O grande profeta bíblico Moisés dividiu as águas do Mar Vermelho e salvou o povo hebreu da tirania do governo egípcio. Mas, agora, outra civilização está em apuros, a que habita Veneza. Depois de décadas de planejamento, o Projeto MOSE promete proteger a cidade das inundações que sempre acontecem entre o fim de outubro e o início do inverno europeu.
O caos no tecido urbano de Veneza
Veneza, como muitos sabem, é uma cidade histórica italiana. Mas ela não é uma cidade qualquer. Suas ruas são, na verdade, canais aquáticos. Quer dizer que, para ir de um lugar a outro, muitas vezes é necessário utilizar pequenas embarcações ao invés de carros. Poucas edificações estão construídas sobre terra firme – estando o resto sobre estadas de madeira fincadas em solo lamacento. Isto é o que faz o seu urbanismo ser tão diferente; porém, ao mesmo tempo, sujeito a sofrer com enchentes recorrentes.
Desde 1987, Veneza já afundou cerca de 30 cm e o assoreamento natural da laguna é uma das causas. Mas o que mais apavora os estudiosos não é exatamente este afundamento, mas o aumento do nível do mar. Isto vem acontecendo com mais rapidez nas últimas décadas por conta das mudanças climáticas na Terra, o derretimento das geleiras e o aumento do nível dos oceanos. E isto, óbvio, tem gerado prejuízos para a cidade.
Com o aumento do nível das águas, os canais estreitos de Veneza não dão conta. O Mar Adriático, que “invade” a cidade, também é rota de vários navios de cruzeiro, os quais geram grandes ondas contra as construções. O resultado disso é diversas estruturas corroídas pela maresia, muitas áreas públicas alagadas e o piso térreo de várias construções submerso. É provável que a cidade como conhecemos desapareça em breve se nada for feito.
O Projeto MOSE: solução de Engenharia Civil
Em mais de cinquenta anos, já houve muitos planos diferentes para salvar Veneza. Alguns envolviam embasar a cidade com fundações novas de concreto; outros em elevá-la com ajuda de bombas em seu subsolo. Mas somente o Projeto MOSE pareceu mesmo uma ideia possível. Porém, ele ficou décadas engavetado, aguardando os trâmites burocráticos. Só em 1990 começou a ser traçado e em 2004 calculado. Mas, agora ele já está em fase de funcionamento parcial.
O Projeto MOSE consiste em uma enorme barragem composta de comportas metálicas para proteção contra inundações. São dezenas de barreiras móveis com até trinta metros de comprimento e 300 toneladas cada, estrategicamente posicionadas nas três aberturas que ligam a Lagoa de Veneza ao Mar Adriático. Este projeto de Engenharia Civil é tão incrível que inspirou também propostas portuárias para Roterdã e Londres.
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As barreiras do MOSE ficam junto ao leito marítimo, sobre uma base de concreto e túneis de manutenção, em posição horizontal e cheias de água. Com a subida das marés, elas são esvaziadas, provocando a sua subida para a superfície e a troca para a posição vertical, funcionando como bloqueio das águas. Todo o sistema é acionado através de um software e controle eletrônico. Por hora, não há solução mais simples e eficiente de salvar a cidade apresentada.
O impacto do MOSE sobre a Arquitetura de Veneza
Para que o Projeto MOSE realmente desse certo, uma ilha artificial precisou ser construída em uma das saídas da Lagoa de Veneza. Neste local estão os controles das barreiras móveis ou Módulos Eletromecânicos. Obviamente, isto já provocou uma alteração na paisagem da cidade – considerada, por muitos, como uma das mais bonitas do mundo. Aliás, este foi um dos grandes motivos da demora da construção deste sistema de Engenharia Civil.
Pior do que os efeitos sobre a Arquitetura de Veneza são os impactos ambientais. É que para que as barreiras do MOSE se elevem, a água em seu interior precisa ser mandada para fora. Este movimento perturbaria seriamente o ecossistema, até mesmo acentuando os níveis de oxigênio no local. O consórcio que administra a estrutura afirma que isto não é um problema. Já os especialistas dizem que, para que o sistema atenda os mínimos de requisitos ecológicos, ele deve ser acionado em apenas alguns limitados dias do ano.
Veja Também: Quais as diferenças do concreto submerso?
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Fonte: Época Negócios, Tecmundo, DW, Terra, Engenharia Civil, Istoé.
Imagens: Todos os Créditos reservados aos respectivos proprietários (sem direitos autorais pretendidos). Caso eventualmente você se considere titular de direitos sobre algumas das imagens em questão, por favor entre em contato com contato@engenharia360.com para que possa ser atribuído o respectivo crédito ou providenciada a sua remoção, conforme o caso.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.