Engenharia 360

Como o Concreto com Cana-de-açúcar deve impactar o futuro da Construção Civil

Engenharia 360
por Simone Tagliani
| 19/04/2024 | Atualizado em 21/04/2024 4 min
Figura ilustrativa | Imagem de Freepik

Como o Concreto com Cana-de-açúcar deve impactar o futuro da Construção Civil

por Simone Tagliani | 19/04/2024 | Atualizado em 21/04/2024
Figura ilustrativa | Imagem de Freepik
Engenharia 360

Há milênios o homem utiliza concreto em suas obras de engenharia; mesmo assim, está sempre aprimorando a fórmula deste material. Atualmente, o foco é torná-lo mais sustentável, leve e com característica de autocura ou autoregeneração. E por incrível que pareça, a cana-de-açúcar, para a criação do concreto com cana-de-açúcar, pode ser a solução para essa mudança. O Engenharia 360 te conta mais no artigo a seguir. Confira!

Revolução do biocimento

Neste momento, está acontecendo uma corrida acelerada liderada por universidades, indústrias e agências para transformar o cimento tradicional. Mas por que será? Bem, os números explicam! Só em 2021, por exemplo, o consumo global de cimento ultrapassou 4 bilhões de toneladas e é esperado um aumento anual de 5% até 2027. Em contrapartida, as dificuldades permanecem.

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O custo do reparo de rachaduras e fissuras no concreto ainda é um tremendo desafio para a engenharia. Vale destacar que avanços significativos já foram feitos com bactérias e biofibras. Uma alternativa que vem se apresentado bastante promissora é o biocimento. A exemplo da pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Kohn Kaen e da Universidade de Tecnologia de Suranaree, na Tailândia, que propõem o uso do resíduo da clarificação da cana-de-açúcar para criação de um concreto com incríveis propriedades de cicatrização.

Concreto com Cana-de-açúcar
Imagem de Freepik

Propriedades autocurativas do concreto com cana-de-açúcar

O novo concreto a base de biocimento com resíduo da clarificação da cana-de-açúcar é chamado de IBFC. Esse material parece ser muito mais leve que o concreto tradicional (cerca de 10%) e parece apresentar propriedades de autocura devido à menor resistência à compressão. Testes realizados, combinando cimento comum com IBFC e bactéria Lysinibacillus, revelaram resultados surpreendentes, como é possível ver na figura a seguir.

concreto com cana de agúcar
Imagem de Nature reproduzida de IGN Brasil

Na coluna da esquerda, o cimento convencional (P) não apresenta recuperação, enquanto amostras com adição de IBFC (20, 30 ou 40%) demonstram melhora. Já na coluna da direita, com a inclusão da bactéria, a selagem das fissuras é evidente após 15 dias, consolidando-se com o tempo (taxa de cura de 86%). Em apenas 15 dias, as fissuras foram seladas com uma taxa de cura de 86%; em 30 dias, a recuperação chegou a 100%.

Conclusão: O concreto tradicional não precisa ser totalmente substituído; pode ser aprimorado com adições de cana-de-açúcar e bactérias.

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Compromisso com a sustentabilidade

Essa ideia de concreto com cana-de-açúcar nem chega a ser uma novidade. A saber, muitos outros estudos já exploraram essa linha de pensamento e revelaram os benefícios dos resíduos industriais para a construção civil. Mas o diferencial agora é essa capacidade de autoregeneração, um avanço para a engenharia.

Lembrando que a quantidade de resíduos da clarificação da cana-de-açúcar descartada anualmente pode, nesse caso, encontrar uma nova vida como parte essencial de um concreto mais inteligente e ecológico. Quer dizer que a criação desse tipo de material não só beneficia a construção, mas também reduz o impacto ambiental. E isso é uma super notícia, já que a produção de cimento é um grande emissor de CO2. Então, o IBFC, por exemplo, seria algo mais ecológico.

Veja Também: Plástico feito de resíduos de cana-de-açúcar e CO2 é promessa para substituir PET

A cana-de-açúcar na construção civil

Usar a concreto com cana-de-açúcar na construção civil é como combinar tradição com inovação, transformando um dos materiais mais antigos em uma solução moderna e eco-friendly. Segue mais duas inovações que prometem revolucionar o futuro da engenharia:

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Concreto da cinza do bagaço da cana

Um estudo realizado recentemente pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) demonstrou que a cinza do bagaço da cana-de-açúcar pode melhorar a qualidade do concreto, refinando os poros, reduzindo danos externos e fortalecendo suas propriedades pozolânicas. Para isso, a cinza precisa ter baixo teor de matéria orgânica e granulometria fina. Ainda são necessários novos testes para comprovar a viabilidade econômica e logística de uso. Mas certamente os benefícios de menos descarte inadequado de materiais e redução de emissões de CO2 já devem compensar.

Concreto com Cana-de-açúcar
Imagem de Victor Marcelo Estolano de Lima, UFPE, reproduzida de Cimento Itambé

Bloco de concreto de cana-de-açúcar

Para finalizar este texto, mais um novo material recém-descoberto, o Sugarcrete, que pode substituir o concreto tradicional. Esse concreto com cana-de-açúcar é produzido combinando bagaço de cana-de-açúcar com ligantes minerais. Ele é leve, tem apenas 15-20% de pegada de carbono, e sua produção é sustentável. Estruturas construídas com este material são resistentes ao fogo e podem ser desmontadas e reutilizadas.

O mais legal dessa história é que a fabricação do Sugarcrete se vale de ferramentas digitais de engenharia avançada, integrando computação de material, design paramétrico e fabricação robótica. Não à toa a tecnologia foi indicada ao prêmio Earthshot, que reconheceu sua contribuição para soluções inovadoras na construção.

Concreto com Cana-de-açúcar
Imagem de Sugarconcrete reproduzida de ArchDaily
Concreto com Cana-de-açúcar
Imagem de Sugarconcrete reproduzida de ArchDaily

Enfim, há desafios a serem superados, como entender o impacto de microrganismos nas estruturas de biocimento e concreto com cana-de-açúcar. De todo modo, este é um campo de pesquisa em expansão, não apenas para o betão, mas também para outros materiais de construção civil.

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Fontes: ING Brasil, ArchDaily, Cimento Itambé.

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Simone Tagliani

Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.

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