É inacreditável que ainda em 2021 existam tantos arquitetos, designers e engenheiros no Brasil que sejam resistentes à ideia de utilizar materiais ecológicos nas construções! Muitos desses profissionais continuam presos a velhas técnicas e não conseguem admitir que o tempo de não ligar para a natureza já passou – e faz tempo. Por sorte, muitos consumidores, mais conscientes sobre os impactos que causamos sobre o ambiente, têm pressionado o setor a adotar novas medidas e materiais alternativos – sobretudo ao concreto.
O objetivo do Engenharia 360 em escrever este texto é tentar ajudar a mudar a mentalidade de muitos agentes desse segmento da construção civil, além de outros personagens de nossa sociedade. É que acreditamos que só pela criação de uma nova cultura é que podemos, de fato, mudar a realidade no qual nos encontramos! Se os brasileiros, em geral, só conhecem materiais industrializados e não têm conhecimento de materiais diferentes e renováveis, como podem fazer a diferença? Dê um passo em direção à mudança você também!
Por que investir em materiais alternativos para a construção civil?
De acordo com os especialistas no setor da construção civil, o Brasil encontra-se em uma situação muito atrasada em relação às nações mais desenvolvidas. Dentro do país, vários projetos executados ainda utilizam tijolo comum, concreto e outros materiais que precisam de grandes quantidades de energia e ingredientes poluentes para serem produzidos, além de gerarem bastante resíduo. Mas, se as empresas investissem em alternativas diferentes, ecologicamente corretas, com insumo renováveis, poderiam reduzir custos e obter mais desempenho!
“Mas, olhando o Brasil como um todo, já existe um movimento interessante por parte de construtores para que suas obras sejam mais sustentáveis.”
- arquiteto Alberto Cabral, em matéria de SEBRAE Inteligência Setorial.
Quais os materiais alternativos que começam a ser utilizados nas obras brasileiras?
Substituto para o amianto
Há muito, por liberar substâncias cancerígenas, o amianto passou a ser banido das obras brasileiras. Mas o que utilizar no lugar dele? Bem, que tal fibras vegetais e materiais reciclados? Um exemplo, para esta situação, é a cinza do bagaço da cana-de-açúcar – ótima para a produção de fibrocimento.
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Aliás, muitas outras fibras naturais – as de crescimento rápido e que podem ser cultivadas em vários tipos de solos - têm sido utilizadas como revestimento, isolamento, reforço à massa de concreto, e mais. É o caso da palha, cortiça, juta, bambu, piaçava, sisal, fibra de madeira, de celulose, de coco, da bananeira, entre outras. E falando mais especificamente sobre a bananeira, o material utilizado é extraído sempre de um broto novo, sem prejudicar a planta original, que continuará produzindo bananas!
Substituto para o cimento
Muita coisa está sendo atualmente testada para substituir completamente ou parcialmente o cimento, como pneus usados, cinzas de esgoto sanitário e restos de queima de lixo. Na verdade, muitos experimentos nem são tão novos assim no Brasil. Alguns já estão sendo feitos há cerca de setenta anos, como o cimento ecológico, que pode aproveitar até 70% da matéria prima residual gerada por siderúrgicas. Não é fantástico?! E mesmo passado tanto tempo, tem gente que ainda cria resistência a aceitar estes materiais nas obras.
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Substituto para a brita
No lugar da brita – um agregado que costumeiramente é colocado na massa do concreto -, se poderia usar a brita de borracha, restos de plástico ou restos de materiais - não degradáveis – de demolições.
Substituto para a madeira
Já ouviu falar em ‘madeira plástica’? Bem, só por se falar em ‘plástico’ a ideia já parece ruim, não é? Porém, este material é feito, na verdade, de plástico reciclado e resíduos vegetais de agroindústrias. E por ser resistente a pragas, cupins e mais, sem precisar de pintura, deve durar bem mais tempo sem precisar de manutenção ou de substituição!
Substituto para o aço
Acredita-se que o melhor substituto ecologicamente correto para o aço seja o bambu. Esta matéria-prima tem grande potencial! A plana cresce rápido, é fácil de transportar e bastante resistente – até seis vezes mais que o aço! Seu tubo oco aguenta bem esforços do vento. Contudo, possui um coeficiente de dilatação muito alto, sendo suscetível a mudanças de temperatura. Também absorve muita água, pode atrair pragas e insetos, e deve se degradar com o tempo se não for bem impermeabilizado, seco e tradado. Em contrapartida, o aço pode corroer com o passar dos anos. Então, dá elas por elas. O vai escolher o que? A alternativa mais ecológica?
Veja também: Conheça 3 novas estratégias de construção com materiais alternativos
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Substituto para os tijolos e telhas comuns
A versão de tijolo ecológico é o solocimento – composto, obviamente, de mistura de solo, cimento e água. Mas se vai cimento, por que é chamado de ecológico então? É que a sua cura geralmente não precisa do uso de fornos a lenha ou é feita uma queima mais rápida. E também porque a sua produção pode fazer a utilização de resíduos industriais, bambu e até mesmo bituca de cigarro – que leva cerca de 13 milhões de anos para se degradar, contaminando solos e rios.
Já para as telhas ecológicas a opção seria utilizar, como matéria-prima para a fabricação, resíduos de papel, plástico e metal. Essas peças costumam apesentar altíssima resistência e durabilidade. Algumas ainda podem refletir a luz solar, proporcionando ambientes mais frescos e agradáveis.
Veja também: Saiba o que é solo-cimento e qual sua aplicação na construção civil
Substituto para alguns tipos de revestimentos
Placas de revestimento de parede podem ter papel reciclado misturado a sua composição, apresentando um melhor desempenho de isolamento termo acústico. Já para coberturas e pisos, é possível utilizar um revestimento ou isolamento feito de sobras de pneus velhos - aliás, pneus também são ótimos para erguer paredes, contenções, muros de arrimos, fundações e mais.
Por fim, no lugar das tintas comuns, feitas à base de petróleo, a ideia é usar a ‘tinta mineral natural’ ou ‘tinta mineral ecológica’, composta por terra crua e emulsão aquosa – desde que de jazidas certificadas, claro. Elas são laváveis, duráveis, resistentes à umidade, anti mofo e fungo, solúveis em água e com baixa concentração de compostos voláteis – que danificam a camada de ozônio. E, o melhor, são vendidas em embalagens que também são feitas de materiais recicláveis ou que podem ser reutilizadas. Só que ainda estão disponíveis apenas em poucas cores - branco, terracota, café, grafite e preto.
Fontes: Ecycle, Hometeka, SEBRAE, IBR Engenharia, Certo Engenharia.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.