Recentemente, por conta dos conflitos mundiais - especialmente relacionados às disputas territoriais e financeiras -, temos ouvido mais sobre a Coreia do Norte. Contudo, sabemos muito pouco sobre este país. Isto porque, nos anos de 1950, durante uma guerra, o território da Coreia foi dividido em duas partes, sendo a sul apoiada pelos Estados Unidos e a norte pela Rússia. Esta última, desde então, encontra-se quase completamente fechada para o mundo externo, sendo atualmente governada por Kim Jong-un.
Se é possível fazer turismo na Coreia do Norte? Sim! Mas apenas por poucas agências chinesas. O controle de fronteira é bastante rigoroso - e até bastante perigoso para nós, por diversas razões. A ideia do país é evitar que estrangeiros entrem com informações que possam influenciar a população a pensar que o que vivem é uma inverdade e que poderia haver uma realidade melhor sem o seu Líder Supremo. Para eles, não existe essa globalização. Todo o produto interno é controlado, incluindo a Internet, a Telefonia, os livros, os periódicos e mais.
A construção do pensamento arquitetônico
Então, você deve estar se perguntando como seria a construção do pensamento dessas pessoas. Se elas nunca viram ou não costumam ver qualquer imagem de Nova York, Dubai, Cairo, São Paulo, Roma, Tóquio, Paris, entre outras cidades; se nunca estudaram ou estudam de modo distorcido obras como o Empire State, a Torre Eiffel, a orla de Copacabana, e mais; se não têm como desenvolver, por falta de insumos, técnicas contemporâneas de construção; como planejam sua Arquitetura e Engenharia Civil? De fato, isto é bem intrigante!
Já ouviu falar na Alegoria da Caverna, de Platão? Talvez seja assim! Contudo, não quer dizer que, estando praticamente presos dentro da Coreia, essas pessoas não desenvolvam boas obras de Arquitetura e Engenharia Civil. Afinal, elas têm inteligência, frequentam escolas, e muitos chegam até a receber permissão para eventualmente estudar brevemente fora do país - é raro, mas acontece. Infelizmente, seus projetos arquitetônicos refletem algumas noções de como o regime opera.
A Era Moderna da Coreia do Norte
O modernismo do design e planejamento urbano na Coreia do Norte começou em 1950. Ao final da guerra, a capital Pyongyang estava quase que em ruínas. A solução do governo foi destruir o que restara, deixando o terreno plano para a construção de uma nova cidade, com ideologia mais de acordo com o novo regime. Todo o projeto foi baseado em influências soviéticas, chinesas e no próprio ideal norte-coreano de valorização dos aspectos experimentais e formais da concepção arquitetônica.
Sim, é como se a Coreia do Norte quisesse se reencontrar em meio ao caos, entendendo como seria dali por diante. 'Rigor' talvez seja a palavra que melhor traduz este novo momento do país. Pyongyang passou a ter ruas com grandes bulevares alinhados por edifícios em tons pastéis, dando a sensação de uniformidade constante. Inclusive, todos esses princípios de planejamento urbano estão discriminados no texto 'Sobre Arquitetura', de 1991, com 160 páginas escritas por Kim Jong-il.
“A condição básica para harmonizar todo o espaço arquitetônico da cidade (...) é o foco na estátua do líder e assegurar que ela exerça o papel principal na formação arquitetônica da cidade." - trecho de 'Sobre Arquitetura'.
O design das novas construções
O concreto é o material mais utilizado nas grandes construções da Coreia do Norte, a maioria de inspiração soviética, com design que tenta expressar riqueza e glória. Alguns traços de seu desenho parecem realmente exagerados, evoluindo lentamente ao longo dos últimos anos. Mesmo assim, não é permitido aos projetistas se afastar do ideal de beleza arquitetônica moderna do partido, tampouco do espírito da identidade nacional. Quem tenta é exilado e supostamente assassinado.
Fracassos
O regime da Coreia do Norte dita não apenas os desenhos, mas também as velocidades em que se pretende que suas execuções aconteçam. Mas até que os norte-coreanos podem ser bem ambiciosos às vezes. Contudo, nem sempre esse desejo, da maneira como as coisas são conduzidas, leva ao sucesso. Devemos citar o edifício de apartamentos de 23 andares que colapsou em Pyongyang no ano de 2014, matando centenas de pessoas. E o famoso Hotel Rygong, em forma de pirâmide, repleto de falhas arquitetônicas, que permaneceu como uma carcaça deteriorante até 2008 sendo recoberto em vidro por uma companhia egípcia de telecomunicações. Ele abriu uma celebração de Kim Il-sung em 2012; porém, está longe de estar concluído e continua completamente isolado.
Sucessos
Mas será que tudo foi mal feito na Coreia do Norte? Claro que não! Neste momento, podemos citar o estádio May Day, em forma de um paraquedas de prata apanhado em pleno voo, com selo FIFA e - diz o governo - tem a maior capacidade de lugares no mundo. Porém, "dentro do estádio, e também em outros edifícios mais recentemente renovados na capital, as instalações atléticas têm uma simetria axial repetitiva e uma consistente paleta de cores pré-escolares, dando uma sensação sinistra de entrar numa casa de bonecas em tamanho real" - trecho de texto de ArchDaily.
As limitações para a Arquitetura e Engenharia Civil
O que impede hoje a Coreia do Norte de construir projetos mais grandiosos e ousados? Bem, a disponibilidade dos materiais na região! Quer dizer que muito do estilo de arquitetura desenvolvido vem dessa consciência sobre a forma como o seu governo comunista opera. Enfim, o design precisa se adaptar a isso, sem contar a essa necessidade constante de idolatria de seus líderes. Resumindo, é a ilusão de uma mini sociedade utópica, que usa muitas vezes a Arquitetura e Engenharia Civil como cortina de fumaça que encobre a sua triste realidade controlada por um regime extremo.
Observação: Em uma reportagem especial do jornal O Globo, em julho de 2023, foi revelado que o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, leva uma vida extravagante no país, desfrutando de viagens em iates de luxo, supercarros, utilizando smartphones dobráveis e apreciando vinhos franceses. Esses luxos certamente contrastam fortemente com a vida dos demais cidadãos da república, não é mesmo?
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Fontes: ArchDaily.
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