Responde para nós: qual a sua visão sobre o atual ensino de Engenharia no Brasil, por exemplo? Bem, nós sabemos que o nosso país peca demais quando se trata de educação. Porém, ao mesmo tempo, temos excelentes universidades em nosso território. Essas instituições seguem o plano básico estipulado pelo MEC. Porém, têm a sua liberdade de montar um currículo de acordo como veem as necessidades e oportunidades do mercado local. A maioria segue acompanhando a evolução das ciências e tecnologias, claro. Mesmo assim, muitos alunos saem da graduação sentindo como se estivessem um passo atrás em algumas questões. Leia o texto a seguir para entender melhor essa questão!
Faltam mais disciplinas relacionadas à...
Programação e Softs Skills
Prova do que dissemos antes é o testemunho da colaboradora do Engenharia 360, Ana Claudia. Ela conta o seguinte: "Me formei em 2019 e, naquela época, já se falava muito em Machine Learning, IOT, etc.; e a gente ainda estava tendo 'Lógica de Programação I e II' somente, utilizando C++. Acho que Programação em R e Phyton agregariam mais os currículos da Engenharia de Produção. Num contexto geral, vejo que falta (muito) Estatística Aplicada também.". Agora, será que essa opinião é isolada? Estendemos a questão da profissional para outros redatores. Veja como foram os seus feedbaks!
Diego Rafael Santos diz o seguinte:
"Na universidade, também estudei C++ na grade oficial do curso. Acredito que um dos motivos seja o fato de ser uma linguagem aberta e gratuita. Contudo, vejo que seria mais produtivo para o mercado o curso contar com Programação em Python e noções de Machine Learning, por exemplo. Também ressalto que as universidades precisam incluir disciplinas relacionadas às softs skills na grade de qualquer curso. Skills relacionadas: empatia, comunicação, pensamento crítico, inteligência emocional, aprender a aprender, multidisciplinaridade, liderança e criatividade."
"Por fim, vejo que, na conjuntura atual do desenvolvimento tecnológico, todas as universidades também deveriam incluir disciplinas com, pelo menos, conceitos básicos de transformação digital/tecnológica e seus impactos no mercado e na sociedade."
"Todos esses aspectos deixariam os profissionais recém-formados mais preparados para o mercado altamente dinâmico e competitivo que vivemos."
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Empreendedorismo
Daniel dos Santos Silva ressalta que:
"Antes de falar qual matéria incluiria, já digo qual iria tirar, Religião. Essa matéria existe em algumas faculdades mantidas por instituições religiosas, mas a matéria não compactua em nada com qualquer curso em si."
"Quanto à que incluiria, provavelmente seria uma matéria que aplicaria os conhecimentos técnicos dando o caminho para a monetização. O engenheiro sai da faculdade e não vê outro caminho além de procurar um emprego em uma empresa, onde muitas vezes nem como engenheiro será contratado, para exercer sua profissão. E minha opinião sobre isso é pelo fato de que este não obteve o conhecimento necessário de onde e como aplicar seu conhecimento no mercado de trabalho."
E nosso colega Rafael Rosa ainda acrescenta:
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"Uma coisa que acho falta também nas faculdades é que fica todo muito na teoria. Tinha que ter pelo menos um semestre de 'residência', tipo médico mesmo, para a pessoa ver, na prática, tudo funcionando e, inclusive, entender melhor onde pode agir de forma mais proveitosa. Uma coisa é estágio, outra seria mesmo a 'residência'!"
Os alunos também precisam "correr atrás da máquina"
Capacitação contínua
Cristiano Oliveira da Silva vai além, analisando não as universidades brasileiras, mas seus alunos:
"Eu acredito que o processo de aprendizagem envolvido nas engenharias, principalmente na Civil, transmite um volume grande de conhecimento, que vai ficando cada vez mais específico. Então, entendo que o papel da universidade é disponibilizar o máximo possível esse conhecimento. Porque o mercado/cadeia da AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção) é bastante complexo com muitas possibilidades. Desde conceitos conceituais, passando por projetos, planejamento, orçamentação, construção, manutenção e gestão de ativos. Todas essas áreas ramificam em outras subáreas."
"Aí é papel do estudante buscar as matérias com as quais mais se identifica e ver onde isso é valioso. Eu mesmo acabei indo para a área de projetos, pois gostava de resmat e cálculo. Então, não sinto falta de uma matéria específica. Gostei de aprender linguagem de programação (também C++, muito bom entender lógica de programação). As matérias de cálculo eram as mais legais; gostava de não ter que usar calculadora, tabela de derivadas, integrais, edo's, séries infinitas, e mais. Curtia aprender e resolver tudo isso 'na unha' (gosto é gosto, vai entender)."
"Então, creio que um caminho legal para quem busca um trabalho em engenharia que seja prazeroso e traga bons rendimentos, começa por conhecer toda a cadeia AEC, as empresas envolvidas, o que negociam (projetos, gerenciamentos, manutenção, fornecimento de insumos, e além) e entender que trabalhos são fornecidos."
"A formação do engenheiro traz implícita uma capacidade de formular objetivos, transformar isso em metas, em serviços e em soluções para o mercado público e privado. Isso faz com que ele possa atuar também em trabalhos que envolvam análise de investimentos, gestão corporativa, bancos dentre outros mercados não relacionados diretamente à engenharia, mas que demandam capacidade de análise e tomada de decisão."
"Em relação às soft skills, algumas disciplinas desenvolvem-nas mais intencionalmente, como gestão de projetos, resiliência, capacidade de gestão de tempo, falar em público. O importante, independente da engenharia, é estar aberto ao conhecimento disponibilizado".
Reflexão final sobre as transformações no ensino
E, para finalizar, pegando o gancho da AEC, nossa colaboradora Simone Tagliani levanta as seguintes questões:
"Na época que estudei Arquitetura, uma das disciplinas deficientes, com poucas horas em relação à sua complexidade, era a Topografia. Também sempre achei a área de Informática e Automação muito aquém, em comparação ao mundo em que vivemos. E, por fim, a de Sustentabilidade e Ecologia, com poucos créditos e opcional, pensando nos problemas que temos hoje, deveria estar no topo da discussão de tudo. Nas disciplinas de projetos, se falava de coisas como reaproveitamento de água e telhados verdes como se fosse novidade ou moda. Ruim isso!"
"Pense bem no momento de transformação que estamos vivendo. Certamente, algumas disciplinas que eram antes só de introdução, que possuíam poucos créditos, hoje devem ganhar mais espaço na grade, pois abordam problemas atuais, questões urgentes. E quais disciplinas seriam estas? Por exemplo, nunca tive nenhuma aula sobre robótica na construção civil, acreditem. E hoje acharia um absurdo não ter. E vou além, algumas engenharias mais a Arquitetura estão sendo 'jogadas' como cursos ead. Como isso afeta o aprendizado desses temas que já nos eram falhos? Tipo, dá para aprender tudo que foi citado pelos colegas redatores do 360 à distância, muitas vezes sem vídeo aulas? Fica a reflexão!".
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Eduardo Mikail
Somos uma equipe de apaixonados por inovação, liderada pelo engenheiro Eduardo Mikail, e com “DNA” na Engenharia. Nosso objetivo é mostrar ao mundo a presença e beleza das engenharias em nossas vidas e toda transformação que podem promover na sociedade.