Ao contrário do setor de transportes terrestres, no qual, em alguns casos, eletrificação vem avançando rapidamente, o peso das baterias e quantidade de energia necessária para manter um avião voando torna mais complicado abrir mão dos motores de combustão. A saída para a indústria, portanto, passa pelo uso de combustíveis renováveis.
Mudança de Cenário
Desde antes da assinatura do Protocolo de Quioto em 1997, já sabíamos da dependência do setor aéreo aos combustíveis. Contudo, a forma com que tais combustíveis e esse setor afetam as mudança no clima e contribuem com o aquecimento global só começaram a ser mensuradas e definirem as metas de redução das emissões depois do congresso.
Como a cotação do querosene fóssil (combustível mais comum na aviação) flutua internacionalmente devido à instabilidade em diversos setores dos países que compõem a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), bem como o aumento da demanda por transporte aéreo versus a fonte não renovável que é o petróleo e, por fim (mas não menos importante), o atendimento dos parâmetros ambientais de órgãos de referência, a indústria da aviação vem se comprometendo cada vez mais com a redução de seu impacto ambiental e busca uma alternativa ao querosene fóssil.
Tais iniciativas da indústria vão desde o desenvolvimento de novas tecnologias menos agressivas até melhorias na infraestrutura e nas operações aeroportuárias, a fim de contribuírem e estimularem o comércio e produção dos biocombustíveis.
É nesse contexto então que o bioquerosene para aviação, conhecido como bioQAV, inicia sua jornada na redução das emissões de carbono na indústria de aviação ao ser empregado com aditivo do querosene fóssil, já que, se for produzido de forma sustentável, tem potencial para emitir de 50% a 80% menos carbono durante seu ciclo.
Em 2010, ocorreu o primeiro teste com bioquerosene no Brasil, durante um voo da TAM, hoje Latam. Depois diss,o as empresas Azul e Gol também realizaram experimentos com combustíveis sustentáveis, sendo que a última fez mais de 300 voos durante a Copa do Mundo de 2014 com uma mistura de 4% de querosene produzido com óleo de milho junto ao combustível convencional, contudo, infelizmente, questão não evoluiu desde então.
E então, o que é o Bioquerosene?
Como já dito, conhecido como BioQAV ou biocombustível da aviação, o bioquerosene é uma substância derivada de biomassa renovável que pode ser usada em turborreatores e turbo-propulsores aeronáuticos ou, conforme regulamento, em outro tipo de aplicação que possa substituir parcial ou totalmente o combustível de origem fóssil.
Atendendo às regras internacionais de uso do produto, no Brasil o biocombustível de aviação pode ser utilizado voluntariamente em mistura com o QAV fóssil - desde que seguindo parâmetros e percentuais estabelecidos em resolução pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Os principais biocombustíveis com potencial para substituir querosene de origem fóssil são essencialmente obtidos a partir de óleos vegetais e matérias açucaradas que posteriormente passam por processos de produção para a obtenção de bioquerosene. Assim como o etanol, ele pode ser adicionado ao querosene de aviação em proporções que podem chegar a 50%, segundo informações da ANP.
Motores convencionais não são adaptados para funcionarem com 100% de bioquerosene, entretanto, com o Programa Nacional da Bioquerosene, desenvolvido em 2009 pelo Projeto de Lei Nº 3213/2009, tanto o governo quanto as empresas aéreas buscam pesquisas e desenvolvimento na área de produção e utilização.
E o que falta para entrar de vez no mercado?
Durante um congresso, o diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), José Mauro Coelho, destacou que: “O Brasil tem grande potencial para a produção de bioquerosene para aviação”.
Além da cana-de-açúcar, principal biomassa utilizada para a produção de combustíveis renováveis no país, há outras culturas que podem ser exploradas, como a soja ou a catuaba. Mesmo assim, ainda é necessário um desenvolvimento em pesquisas para tornar essas biomassas importantes e reais matérias-primas para a produção de bioquerosene.
Ainda, segundo o diretor:
“O bioquerosene renovável para aviação apresenta vantagem competitiva no caso brasileiro, pois trata-se de alternativa interessante para oferta descentralizada de combustíveis de aviação; diminuição dos custos logísticos no atendimento de áreas remotas; e redução de importações de energéticos fósseis e de emissões.”
José Mauro Coelho, diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE
Para tentar acelerar esse processo, sem subsídios ou obrigações para as companhias aéreas, o governo lançou em 2017 o RenovaBio, um programa que pretende expandir a produção de combustíveis renováveis no Brasil. O funcionamento se dá por meio de metas anuais de redução dos gases do efeito estufa. Essas metas serão quantificadas pelas CBIOs, que são unidades de Créditos de Descarbonização, e as distribuidoras de combustíveis fósseis deverão adquiri-las para bater os objetivos. Os créditos serão comercializados pelos produtores de biocombustíveis e os títulos serão negociados na Bolsa.
O RenovaBio começou a valer a partir do início de 2020, mas não incentiva especificamente nenhum tipo de biocombustível. Vale para o bioquerosene da mesma forma que para etanol ou biodiesel. Por isso, há cautela na análise sobre eficácia do programa para o setor aéreo.
Assim, o bioquerosene se destaca entre os biocombustíveis como uma alternativa aos combustíveis fósseis, visto que pode ser obtido a partir de diversas fontes de matérias-primas que não concorrem com o setor alimentício e se adaptam a várias condições de clima e solo. Contudo, tanto os processos de produção quanto a utilização deste biocombustível merecem mais atenção do governo frente às pesquisas e intervenções tecnológicas para que se desenvolva de forma mais rápida e eficiente.
Referências: ANP, Porto Gente, Canal Rural, Energia fala com você
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