Em tempos de mudanças climáticas, milhões de pessoas sofrem com escassez de água. Agora imagine poder extrair água potável do próprio ar ao nosso redor, mesmo em regiões áridas ou até desérticas, onde as chuvas são fenômenos raros. Já ouvimos tanto essa promessa dos cientistas, mas parece que desta vez isso pode se tornar realidade através de uma nova proposta: a coleta de neblina. Essa tecnologia seria simples, eficiente e de baixo custo; uma alternativa viável e sustentável da engenharia para o combate à crise hídrica, levando esperança a centenas (ou até milhares) de comunidades ao redor do mundo.
A saber, estima-se que mais de 2 bilhões de pessoas viverão em regiões com estresse hídrico severo até 2050.
Em que consiste a técnica de coleta de neblina
Já conversamos aqui, no Engenharia 360, sobre tecnologias para gerar água limpa e saudável a partir da umidade do ar. Acontece que a escala desse projeto é diferente, é maior, podendo beneficiar centenas ou até milhares de famílias. A coleta de neblina, ou “fog harvesting”, é uma técnica que consiste em capturar a umidade presente no ar através de grandes estruturas, como telas ou redes. Claro que essas redes ficam expostas ao vento e são feitas de materiais especiais, capturando as gotículas de água e favorecendo a condensação.
Basicamente funciona assim: as gotas escorregam pelas redes verticais até toneis de armazenamento. Ou seja, todo esse processo ocorre de modo natural, pela física, sem requerer eletricidade. Por isso mesmo, pode ser instalado em locais remotos, como regiões da Eritreia, Etiópia e Gana.
Benefícios da tecnologia de redes de coleta de neblina
Além de eficaz, a tecnologia é acessível. Um coletor de 40 metros quadrados pode custar cerca de US$ 1.500 (aproximadamente R$ 8.500 em 2025) e gerar até 200 litros de água por dia, dependendo das condições climáticas da região. A média de produção gira em torno de 2,5 litros de água por metro quadrado por dia. Com essa estimativa, um sistema de 17 mil metros quadrados (o equivalente a dois campos e meio de futebol) conseguiria suprir toda a demanda hídrica de uma comunidade de cerca de cem mil habitantes.
Exemplos de casos de aplicações globais
Marrocos
A maior instalação de coleta de neblina do mundo em funcionamento está localizada em Aït Baamrane, no sudoeste do Marrocos, uma região que sofre com escassez de chuva durante quase o ano todo. Porém, durante seis meses, uma neblina densa vinda do Oceano Atlântico paira sobre as suas montanhas. Os engenheiros resolveram aproveitar esse fenômeno natural. Eles instalaram uma rede de 1.700 metros quadrados para coleta de água. O resultado? Uma média de 35 mil litros captados por dia, suficientes para abastecer mais de mil pessoas, além de irrigar plantações locais.
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Chile
Outro exemplo é uma instalação feita no deserto do Atacama, no norte do Chile. Por lá, chove menos de um milímetro por ano e o solo seco é um desafio para as comunidades mais isoladas. A principal fonte de água da região sempre foi as reservas subterrâneas profundas, formadas há mais de 10 mil anos. Mas seu reabastecimento é lento demais diante da urgente necessidade por água. Pensando nisso, os engenheiros instalaram coletores em Alto Hospicio, cidade com várias famílias em situação de vulnerabilidade. Agora conseguem-se 10 mil litros por metro quadrado em poucos dias, abastecendo casas e irrigando áreas agrícolas e verdes.
Potencial urbano da distribuição de água de neblina
O desenvolvimento da técnica de coleta de neblina envolveu o conhecimento de engenharia ambiental, civil e hidráulica, incluindo estudo de ventos e topografia. Seu potencial de adaptação para ambientes urbanos foi revelado em uma publicação da revista científica ‘Frontiers in Environmental Science’. Prédios, viadutos, parques e áreas verdes em zonas costeiras e montanhosas seriam os locais ideais para a instalação das redes de captação de umidade. O volume gerado poderia ser suficiente pelo menos para diminuir o uso de água potável para a irrigação de jardins urbanos e promover um ambiente mais saudável para a vida.

O problema é que, como é de se imaginar, precisaríamos contar com a disponibilidade de neblina - e de outras fontes de água, como cisternas, durante os meses mais secos. A logística de distribuição dessa água coletada precisa ser pensada com inteligência; pode-se usar tubulações, reservatórios estratégicos ou até transporte por caminhões, dependendo da geografia e da infraestrutura local. É essencial desenvolver materiais que aumentem a eficiência da condensação, resistentes às condições adversas. E, ademais, realizar a manutenção constante das redes para manter sua eficiência.
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Eduardo Mikail
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