Você conhece a ordem cronológica do planejamento de uma obra? O orçamento deve ser realizado antes do planejamento? Ou é melhor traçarmos o planejamento primeiro? Vamos analisar o problema.
Primeiro, tenha em mente que existe uma linha tênue entre o planejamento e o orçamento. Aliás, será que essa linha realmente existe, já que ambas atividades são conexas e indissociáveis?
Se você acha que a tarefa de um engenheiro de custos se limita apenas em calcular o custo de uma obra e a de um engenheiro de planejamento é de apenas montar o cronograma, está totalmente enganado. Quando, no planejamento, vamos dimensionar a duração de uma atividade dentro de um cronograma, precisamos conhecer os índices de produtividade adotados pelo orçamento.
Por outro lado, quando vamos estimar o custo da mão de obra no orçamento, é preciso saber se existirão atividades sendo executadas em turno da noite, quantas frentes simultâneas serão atacadas, qual o nível de detalhamento exigido para os serviços de acabamento - tudo isso com intuito de dimensionar os custos diretos e indiretos da obra da maneira mais precisa possível.
Orçamento e planejamento devem ser realizados em paralelo, o que raramente ocorre nas construtoras. Quando se trata do orçamento para uma licitação pública, por exemplo, o que vemos na maioria dos casos é que só se pensa em planejamento mais tarde, na fase de mobilização da obra e início da construção, fase que já deveria estar tudo planejado. E o orçamento é muito mais um preenchimento de planilha de preços do que propriamente um estudo do custo da obra através de simulações de antecipação de prazo.
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Pontos onde o orçamento depende do planejamento e vice-versa, de acordo com o estudo realizado por Mattos (2015):
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EAP
A Estrutura Analítica do Projeto (EAP) nada mais é do que a decomposição do escopo total da obra em pacotes de trabalho. Como o propósito da EAP é desmembrar a obra em serviços que serão quantificados, orçados e aferidos no campo, é de bom grado que o planejamento da obra seja levado em conta quando falamos da definição da EAP.
Por exemplo, uma obra de barragem sofrerá uma grande escavação de solo a ser feita em uma das margens, porém o planejamento mostra que esse material não poderá ser totalmente transportado até o local do aterro por dificuldade de acesso, nível do rio e por ter ligações diretas com outros serviços. Ou seja, boa parte do material escavado precisará ser estocado, o que ocasionará a necessidade de duas cargas. Se o orçamento não levar isso em conta, faltará dinheiro lá na frente, subtraindo de um possível lucro.
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Mobilização de equipamentos
Obras grandes ou pequenas requerem a mobilização de equipamentos de escavação, transporte, içamento de cargas, etc. O dimensionamento desses equipamentos -tipo e quantidade- é uma tarefa espinhosa para o orçamentista, que terá que imaginar o processo executivo e traçar a melhor escolha com base em experiência, tabelas ou histórico da empresa.
Vamos imaginar que a obra seja um estádio de futebol. Quantas gruas deverão ser mobilizadas? É possível utilizar apenas uma grua que vá ser transferida para outras posições ao longo da construção? Qual o caminho das transições para melhor produtividade? Ou será que essa mudança aumentará demais o prazo da obra? Para responder tudo isso, o orçamentista precisa conhecer o plano de ataque da obra, que é uma atividade elaborada pelo departamento de planejamento.
Quantidade de turnos
A situação mais comum é que uma obra seja feita durante a jornada de trabalho dos operários (07h às 17h), sem a necessidade de horas extras e sem turnos adicionais. Entretanto, há obras em que isso não é possível, seja por características do local da obra (leito de rios, acessos restritos durante alguma época do ano), seja por prazo extremamente apertado (estádios da Copa, por exemplo). Há ainda a hipótese de o construtor estabelecer que fará a obra em menos tempo para ter ganhos de imagem, redução do custo indireto, etc.
Dimensionamento do canteiro
Para dimensionar instalações de canteiro tais como refeitório, vestiário e alojamento, o orçamentista precisa obviamente ter uma noção do efetivo da obra. O efetivo varia com o tempo, atingindo-se um pico de operários mais ou menos no meio da obra, onde tarefas como estrutura, instalações e acabamento acontecem simultaneamente.
A maneira correta de dimensionar o canteiro é através de um histograma de mão de obra, que nada mais é do que a quantidade de operários mês a mês. O histograma é um produto típico da interface entre orçamento e planejamento, pois busca dados de produtividade (para cálculo do tamanho das equipes) e de cronograma (época de ocorrência dos serviços).
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Custo financeiro
Principalmente em obras públicas, o construtor é quem financia a obra, pois realiza os serviços para receber depois, quando a medição é paga. Nesse mecanismo, há um descasamento entre receita e custo, que tem impacto direto no fluxo de caixa da obra.
O orçamento da obra só estará preciso se o fluxo de caixa for analisado pelo orçamentista, mas esse fluxo de caixa precisa do cronograma que vem do... planejamento.
Vejamos agora o reverso. Ainda segundo Mattos (2015), estes são os aspectos do planejamento que dependem do orçamento:
Cálculo da duração das atividades
A elaboração de um cronograma obedece a um roteiro comum: primeiro cria-se a EAP, depois estabelece-se a ligação entre as atividades e a duração de cada uma delas.
A duração de uma atividade só estará convenientemente calculada se o planejador buscar os índices de produtividade que foram utilizados no orçamento. Isso parece lógico, mas não vemos isso sendo feito corretamente nas construtoras. Planejadores parecem não conversar com orçamentistas. O resultado é muitas vezes um cronograma com durações “chutadas” e de realidade fora do comum dos canteiros.
A forma correta de dimensionar a duração de uma atividade é pensar no trio EQUIPE + PRODUTIVIDADE + DURAÇÃO.
É necessário ter dois dados e uma incógnita. Assim, por exemplo, se a atividade é assentamento de 960 m² de cerâmica e a produtividade orçada for 2 m²/h, a atividade requererá 480 horas de trabalho de pedreiro, que pode ser traduzido por quatro pedreiros trabalhando 120 horas (=15 dias x 8 horas/dia) ou dois pedreiros trabalhando 30 dias, ou oito pedreiros trabalhando 7,5 dias.
Índices para apropriação do cronograma
O planejamento vem sempre acompanhado do controle. Não basta puxar barras e pregar um cronograma na parede. É necessário atualizá-lo e corrigir seus rumos, pois muitas vezes as premissas iniciais se mostram inadequadas.
Uma das tarefas do controle é se apropriar dados de campo. Por apropriação entende-se a coleta de dados reais de execução de serviços para aferição da produtividade que as equipes estão efetivamente atingindo.
De nada vale apropriar dados se não houver um referencial contra o qual comparar o desempenho das equipes. Esse referencial é justamente o índice (produtividade) que o orçamentista utilizou ao formar o preço da obra.
Metas de produção
Como decorrência do item acima, conhecendo-se a produtividade utilizada no orçamento, a equipe de planejamento pode desafiar as equipes de campo para atingir produtividades mais altas, que trarão como consequência ganhos econômicos.
Somente conhecendo as produtividades orçadas é que o planejador pode propor programações semanais arrojadas e, em contrapartida, oferecer como prêmio aos operários uma parcela dos ganhos obtidos. Este é um ponto de casamento perfeito entre os fundamentos de orçamento e planejamento.