Engenharia 360

A industrialização da construção e o aumento de produtividade

Engenharia 360
por Matheus Martins
| 16/03/2020 | Atualizado em 07/12/2023 4 min

A industrialização da construção e o aumento de produtividade

por Matheus Martins | 16/03/2020 | Atualizado em 07/12/2023
Engenharia 360

A construção civil brasileira tem um problema crônico de produtividade. A realidade do setor é uma cadeia produtiva manufatureira. Isso reflete em obras com duração elevada, custos incertos, qualidade heterogênea e insuficiente em alguns casos.

Existem várias pesquisas que demonstram que o setor da construção tem tido pouca evolução tecnológica e transformação digital, se comparada às outras indústrias.

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É isto que mostra uma famosa pesquisa da Harvard Business Review de 2016, que elencou setores da economia mundial de acordo com seu grau de digitalização por vários aspectos.

Gráfico por escala de cor representando grau de digitalização dos setores da economia.
Fonte: Harvard Business Review

A partir deste diagnóstico, intensificou-se estudos e o fomento para estratégias para evolução do setor, em níveis nacionais e internacionais.

Uma estratégia importante para galgar em direção à melhoria de produtividade, qualidade, economia e outros aspectos, é a industrialização da construção civil.

Industrialização da construção civil

A industrialização está intimamente ligada ao Fordismo. A revolução implementada por Henry Ford na indústria automobilística, proporcionou grandes mudanças na cadeia produtiva. Na indústria automobilística, ocorreu padronização de escopo e repetição de tarefas, estabelecendo uma linha de produção. Isto levou a um ganho extremo de produtividade.

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Sabemos que a construção civil possui suas nuances e, em parte das obras, não há repetição de escopo. Contudo, em outros tipos de obra, existe padronização de escopo, como é o caso de condomínios residenciais e obras industriais, por exemplo.

Além do escopo arquitetônico das edificações, quando pensamos na disciplinas e sistemas prediais, existem padrões de produtos e aí, podemos aplicar os conceitos de industrialização. Outros componentes construtivos também tem padrões, como estruturas e elementos de vedação, por exemplo. Tudo pode ser industrializado.

Instalações prediais

É possível estabelecer uma linha de produção para componentes de sistemas de instalações hidráulicas e elétricas, de modo que sejam preparados numa fábrica fora do canteiro de obra, e apenas montados na obra.

Componentes de instalações elétricas (eletrodutos e caixas de derivação) fixados em grade.
Imagem: ambar.tech

Podemos citar o exemplo da Ambar, que tem proporcionado soluções deste tipo para inúmeras obras no Brasil.

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Componentes de vedação

Outra aplicação é de componentes específicos de vedação. Algumas empresas desenvolvem painéis de vedação para edificações, que vão desde materiais poliméricos à placas cimentícias. Isto dá um grande ganho para a produtividade em obras.

Fábrica para construção industrializada com painéis pré-fabricados. Casa 24h.
Imagem: casa24.com.br

Um grande exemplo de produtividade, é a Casa 24h, projeto liderado pela Inovatech. O projeto contou com painéis de vedação pré-moldados e construiu uma casa com 24 horas de trabalho na Feicon 2019.

Sistemas construtivos

Outra possibilidade, está na adoção de sistemas construtivos industrializados. Podemos citar alguns como: Paredes de Concreto, Construção Modular, Light Wood Frame e Light Steel Frame, entre outros.

Existem várias empresas que utilizam Paredes de Concreto no Brasil hoje, entre elas, podemos citar a MRV, que tem atuação em 22 estados. Outro grande caso de sucesso brasileiro, é a Tecverde, com o desenvolvimento do sistema de Light Wood Frame em larga escala em condomínios residenciais.

Construção de edifício de 4 pavimentos em wood frame.
Obra em light wood frame. Imagem: tecverde.com.br

Para construção modular, recentemente tivemos um grande exemplo no China, com a construção de hospitais para atendimento de vítimas do COVID-19. Um hospital para mil leitos foi construído em 10 dias.

Sistemas estruturais

Para sistemas estruturais, temos a possibilidade de elementos pré-fabricados em concreto armado, que já tem grande aderência no mercado, especialmente para obras industriais e comerciais.

Outra tecnologia não muito utilizada hoje no Brasil, são as estruturas metálicas, que são preteridas pelo concreto armado em virtude do alto custo para seu emprego. Podemos citar a Urbic, que tem apostado na industrialização e digitalização de seus processos para ganhar com a produtividade.

Edifício em estrutura metálica e painéis de vedação pré-fabricados.
Obra da Urbic em São Paulo com estrutura metálica e painéis de vedação pré-moldados. Imagem: Daniel Sanchez

Planejamento e projetos

Por fim, temos as etapas iniciais de projeto e planejamento de obras. É impossível não citar a tecnologia BIM para que o setor alavanque sua produtividade.

Interface de projeto em plataforma BIM.
Projeto em plataforma BIM. Imagem: thorusengenharia.com.br

Para a elaboração de projetos, o ganho com riqueza de informações e o grau de detalhamento é monstruoso. Além de agilizar a etapa de elaboração dos projetos em si, possibilita o detalhamento para que sistemas e componentes prediais possam ser pré-fabricados, além de eliminar interferência entre os mesmos no processo construção.

Outra função primordial é o planejamento, o BIM permite que o processo de construção seja simulado de acordo com suas etapas, o que permite profunda análise do desempenho construtivo, resultando no ganho de produtividade se bem executado.

Conclusão

A industrialização é o caminho para uma indústria de construção mais produtiva e com mais qualidade. A adoção de pré-fabricação permite maior controle de qualidade, agilidade e redução de custo.

A identificação de etapas escaláveis é imprescindível para que possamos industrializá-las e, assim, ter ganho com a produtividade da cadeia do setor como um todo.

O certo é que, o assunto é extremamente vasto e a discussão muito complexa. Mas é inegável, que o futuro da construção civil, passa por sua industrialização.

Fontes: Ambar, Buildin, Harvard Business Review, ArchDaily, Smart Building, Luiz Henrique Ceotto.

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Matheus Alves Martins

Engenheiro civil; formado pelo Centro Universitário da Grande Dourados; possui especialização em Gestão de Projetos; e é mestre em Ciência dos Materiais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; é entusiasta da gestão, da qualidade e da inovação na indústria da construção; fã de tecnologias e eterno estudante de Engenharia.

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