A construção civil brasileira tem um problema crônico de produtividade. A realidade do setor é uma cadeia produtiva manufatureira. Isso reflete em obras com duração elevada, custos incertos, qualidade heterogênea e insuficiente em alguns casos.
Existem várias pesquisas que demonstram que o setor da construção tem tido pouca evolução tecnológica e transformação digital, se comparada às outras indústrias.
É isto que mostra uma famosa pesquisa da Harvard Business Review de 2016, que elencou setores da economia mundial de acordo com seu grau de digitalização por vários aspectos.
A partir deste diagnóstico, intensificou-se estudos e o fomento para estratégias para evolução do setor, em níveis nacionais e internacionais.
Uma estratégia importante para galgar em direção à melhoria de produtividade, qualidade, economia e outros aspectos, é a industrialização da construção civil.
Industrialização da construção civil
A industrialização está intimamente ligada ao Fordismo. A revolução implementada por Henry Ford na indústria automobilística, proporcionou grandes mudanças na cadeia produtiva. Na indústria automobilística, ocorreu padronização de escopo e repetição de tarefas, estabelecendo uma linha de produção. Isto levou a um ganho extremo de produtividade.
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Sabemos que a construção civil possui suas nuances e, em parte das obras, não há repetição de escopo. Contudo, em outros tipos de obra, existe padronização de escopo, como é o caso de condomínios residenciais e obras industriais, por exemplo.
Além do escopo arquitetônico das edificações, quando pensamos na disciplinas e sistemas prediais, existem padrões de produtos e aí, podemos aplicar os conceitos de industrialização. Outros componentes construtivos também tem padrões, como estruturas e elementos de vedação, por exemplo. Tudo pode ser industrializado.
Instalações prediais
É possível estabelecer uma linha de produção para componentes de sistemas de instalações hidráulicas e elétricas, de modo que sejam preparados numa fábrica fora do canteiro de obra, e apenas montados na obra.
Podemos citar o exemplo da Ambar, que tem proporcionado soluções deste tipo para inúmeras obras no Brasil.
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Componentes de vedação
Outra aplicação é de componentes específicos de vedação. Algumas empresas desenvolvem painéis de vedação para edificações, que vão desde materiais poliméricos à placas cimentícias. Isto dá um grande ganho para a produtividade em obras.
Um grande exemplo de produtividade, é a Casa 24h, projeto liderado pela Inovatech. O projeto contou com painéis de vedação pré-moldados e construiu uma casa com 24 horas de trabalho na Feicon 2019.
Sistemas construtivos
Outra possibilidade, está na adoção de sistemas construtivos industrializados. Podemos citar alguns como: Paredes de Concreto, Construção Modular, Light Wood Frame e Light Steel Frame, entre outros.
Existem várias empresas que utilizam Paredes de Concreto no Brasil hoje, entre elas, podemos citar a MRV, que tem atuação em 22 estados. Outro grande caso de sucesso brasileiro, é a Tecverde, com o desenvolvimento do sistema de Light Wood Frame em larga escala em condomínios residenciais.
Para construção modular, recentemente tivemos um grande exemplo no China, com a construção de hospitais para atendimento de vítimas do COVID-19. Um hospital para mil leitos foi construído em 10 dias.
Sistemas estruturais
Para sistemas estruturais, temos a possibilidade de elementos pré-fabricados em concreto armado, que já tem grande aderência no mercado, especialmente para obras industriais e comerciais.
Outra tecnologia não muito utilizada hoje no Brasil, são as estruturas metálicas, que são preteridas pelo concreto armado em virtude do alto custo para seu emprego. Podemos citar a Urbic, que tem apostado na industrialização e digitalização de seus processos para ganhar com a produtividade.
Planejamento e projetos
Por fim, temos as etapas iniciais de projeto e planejamento de obras. É impossível não citar a tecnologia BIM para que o setor alavanque sua produtividade.
Para a elaboração de projetos, o ganho com riqueza de informações e o grau de detalhamento é monstruoso. Além de agilizar a etapa de elaboração dos projetos em si, possibilita o detalhamento para que sistemas e componentes prediais possam ser pré-fabricados, além de eliminar interferência entre os mesmos no processo construção.
Outra função primordial é o planejamento, o BIM permite que o processo de construção seja simulado de acordo com suas etapas, o que permite profunda análise do desempenho construtivo, resultando no ganho de produtividade se bem executado.
Conclusão
A industrialização é o caminho para uma indústria de construção mais produtiva e com mais qualidade. A adoção de pré-fabricação permite maior controle de qualidade, agilidade e redução de custo.
A identificação de etapas escaláveis é imprescindível para que possamos industrializá-las e, assim, ter ganho com a produtividade da cadeia do setor como um todo.
O certo é que, o assunto é extremamente vasto e a discussão muito complexa. Mas é inegável, que o futuro da construção civil, passa por sua industrialização.
Fontes: Ambar, Buildin, Harvard Business Review, ArchDaily, Smart Building, Luiz Henrique Ceotto.
Comentários
Matheus Alves Martins
Engenheiro civil; formado pelo Centro Universitário da Grande Dourados; possui especialização em Gestão de Projetos; e é mestre em Ciência dos Materiais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; é entusiasta da gestão, da qualidade e da inovação na indústria da construção; fã de tecnologias e eterno estudante de Engenharia.