A interceptação de lixo na Baía de Chesapeake é um dos maiores desafios da cidade de Baltimore, em Maryland, nos Estados Unidos. Em certos lugares da hidrovia, próximo ao porto, não se podia ver nada além da grossa camada de lixo. Essa situação de poluição ficou ruim assim por décadas, até que a ideia de um coletor autossustentável foi colocada em prática para limpar a zona urbana. Hoje, o bonito e eficaz ‘Sr. Trash Wheel’ é uma das marcas cívicas da área e uma resposta a esse grave problema ambiental. Veja mais no artigo a seguir, do Engenharia 360!
Como funciona o Sr. Trash Wheel
Vinda de diferentes partes do estado, a sujeira nas águas de Baltimore tem origem, principalmente, do que é carregado através do esgoto pluvial em épocas de tempestade, mas também do despejo ilegal. John Kellett, marinheiro, engenheiro, construtor de barcos e cientista ambiental, cansado de ver a região repleta de lixo, criou em 2008 um protótipo de embarcação em forma de caracol, com uma roda capaz de “comer” tudo que estivesse flutuando. Chamado originalmente de ‘Inner Harbour Water Wheel’, o ‘Sr. Trash Wheel’ fez sucesso e tornou-se um mascote não oficial da cidade.
O coletor de Kellett tem capacidade para sugar sacos plásticos, recipientes de isopor, pontas de cigarro, galhos de árvores e muito mais. Esses detritos, que passam pela área do interior da cidade, seguiam livremente por Newport até o Oceano Pacífico. Mas, desde 2014, com o apoio da Waterfront Partnership, uma organização de apoio à legislação ambiental que visa tornar a área um destino verde, Baltimore tem usado a invenção para restaurar e limpar o seu porto.
Resultados do 'Sr. Trash Wheel' e o impacto em Baltimore
A ideia de John Kellett foi remover os detritos das águas através de garfos giratórios. Em seu protótipo, vemos uma grande roda movendo-se continuamente. A energia que a alimenta é totalmente renovável, sendo impulsionada pela corrente do rio. Porém, quando a maré está fraca, uma matriz solar entra em funcionamento, gerando potência adicional. O lixo, então, é pego em um ritmo acelerado por sua “boca” formada através das barreiras flutuantes em forma de ‘V’.
No ‘Sr. Trash Wheel’, garfos giratórios mergulham para dentro e para fora da água, enrolando e levantando os fragmentos, que sobem em uma correia transportadora. À medida que eles vão se deslocando, a massa de sujeira é depositada em uma grande caçamba removível. Uma vez cheia, em intervalos regulares, ela é substituída, rebocada, levada para longe e esvaziada em local adequado.
Imagens extraídas de Biz Journals e High Lights
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Resultados imediatos
A organização Waterfront Partnership acreditava em uma recuperação total do Porto de Baltimore até 2020. É por isso que ela investia regularmente em ideias como a de John Kellett. Em 2015, após uma grande tempestade, o ‘Sr. Trash Wheel’ recolheu cerca de dezenove toneladas de lixo em um único dia. Nos dezoito meses iniciais de funcionamento, o equipamento removeu trezentas e cinquenta toneladas de resíduos. Hoje, a marca é de cinco mil quilos por mês. Todos esses números chamaram tanto a atenção dos governantes que, em pouco tempo, foi solicitada a instalação de uma segunda roda de água, chamada de ‘Professor Trash Wheel’.
Apesar de fazer apenas uma limpeza superficial, os coletores de lixo têm tido papel fundamental na cidade, não só trazendo melhorias à paisagem urbana, como gerando uma maior consciência na sociedade. Infelizmente, nos Estados Unidos, a administração de Donald Trump ameaçou acabar com o apoio financeiro para projetos como esse. Por isso, a ajuda de cada cidadão é importante para dar continuidade ao trabalho iniciado pelas Agências de Proteção Ambiental.
No vídeo a seguir, você pode obter mais informações sobre o funcionamento do 'Sr. Trash Wheel' e do ' ‘Professor Trash Wheel’:
A ideia de Kellett tem inspirado outras cidades do mundo. Veja a seguir!
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Exemplos de ecobarreiras no Brasil
Há alguns anos, um professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Gino Gehlung, que lecionava a disciplina de Resíduos Sólidos e Sistema de Água e Esgoto, desenvolveu um projeto de ecobarreira. Ele teve como parceiro o engenheiro Rodrigo Zancanella. Mas foi o vice-presidente da empresa, Luiz Carlos Zancanella Júnior, que idealizou uma ação de implantação da proposta no Arroio Dilúvio, em Porto Alegre. Sua inspiração foi, justamente, o projeto desenvolvido na cidade de Baltimore.
Ação no Arroio Dilúvio
A construção da Ecobarreira do Arroio Dilúvio contou com a parceria dos departamentos de Esgotos Pluviais e de Limpeza Urbana da cidade e do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. O objetivo era auxiliar o processo de despoluição do Lago Guaíba, cuja bacia hidrográfica abrange uma área de quase noventa quilômetros quadrados. Após apenas vinte dias de operação, a barreira já havia recolhido mais de treze toneladas de lixo, ultrapassando bastante o resultado esperado.
A ecobarreira de Porto Alegre é formada por uma armadilha de vinte centímetros de profundidade, que flutua de um lado ao outro do arroio, impedindo a passagem do lixo flutuante. Os resíduos sólidos são retidos em uma espécie de gaiola metálica. Duas vezes por dia, uma equipe é encaminhada ao local para içar a estrutura e levar o que foi recolhido ao aterro sanitário. Dentre os materiais já capturados estão pneus, garrafas pet, sacolas plásticas, roupas, móveis, restos de entulhos de obras e até animais mortos. Se tudo isso chegasse ao Guaíba, mais do que comprometer a paisagem, contaminaria a natureza, proliferaria vetores e disseminaria graves doenças.
Todos nós desejamos viver em cidades mais sustentáveis. Os dois casos acima são bons exemplos de ações que incentivam esse processo de transformação. No entanto, não adianta tratar a água se as pessoas continuarem jogando lixo. Para alçar esse objetivo, é preciso conscientização.
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Fontes: National Geographic, Discovery, Inhabitat, Digital Trends, LA Times, G1.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.