama, com a palha e outros materiais servindo como reforços naturais para evitar rachaduras durante a secagem.
- A terra é compactada nos espaços para formar uma parede sólida.
- A seguir, a mistura preenchida passa por um processo de fermentação que dura pelo menos 15 dias, permitindo a união dos materiais e o ganho de resistência da parede. Por fim, a superfície da parede é alisada e revestida para proteção e acabamento.
Função da trama feita com sarrafos de madeira
Antes de tudo, vale lembrar que as paredes construídas com a técnica de pau a pique, em princípio, têm a finalidade de serem paredes de vedação, ou seja, elas não suportam o peso de telhados ou pavimentos superiores. Elas são construídas para delimitar espaços e fornecer isolamento térmico e acústico.
Nesse tipo de construção, o acréscimo da trama feita com sarrafos de madeira tem a função estrutural. Ela sustenta a construção e seus espaços vazios são preenchidos com terra umedecida.
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Importância da fermentação da massa
Na técnica de pau a pique, os componentes da massa usada para preencher os espaços são:
- 1 parte de solo formado por 60% de argila e silte, e 40% de areia.
- 10% de esterco verde (fresco de curral é ideal, mas pode-se usar esterco curtido).
- 1 parte de palha, capim seco, folhas de pinus ou de bambu (idealmente, 20 cm de comprimento médio).
Essa massa é pisada sobre uma lona plástica e precisa fermentar antes de ser utilizada. O esterco favorece o alinhamento das partículas de argila durante o processo de fermentação, e a palha e a areia atuam como minivergalhões para evitar rachaduras no processo de retração da argila. Essa técnica é considerada uma ótima alternativa de construção sustentável, pois possui um impacto ecológico positivo.
E, para concluir, fermentação da massa é importante no processo de construção com pau a pique porque o esterco presente na mistura favorece o alinhamento das partículas de argila durante o processo de fermentação. Essa fermentação, que deve ocorrer por no mínimo 15 dias, ajuda a melhorar a coesão e a estabilidade da mistura, garantindo a durabilidade e resistência das paredes.
Vantagens da técnica de pau a pique
- Custos: A construção com pau a pique é econômica, pois utiliza materiais locais e facilmente disponíveis, como madeira, barro e pedra.
- Durabilidade: Quando construída e mantida adequadamente, as estruturas de pau a pique podem ser duráveis e resistentes, desafiando a ideia de que a técnica atrai roedores e insetos.
- Sustentabilidade: A técnica utiliza materiais naturais e de baixo impacto ambiental, contribuindo para a construção sustentável.
- Conforto térmico e acústico: As paredes de terra e palha oferecem um bom isolamento térmico e acústico, tornando as estruturas mais confortáveis para os habitantes.
- Engajamento da comunidade: A técnica pode ser uma opção viável para projetos de autoconstrução, envolvendo a comunidade no processo de construção.
A técnica de pau a pique pode ser uma abordagem interessante para construções sustentáveis, com benefícios econômicos, sociais e ambientais, além de proporcionar maior conforto e bem-estar aos moradores. Inclusive, atualmente, existe uma proposta tramitando no Senado para oferecer um financiamento de projetos de bioconstrução pelo programa Minha Casa, Minha Vida, visando reduzir custos e impactos ambientais enquanto proporciona moradias de qualidade.
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Fontes: UFSC, Truibuna de Minas, Pindorama.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.