Quase todo mundo estranhou quando Bill Gates subiu ao palco com um pote de fezes humana. A cena só não foi mais bizarra porque o evento era o Reinvented Toilet Expo, em Beijing, na China, no início deste mês. Deixando o momento “eca!” de lado, o objetivo era apresentar um vaso sanitário reinventado que funciona sem água e transforma os excrementos em fertilizante.

Imagem: cnn.com
+ Menos dedinho na descarga e mais mãozinha na consciência...
Antes de entender como funciona a engenhoca apresentada por Bill Gates, vamos relembrar o processo que acontece em vasos sanitários convencionais. Dependendo da descarga, é possível que a quantidade de água usada para levar embora os dejetos desagradáveis varie entre 6 a 30 litros. Quando pensamos em quantas vezes damos descarga em casa, o número pode até parecer aceitável. Porém, se pensamos em um local maior (universidades, órgãos públicos, escolas, etc.), o número de descargas por dia é absurdamente grande.
Assim, além de auxiliar na economia de água, o vaso sanitário reinventado ainda resolve outro problema: o de dar um fim aos excrementos em áreas onde não há água suficiente ou condições de saneamento adequado. Apertar a descarga é muito fácil. Porém, ficar livre do “número 2” onde não há descarga ou qualquer sistema sanitário é uma tarefa difícil e que pode comprometer a saúde humana.
+ Saúde e saneamento
Durante seu discurso, o fundador da Microsoft levantou o vaso de fezes para afirmar que, ali, poderiam estar mais de 200 trilhões de rotavírus, 20 bilhões de bactérias Shigella e 100.000 ovos de vermes parasitas. Eles podem causar várias doenças (diarreia, cólera, etc.), as quais acarretam a morte de aproximadamente 500.000 crianças abaixo de 5 anos de idade por ano. Ainda, cerca de 4,5 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso ao saneamento básico adequado.

Imagem: news.abs-cbn.com
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Não é a primeira vez que Gates está envolvido em algo relacionado a esgoto e saneamento. Já mostramos aqui no Engenharia 360 quando ele bebeu a água que saía da usina de tratamento Omniprocessor. Bill Gates ainda destaca que começou a se interessar por saneamento quando deixou a Microsoft por tempo integral e passou a viajar por países pobres com a esposa. Chocados com a situação, decidiram fazer algo a respeito.
+ Vaso sanitário reinventado
O vaso sanitário já está pronto parar ser comercializado. Ele é fruto de várias pesquisas financiadas pela Fundação Bill e Melinda Gates. Os dejetos humanos viram fertilizante após o processo, sem esgoto e sem tubulações que fazem o resíduo percorrer parte da cidade até uma estação de tratamento. A água, em vez de ser usada no processo, é uma das saídas, juntamente aos sólidos (livres de patógenos).
O processo inicia quando a tampa é abaixada. Então, os sólidos vão para o fundo e depois passam por uma incineração, que elimina os patógenos e sai como cinza (é necessário esvaziar o tanque semanalmente). A parte líquida passa por uma série de membranas e sai como água. Porém, essa água não é potável. Ela pode ser usada para regar plantas, por exemplo. Esse não é o único modelo existente, há vários “troninhos” diferentes em desenvolvimento pelo mundo, mas o objetivo é sempre o mesmo: reduzir o contato humano com os dejetos.
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Imagem: wfdd.com
Alguns vasos já estão em teste em cidades africanas. A versão movida a energia solar também já está em fase de testes. O problema é que eles ainda são caros. É preciso que a produção seja maior para que o preço abaixe. Então, espera-se que o dispositivo se torne mais comum, propiciando melhor qualidade de vida para as pessoas que ainda não possuem saneamento adequado.
Referências: Bill & Melinda Gates Foundation; Qz; CNN.
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Larissa Fereguetti
Engenheira, com mestrado e doutorado. Fascinada por tecnologia, curiosidades sem sentido e cultura (in)útil. Viciada em livros, filmes, séries e chocolate. Acredita que o conhecimento é precioso e que o bom humor é uma ferramenta indispensável para a sobrevivência.