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DENÚNCIA - Ponte Jurumirim | Qual o real estado de conservação das pontes e viadutos no Brasil?

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por Cristiano Oliveira da Silva
| 11/01/2022 | Atualizado em 27/01/2023 5 min
Imagem reproduzida de wanzamhobby Drone em YouTube

DENÚNCIA - Ponte Jurumirim | Qual o real estado de conservação das pontes e viadutos no Brasil?

por Cristiano Oliveira da Silva | 11/01/2022 | Atualizado em 27/01/2023
Imagem reproduzida de wanzamhobby Drone em YouTube
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Na última semana, mais precisamente no dia 5 de janeiro de 2022, um vídeo foi postado em um canal no YouTube com meio milhão de inscritos, e o mesmo chamou bastante a atenção da equipe do Engenharia 360. Na gravação, o senhor filma, com a ajuda de um drone, a Ponte Jurumirim sobre o Rio Taquari, na Rodovia Raposo Tavares, ligando as cidades de Piraju e Itaí. A situação atual da estrutura, como podemos ver nas imagens, é surpreendente. Praticamente não dá para imaginar como ela está de pé! Pedimos que você primeiro assista ao vídeo - cujo link deixaremos anexados a seguir -, depois leia o texto com a nossa análise sobre o caso e tire as suas conclusões.

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“Buracos” nos pilares. | Imagem reproduzida de wanzamhobby Drone em YouTube

Principais características da estrutura

Vamos lá, começando a nossa análise! A ponte que aparece no vídeo acima é feita de concreto. Ela possui 7 vãos. Provavelmente, possui vigas pré-moldadas e protendidas, apoiadas sobre pilares moldados in loco.

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Principais problemas observados:

  • travessa de apoio com fissura de ruptura por cisalhamento;
  • vigas longitudinais – armadura severamente exposta, sujeita à oxidação e com perda de área de seção transversal;
  • pilares – severamente danificados, perda de seção de concreto;
  • presença de crustáceos solidarizados ao concreto dos pilares.

Essa situação, por si só, é grave o suficiente para interditar a ponte e proceder com os reparos e recuperação estrutural em caráter de urgência.

E por que ainda está de pé? Porque as cargas buscam um caminho alternativo para descarregar na fundação.

Como assim? Se observarem, os pilares possuem sua “alma” (parte central da seção transversal) corrompida/ ruída, então a carga está “descendo” pelo pilar através das “mesas” (que são as partes laterais do pilar no caso em questão). Ou seja, essa parte pode estar sendo sobrecarregada. Mas, graças aos famigerados fatores de segurança, está conseguindo manter a ponte em pé.

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Mas por quanto tempo? Vale aguardar para ver o que acontece ou intervir logo?

E o que precisa ser feito efetivamente para restaurar as condições mínimas de segurança?

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Imagem reproduzida de wanzamhobby Drone em YouTube
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Medidas necessárias para recuperar a ponte

Para intervir e recuperar a ponte, é necessário:

  • Mapear TODAS as patologias (fissuras e dimensão da abertura; pontos de armadura exposta; pontos de perda de seção transversal de armadura e de concreto; condições dos taludes adjacentes aos acessos à ponte; condições da pista de rolamento, guarda-corpos). Nessa etapa de mapeamento, é fundamental a identificação das patologias e ser o mais descritivo possível. Por exemplo, uma descrição de fissura, seria algo do tipo “fissura localizada na viga V3, na posição X, com abertura de 0,6mm”. O importante nessa etapa é se concentrar no levantamento dos problemas/patologias e descrição o mais detalhada possível.
  • Realizada a etapa de mapeamento, um Engenheiro deverá avaliar a severidade dos danos. Isso para que seja realizada uma hierarquização que irá servir de orientação para os trabalhos de reparo. Isso é necessário porque há danos mais severos que demandam intervenção urgente e há danos que não são tão urgentes e não colocam vidas em risco.
  • Realizadas as duas etapas anteriores, o caminho é elaborar um Plano de Ações Corretivas, onde serão descritas as ações necessárias para recompor a condição de trabalho dos elementos danificados.

As etapas citadas acima, são rotinas de Concessionárias Rodoviárias. Quando ganham a concessão de uma rodovia, às concessionárias, por força contratual, são obrigadas a realizar inspeções periódicas em todas as Obras de Arte Especiais (Pontes, viadutos, travessias) e proceder com o devido plano de manutenção.

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O mesmo deveria ocorrer em todas as rodovias (e não apenas nas pedagiadas), entretanto, na prática, não ocorre e é além de possível, provável que muitas outras pontes se encontram nessa situação. Isso porque, além da falta de manutenção, temos diversas pontes construídas nas décadas de 60, 70, 80.. ou seja, são em média estruturas com 50 anos e que sofreram a ação do tempo.

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Vista travessa | Imagem reproduzida de wanzamhobby Drone em YouTube
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Vista travessa com fissura de ruptura por cisalhamento no apoio / face inferior das vigas longitudinais com armadura exposta. | Imagem reproduzida de wanzamhobby Drone em YouTube
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Vigas de sustentação – no vídeo é dito o nome errado, são pilares ou colunas. | Imagem reproduzida de wanzamhobby Drone em YouTube

Questionado pelo G1, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) não informou se os buracos nos pilares de sustentação da Ponte Jurumirim oferecem risco aos moradores. Em nota, o órgão disse que "foi feito um relatório com inspeções técnicas (inclusive subaquáticas) a respeito da estrutura da ponte sobre o Rio Taquari (SP 270, km 295,3) e, com base neste, o Departamento já estuda a realização de um processo licitatório para recuperar os problemas detectados".

O vídeo a seguir mostra a opinião de um especialista consultado pelo presidente do CREA-SP. Assista e depois conte se você concorda ou não!

Nossa opinião é de que a ponte que apresentamos como exemplo demanda intervenção imediata e a realização de um trabalho de recuperação URGENTE. Torçamos para isso ocorrer o quanto antes e vidas possam ser salvas!

Veja Também: Descubra qual a importância do estudo da influência de cargas dinâmicas em pontes rodoviárias


Imagens: Todos os Créditos reservados aos respectivos proprietários (sem direitos autorais pretendidos). Caso eventualmente você se considere titular de direitos sobre algumas das imagens em questão, por favor entre em contato com contato@engenharia360.com para que possa ser atribuído o respectivo crédito ou providenciada a sua remoção, conforme o caso.

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Cristiano Oliveira da Silva

Engenheiro Civil; formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; com conhecimentos em 'BIM Manager at OEC'; promove palestras com foco em Capacitação e Disseminação de BIM / Soft Skills.

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