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O que são cidades-esponja e como elas podem dar fim às enchentes?

Engenharia 360
por Simone Tagliani
| 27/05/2024 5 min
Imagem divulgação Turenscape reproduzida de NSC Total

O que são cidades-esponja e como elas podem dar fim às enchentes?

por Simone Tagliani | 27/05/2024
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No mês de maio de 2024, alguns portais de notícias citaram o exemplo urbano das cidades-esponja; e nós, do Engenharia 360, acreditamos que este tema é bastante atual e seu debate é muito conveniente diante da tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul. O estado está enfrentando sua pior crise ambiental. Por isso, muitos especialistas estão trazendo à tona esse debate sobre as soluções mais eficazes para a gestão de águas pluviais.

Uma coisa é certa, as infraestruturas tradicionais de contenção de águas já não servem mais para a complexidade dos problemas enfrentados, como de inundações urbanas - sobretudo mediante às mudanças climáticas. Implementar o conceito das cidades-esponja, seja no Rio Grande do Sul ou em outros estados, poderia reduzir significativamente o risco de enchentes em diversas cidades brasileiras, talvez evitando tragédias como as que estamos testemunhando nos últimos anos.

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cidades-esponja contra enchentes
Imagem divulgação Turenscape reproduzida de NSC Total

O conceito de cidades-esponja

O conceito das cidades-esponja tem ganhado muito destaque. Ele foi lançado pelo arquiteto e urbanista chinês Kongjian Yu e faz relação com o desenvolvimento de infraestruturas para lidar com água da chuva - absorvendo, armazenando e redistribuindo adequadamente -, minimizando o impacto das enchentes. Tal modelo prioriza a retenção da água no solo em áreas específicas, reduzindo o escoamento superficial e o risco de inundações, além de promover a sustentabilidade e a resiliência urbana a longo prazo.

Yu teve essa ideia depois da tragédia de 2012 em Pequim, que vitimou 80 pessoas. Essa cidade sofre demais com os efeitos das monções. E a sugestão do projetista é trabalhar com o paisagismo para protegê-la. Em sua proposta está, por exemplo:

  • construção de mais áreas permeáveis,
  • criação de canais para desaceleração do fluxo da água e zonas alagáveis.
  • implantação de sistemas de drenagem natural,
  • e mais, como jardins de chuvas, valas de infiltração e bueiros ecológicos.
cidades-esponja contra enchentes
Imagem divulgação Turenscape reproduzida de BBC Brasil
cidades-esponja contra enchentes
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Veja Também: Confira exemplos de intervenção de engenharia urbana para promover a inclusão nas cidades

Como funcionam as cidades-esponja

Todas essas estruturas que foram propostas por Kongjian Yu para Pequim são, obviamente, muito estudadas pela engenharia e arquitetura. Porém, por dizersas vezes negadas pelos gestores políticos. Esse conjunto é muito necessário e deveria fazer parte dos planos de saneamento de qualquer cidade, principalmente como Porto Alegre, que está tão vulnerável às águas do Estuário Guaíba.

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Tentando entender como funcionam as cidades-esponja, resolvemos resumir o conceito em três etapas:

  1. Retenção: "Segurar" a água da chuva em parques, jardins, telhados verdes e mais, reduzindo o volume que escoa para as ruas, canalizações e rios.
  2. Desaceleração: Tentar fazer com que essa água, antes saindo desses tanques de retenção até o seu destino, diminuam sua velocidade e, assim, sua força, dando mais tempo para a absorção.
  3. Armazenamento e reutilização: Usar e abusar das cisternas e outros sistemas de coleta para diminuir essa quantidade de água que iria para a rede pluvia e, incluive, guardar parte dela para irrigação, lavagem de ruas e descarga de vasos sanitários, sobretudo pensando nas estações seguintes, que podem apresentar períodos de seca.
cidades-esponja contra enchentes
Imagem divulgação Turenscape reproduzida de BBC Brasil

Exemplos de caso

Já citamos antes o caso da China. Mas vale ainda dizer que, em 2015, o governo implementou um projeto-piloto para várias cidades, com resultados positivos. Em Houtan Park, por exemplo, uma área industrial degradada foi transformada em parque-esponja que filtra a água, reduz a velocidade do fluxo do rio e cria um habitat para a vida selvagem.

O conceito das cidades-esponja também foi adotado por outros países, como Tailândia e Indonésia. Projetos urbanos na mesma linha podem ser visto em Berlim, Copenhague e Nova York, que têm implementado telhados verdes, jardins de chuva e pavimentos permeáveis para melhorar a gestão de águas pluviais e reduzir o risco de enchentes.

cidades-esponja contra enchentes
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Veja Também: O que é Urbanismo Tático que Transforma Ruas em Espaços de Convívio?

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Benefícios das cidades-esponja

Os pesquisadores urbanos, analisando os casos práticos de implementação de soluções para cidades-esponja, já identificaram alguns benefícios do conceito lançado pelo arquiteto Kongjian Yu. Como, por exemplo:

  • Melhoria da qualidade da água: A infiltração da água no solo das cidades ajuda a filtrar e purificar a água, reduzindo a poluição e protegendo os recursos hídricos.
  • Redução do efeito "ilha de calor": As áreas verdes e a presença de água contribuem para a regulação da temperatura ambiente, diminuindo o efeito "ilha de calor" nas cidades.
  • Promoção da biodiversidade: A criação de habitats naturais atrai diversos animais e plantas, aumentando a biodiversidade urbana.
  • Melhoria da qualidade de vida: As áreas verdes e a infraestrutura sustentável proporcionam um ambiente mais agradável e saudável para os habitantes.
cidades-esponja contra enchentes
Imagem divulgação Turenscape reproduzida de NSC Total

Cidades-esponja no Brasil

Por incrível que pareça, o Brasil tem, sim, excelentes exemplos de cidades-esponja, como São Paulo, Niterói e Belo Horizonte. Jardins de chuva, áreas permeáveis e telhados verdes são alguns exemplos de técnicas que estão sendo utilizadas para absorver a água da chuva e reduzir o risco de inundações.

Agora, por que esta não é uma realidade em todas as cidades brasileiras? Bem, desconhecimento da maioria dos gestores já é a primeira causa. Muitos não conhecem as opções e nem mesmo se dão ao trabalho de consultar especialistas da área da engenharia e arquitetura para encontrar as melhores respostas para os problemas de enchentes e inundações. Outros deixam de realizar as manutenções dos sistemas implementados - que é o que supostamente teria acontecido em Porto Alegre.

É difícil convencer algumas autoridades de que o custo das mudanças é um investimento necessário, sem contar de que é preciso aumentar a aposta em soluções sustentáveis e baseadas na natureza. Também é preciso haver uma melhor coordenação entre diferentes níveis de governo e setores da sociedade. Certamente, sem superar essas barreiras, não iremos em frente e as consequências são estas que já conhecemos, devastadoras!

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Fontes: NSC Total, BBC, G1, Educa Mais Brasil.

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Simone Tagliani

Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.

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