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Governo gaúcho propõe realocar cidades inteiras para combater inundações. Será a solução ideal?

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por Simone Tagliani
| 31/05/2024 4 min
Imagem reproduzida de Semae e Prefeitura de São Leopoldo via NSC Total

Governo gaúcho propõe realocar cidades inteiras para combater inundações. Será a solução ideal?

por Simone Tagliani | 31/05/2024
Imagem reproduzida de Semae e Prefeitura de São Leopoldo via NSC Total
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O que aconteceu em maio de 2024 no Rio Grande do Sul parece ficção científica. O nível de destruição no estado por conta das enchentes não pode ser descrito em palavras, não se compara a nenhuma outra crise ambiental, estrutural e humanitária já ocorrida no Brasil. Infelizmente, algumas cidades foram varridas do mapa. E diante da nova realidade, autoridades do governo e de academias lançaram uma hipótese assustadora, de realocar cidades inteiras. Será que esta não seria uma medida drástica?

Bem, talvez essa é a única alternativa se quisermos manter as pessoas mais seguras. Contudo, não podemos deixar de questionar a viabilidade da ideia, inclusive seu custo e impacto social. Uma coisa é certa, depois de tantas falhas de sistemas, não podemos exigir que famílias e empresas se mantenham tão próximas ao perigo. E certamente medidas convencionais não são mais suficientes para proteger comunidades.

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cidades pós enchentes
Imagem de Lauro Alves, SECOM, reproduzida de NSC Total

A proposta de realocação

Um dos defensores dessa ideia de realocar algumas cidades ou bairros destruídos no Rio Grande do Sul é o ecólogo Marcelo Dutra da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Ele argumenta que é preciso deslocar tudo isso para áreas longe de vales, margens de rios e áreas baixas e úmidas, suscetíveis a inundações. Inclusive, em entrevista ao jornal NSC Total, destacou que não será possível reconstruir em áreas vulneráveis, porque os eventos climáticos extremos são mais frequentes e intensos.

Mas o que envolve realocar mesmo? Bem, o termo correto no urbanismo é desedificar, ou seja, remover estruturas de áreas de risco para recomeçar tudo em locais mais apropriados, devolvendo os espaços sensíveis aos alagamentos à natureza. O objetivo é impedir o retorno das pessoas aos locais que possam colocar em risco suas vidas, a infraestrutura e até o meio ambiente; é o que planeja. E vale o esforço? Com certeza, considerando que a intensidade e frequência das chuvas no estado aumentaram significativamente.

Cidades como Muçum, Roca Sales, Eldorado do Sul e Sinimbu, que já sofreram três enchentes em um ano, demonstram a necessidade de relocação. Agora, elas precisam de um novo planejamento urbano, resiliente a eventos climáticos extremos. Um plano sem desconsiderar as áreas úmidas, que desempenham um papel crucial na absorção de água da chuva. E só em alguns casos, investir em sistemas de alerta precoce, infraestrutura resiliente e educação ambiental podem ser medidas mais eficazes e menos disruptivas.

Lembre-se: áreas naturais bem preservadas podem atuar como amortecedores contra enchentes!

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Imagem de Gustavo Mansur, Palácio Piratini, via Agência Brasil

Desafios técnicos e logísticos

Como se pode imaginar, mover cidades inteiras não é uma tarefa fácil - não à toa o governador chegou a citar num primeiro momento que seria necessário um "plano Marshall" para a reconstrução do Rio Grande do Sul.

Deve-se contar com uma extensa avaliação técnica (sobretudo de solo, clima e infraestrutura) para garantir que a nova área escolhida seja segura e capaz de suportar as novas construções - com boa drenagem, estabilidade geológica e mais. Além disso, coordenação entre diferentes níveis de governo.

Agora, pense quanto tempo e recursos seria preciso para colocar essas ideias em prática! Realocar cidades ainda poderá impactar a natureza, a sociedade e a economia do estado. Muitas dessas localidades funcionavam baseadas no comércio, agricultura e em pequenas empresas que precisarão ser reestabelecidas. Esse seria um recomeço para empreendimentos, mas também para histórias de vidas. E tal medida deve contar com sensibilidade e inclusão dos moradores no processo decisório.

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A participação da sociedade nessas discussões deve garantir que as novas áreas atendam às necessidades dos residentes.

cidades pós enchentes
Imagem de Lauro Alves, SECOM, reproduzida de NSC Total

Exemplos internacionais e lições aprendidas

Realocação de cidades não é uma ideia nova dentro do urbanismo. Esse conceito já foi implementado em outras situações e lugares do mundo, enfrentando desafios iguais ou mais significativos. Podemos começar citando o caso das Ilhas Carteret, em Papua-Nova Guiné, que famílias precisaram ser reassentadas em áreas mais altas por conta da elevação do nível do mar.

Tem também Nova Orleans, nos Estados Unidos, que depois da passagem do Furacão Katrina, em 2005, precisou passar por um processo de reestruturação. Porém, nesse caso, as diferentes classes sociais foram desconsideradas. Resultado? Vinte por cento da população local preferiu deixar a região. E mesmo hoje, a cidade ainda enfrenta problemas relacionados à gestão da água e infraestrutura resiliente.

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Registro do furacão Katrina | Imagem reproduzida de BBC

Acontece que o Rio Grande do Sul não tem muita escolha no momento. Nesta Grande Enchente de 2024, foram muitos traumas e perdas irreparáveis. Agora, o foco prioritário deve ser a busca por soluções alternativas e a implementação de medidas preventivas. A abordagem deve ser integrada e eficaz no combate aos desastres naturais.

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Fontes: Correio do Povo, BBC, NSC Total.

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Simone Tagliani

Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.

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