O Superadobe é um material considerado “sustentável”, por utilizar recursos locais e, de acordo com sua experiência de uso no mundo, é adaptado a climas extremos e resiste a terremotos. A gente já comentou sobre materiais alternativos na construção civil, com uma perspectiva sustentável, mas o caráter do Superadobe supera isso e entra na arquitetura tradicional.

De onde veio a ideia?
O Superadobe foi projetado pelo arquiteto iraniano-americano Nader Khalili. Ele propôs pela primeira vez a “construção” de um saco de terra em um simpósio da NASA em 1984, que encarregou os participantes de compartilhar ideias sobre como construir na Lua e em Marte, usando material disponível no local, pois os custos de levar materiais da Terra para o espaço seriam exorbitantes.

O Superadobe de Nader Khalili foi inspirado em habitações antigas em climas rigorosos, como os desertos do Oriente Médio. Nesse sentido, estruturas nas quais baseou-se a ideia do Superadobe já tinham se mostrado preparadas para suportar desastres naturais devastadores. Inclusive, já tendo sido empregado em construções, edifícios de Superadobe permaneceram de pé, mesmo após o terremoto de magnitude 7,2 no Nepal em 2015 e o furacão Maria em Porto Rico.
Como é feito o Superadobe?
O Superadobe baseia-se em sacos de polipropileno preenchidos com uma mistura de terra e cal, que são empilhados uns sobre os outros. As paredes da casa ou da edificação a ser construída são então cobertas por camadas de terra, cal, grama e esterco de cavalo. Em seguida, podem ser telhas de barro fabricadas localmente ou derivados que componham a arquitetura regional. O mais legal é que, em termos de arquitetura e do uso da terra, o uso do Superadobe permite preservar a cultura e tradições locais.
Superadobe não é diferente de adobe, que é tradicional em algumas comunidades. O Adobe, no caso, é um material à base de terra que consiste em solo compactado com materiais orgânicos, como hastes de milho, feno e esterco animal. É um dos materiais de construção mais antigos do mundo, embora seus componentes exatos possam variar.

Então o que há de diferente se o Superadobe também é fabricado a partir de terra e materiais orgânicos? Bem, a mistura é fortificada com cal, depois comprimida em sacos de polipropileno (o mesmo material usado para criar diques de sacos de areia) que são empilhados uns sobre os outros e separados por arame farpado. Isso permite alocar os sacos em diferentes formas.
Calcula-se que as residências construídas com Superadobe durem séculos e sejam lucrativas para produzir. Em comunidades afastadas, a produção do material também carrega o potencial de criar autonomia e empregos mais bem pagos para a população local.
Superadobe pelo mundo:
Atualmente, existem inúmeras casas de Superadobe em todo o mundo, desde abrigos de emergência até casas luxuosas. O Superadobe tem sido usado para tudo: desde estruturas construídas pela Oxfam International no campo de refugiados na Jordânia, até um prédio da organização educacional sem fins lucrativos Ojai Foundation, que sobreviveu ao incêndio florestal devastador de dezembro de 2017.

Muitos deles são em forma de cúpula, que é considerado mais resistente aos elementos por causa da física por trás da construção do arco. Mas também é possível realizar a construção com um design mais tradicional.

Tanto o Adobe quanto o Superadobe são aplicáveis em climas extremos. Como exemplo, Hueyapan, no México, que a uma altitude de 2.500m pode ter temperaturas muito baixas durante a noite e sol escaldante durante o dia. Sendo um material térmico, o Superadobe capta o calor do dia (dando a sensação de frescor), liberando-o nas estruturas durante a noite.

E aí? Parece uma alternativa concreta? 😉

Kamila Jessie
Engenheira ambiental e sanitarista, MSc. e atualmente doutoranda em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo. http://orcid.org/0000-0002-6881-4217