A “nova arquitetura” discursa muito sobre construir de forma mais sustentável e de modo a impactar menos a natureza, mas é difícil entender como, realmente, se faz isso, na prática. Algumas pessoas pensam que erguer casas ambientalmente corretas é algo inviável, caro ou complicado. É uma inverdade, visto que iniciativas experimentais desenvolvidas no mundo todo provam que é sempre possível ir além do que já foi feito. Arquitetos, designers e engenheiros da atualidade podem ainda não estar tão acostumados com técnicas de construção com materiais alternativos, porém, pelo menos, eles já questionam mais sobre suas maneiras de projetar e construir.
“As pessoas têm absorvido essa preocupação com a sustentabilidade. Hoje é difícil ver um profissional que não pergunte sobre materiais sustentáveis [para elaborar um projeto].”
- Arquiteto Bernardo Ferracioli , em reportagem de Akatu.
Os criativos têm estado mais abertos ao uso de materiais alternativos, como os reciclados. Isso tem atraído também a atenção do mercado - embora ainda haja uma postura muito cautelosa a respeito do tema. A causa são as vantagens ilimitadas que se pode obter para as construções, como a redução de custos e o melhor desempenho em questões importantes, em comparação com os modelos tradicionais. Claro que é sempre um desafio provar que certas matérias-primas irão, sim, apresentar grande durabilidade.
Logo, visando informar melhor os seus leitores, o Engenharia 360 resolveu expor três tipos de materiais alternativos que podem criar modelos de construção diferentes e totalmente viáveis. Confira!
Opções para a construção com materiais alternativos
Fibras Naturais
Já faz tempo que a construção civil investe em melhorias em seus processos e nos materiais empregados. Mas, quando se fala na utilização de fibras vegetais, é preciso lembrar que esse é um recurso que remete a uma história de milhares de anos, como a arquitetura vernacular. Materiais renováveis, naturais e minimamente processados - por escolha dos projetistas - têm substituído compostos e elementos mais pesados, caros e agressivos ao meio ambiente em edificações; conferindo-lhes, inclusive, maior ductilidade. Um exemplo é o fibrocimento, uma mistura de fibras naturais com cimento e aditivos, a melhor opção ao uso da fibra de amianto, produzida com substâncias altamente cancerígenas e utilizada em telhas, caixas d’águas e mais.
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Outro bom exemplo de solução construtiva, empregando fibras naturais, é o tijolo de adobe. Ele é obtido pela mistura de terra crua, água, palha e outros materiais, como esterco de gado. Sua massa é, geralmente, moldada artesanalmente em fôrmas e cozida ao sol. Peças assim se mostram benéficas – com algumas ressalvas – pelos custos baixos, o alto desempenho térmico, a menor emissão de poluentes, pela leveza das peças, a resistência, a elasticidade e a durabilidade.
Enfim, as fibras podem ser empregadas na construção civil em placas de revestimento; de isolamento; e como reforço adicional ao concreto, em peças para coberturas, fundações de edifícios e contenção de encostas. A maioria das espécies naturais, de onde são extraídas, cresce rapidamente, podendo ser cultivadas em muitos tipos de solo ou ser encontradas em forma de rejeitos.
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São exemplos de fibras naturais: palha, cortiça, juta, bambu, piaçava, sisal, fibra de madeira, de celulose, de coco, da cana-de-açúcar, da bananeira, entre outras.
Fibra da Bananeira
O Brasil é um dos maiores produtores de banana do mundo. Talvez por isso a fibra da bananeira possa ser apontada como uma boa alternativa para a construção civil nacional. O produto final não afeta a saúde humana e nem a natureza, já que é de um novo broto da bananeira que se extrai a fibra, sem prejudicar a planta original, que continuará a produzir suas bananas. Também há produtores que descartaram a planta inteira após a retirada dos primeiros cachos e depositam tudo na plantação, para a decomposição natural, o que poderia gerar fungos, entre outros. Pois esses resíduos poderiam ser facilmente reaproveitados. Se misturados com outros materiais, como o papel reciclado, podem resultar em placas para revestimento de paredes em ambientes com alta propagação de sons, como é o caso das salas de aula; revestimento em móveis; e mais.
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Bitucas de Cigarro
Diariamente, cerca de 13 milhões de bitucas de cigarro são descartadas no meio ambiente no mundo todo. Elas podem levar até 5 anos para decompor. Enquanto isso, são liberadas, pelo solo e pelos rios, quase 5 mil substâncias tóxicas. Como uma alternativa de compensar a produção desses resíduos, o pesquisador Abbas Mohajerani, da Universidade RMIT, na Austrália, criou um tipo de tijolo que mescla argila e bitucas em sua composição. Em tese, seu processo de fabricação não apresentaria riscos de contaminação, já que durante a queima das peças os poluentes ficariam presos aos tijolos – aliás, a sua queima seria mais rápida, economizando energia. O produto final também seria mais leve e com melhores propriedades de isolamento térmico, em relação aos modelos tradicionais.
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“A incorporação de bitucas em tijolos pode, efetivamente, resolver um dos problemas globais de lixo. Eles [tijolos] também são mais baratos para produzir em termo de consumo de energia, e quanto mais bitucas são incorporadas, menor o custo de energia”
- Dr. Abbas Mohajerani, em reportagens de Ciclo Vivo e Concreto em Curva.
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Pneus Usados
O não reaproveitamento de pneus usados - que costumam ser simplesmente descartados na natureza - é um dos maiores problemas visto pelos ambientalistas e sanitaristas. Acredita-se que 2 milhões de novos pneus são fabricados todos os dias no mundo. Já o descarte de pneus velhos chega a atingir, anualmente, a marca de quase 800 milhões de unidades. Pensando nisso, os construtores indicam a utilização desse material em seus projetos, principalmente naqueles para as comunidades mais pobres, com pouco acesso a recursos ou que dispõe de menos tempo para construir suas moradias – e o resultado é bem interessante.
Material reciclado
Construções feitas com pneus podem não ter a arquitetura mais bela ou chique, mas são confortáveis e visualmente agradáveis. Devido às propriedades da borracha, os interiores costumam apresentar sempre uma temperatura estável, sem depender de climatizadores. A massa térmica, a resistência e a estabilidade das paredes são aumentadas com o preenchimento de terra. Claro que o bom desempenho está relacionado com uma série de fatores. Primeiro, com a conservação das peças. Segundo, a situação da superfície, da base. E por último, o preenchimento dos vãos, que pode ser feito com barro e arrematado, posteriormente, com gesso.
“O pneu já é borracha com uma cinta de aço em volta, então é totalmente seguro. Quando você enche com terra do próprio local estufa o pneu e ele pesa mais de 150 quilos. Então, é uma parede estrutural muito forte.”
- biólogo Yuri Sanada, em reportagem de FPCAD.
São exemplos de aplicabilidade dos pneus em processos envolvidos na construção civil: revestimento de cobertura, substituindo telhas cerâmicas, metálicas e de fibrocimento; isolamento térmico; piso asfáltico; peças para formação de paredes, muros de contenção, muros comuns, contenção de margens de córregos, escadas, galerias pluviais e mais; e primeiras fiadas sobre fundações, já que os pneus podem ser colocados diretamente sobre a terra, sem sofrer alterações por efeito de qualquer umidade existente no local.
Fontes: Setor Reiclagem, Ciclo Vivo, iConstruindo, ArcDaily, Universo Jatobá.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.