Engenharia 360

Saiba como a falta de saneamento pode prejudicar as Olimpíadas de 2016

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por Larissa Fereguetti
| 19/08/2015 4 min

Saiba como a falta de saneamento pode prejudicar as Olimpíadas de 2016

por Larissa Fereguetti | 19/08/2015
Engenharia 360

Imagine a emoção dos atletas que competirão nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Agora, imagine competir em meio a uma água repleta de lixo e esgoto e com odor desagradável.

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A atleta Martine Grael registrou o momento em que encontrou uma televisão enquanto treinava. Imagem: globoesporte.globo.com

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Ultimamente, vários projetos foram executados no Rio de Janeiro para receber os jogos. Dentre eles, um contempla a coleta e o tratamento de esgotos lançados nos corpos hídricos. No entanto, o projeto demonstra que não vai ficar pronto a tempo, oferecendo risco à saúde dos competidores.

A ideia era de coletar e tratar 80% dos esgotos lançados na Baía de Guanabara. Porém, mesmo a poucos meses da realização do evento, a finalização não está nem perto do programado. E vale ressaltar que um Programa de Despoluição da Baía de Guanabara existe desde a década de 90.

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Imagem: O Globo

Em janeiro deste ano, aproximadamente 4,2 milhões de pessoas ainda viviam sem saneamento básico no entorno da baía e 10 mil litros por segundo eram despejados no local. Se falar da Lagoa Rodrigo de Freitas, que também é um dos locais que gera preocupação sobre a qualidade da água.

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A Associated Press realizou uma investigação nas águas dos locais de competição e constatou a presença de bactérias e vírus em grande quantidade. No entanto, uma polêmica surgiu quanto ao fato de a presença de vírus não ser considerada nas análises de água brasileira. É analisada somente a presença de bactérias, além de outros indicadores, um padrão aceito globalmente.

Nos Estados Unidos, a presença de vírus na água começa a ser defendida por especialistas no assunto, associando a qualidade da água e as doenças provenientes desse meio. Ao menos no Brasil, ainda não há um consenso sobre padrões para a quantidade de vírus na água.

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Imagem: portalpe10.com.br

Enquanto isso, vários atletas relataram ter sofrido com os sintomas de diarreia, febre e vômitos, mas ainda não se sabe se é devido ao contato com a água ou outra forma de contaminação.

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O Comitê Olímpico Internacional (COI) descartou a possibilidade de realização de testes para identificação de vírus nas águas. De acordo com o COI, somente as bactérias são suficientes para a avaliação da qualidade da água para uso recreativo. Poucos dias depois, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou que testes virais fossem realizados.

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Imagem: olimpiadas.uol.com.br

E como os engenheiros estão envolvidos? Antes de responder é preciso voltar na história para citar um exemplo. Então, voltemos a Inglaterra do século 19, quando epidemias de cólera dizimaram a população. Na época, as teorias de John Snow sobre a transmissão da cólera por meio da água foram enfim comprovadas e, com muito custo, derrubaram a teoria dos miasmas, o engenheiro Joseph Bazalgett assumiu o projeto de ampliação da rede de esgoto.

Naquela época, mal sabia-se que o que causava a cólera era uma bactéria, sabia-se basicamente que a contaminação era causada por algo nos dejetos expelidos pelos doentes e que alcançava as bombas de água. Porém, a equipe de Bazalgett tratou logo de construir redes de esgoto que levassem os efluentes para o mais distante possível da população.

O investimento em saneamento foi motivado pela necessidade de resguardar a saúde da população e, diante da situação da época, foi uma questão de sobrevivência. Em resumo, os engenheiros são responsáveis por projetar sistemas eficientes de coleta e tratamento de esgoto, além de outros sistemas voltados para o saneamento, como o de abastecimento de água e de drenagem pluvial.

A um ano das Olimpíadas, as águas do Rio de Janeiro estão repletas de lixo e dejetos humanos, além de exalarem odor desagradável. O esgoto, que deveria ser coletado e direcionado para longe da população, além de ser tratado antes de ser despejado no corpo hídrico final, está visivelmente diluído nas águas do Rio de Janeiro (e de vários outros locais brasileiros também!).

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Imagem: aguanaturezaevida.wordpress.com

Ainda na década de 90, a Agência de Cooperação Internacional do Japão investiu nas estações de tratamento de esgoto do Rio. Porém, durante muito tempo nenhuma delas operou com a capacidade plena e o projeto foi dado como insatisfatório.

As questões relacionadas ao saneamento ainda são negligenciadas em todo o Brasil. As águas do Rio de Janeiro não deveriam ser despoluídas só porque será realizada uma olimpíada, deveriam ter sido despoluídas há muito tempo para oferecer boas condições de saneamento para a população, antes mesmo que as olimpíadas fossem programadas. Afinal, é um projeto antigo e tecnologia para isso é o que não falta.

Vale ressaltar que, quando o saneamento for realmente considerado, é provável que haja uma demanda alta por engenheiros com formação voltada para essa área. Fora isso resta, a grosso modo, torcer para que os atletas “criem resistência” ao conteúdo das águas nacionais até a competição.

Referências:Associated Press; The New York Times; Agência Brasil; Estadão; Folha de São Paulo.

 
 
 
 

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Larissa Fereguetti

Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.

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