Nos últimos anos, presenciamos um aumento de debates sobre diversos temas, incluindo a ciência. A dúvida sobre questões científicas voltou a ganhar força, muitas vezes impulsionada por desinformação e interpretações equivocadas de discursos religiosos. Historicamente, a Igreja Católica já foi apontada como opositora da ciência, como no caso de Galileu Galilei no século XVII, condenado por defender o modelo heliocêntrico, que afirma que a Terra gira em torno do Sol. Mas será que essa oposição ainda existe?
Ainda hoje, mesmo com fácil acesso à informação, muitas pessoas desacreditam de fatos científicos básicos, como o formato esférico da Terra. No entanto, a ideia de que ciência e religião estão em lados opostos é um equívoco.
A própria Igreja Católica, por meio de autoridades eclesiásticas, já se posicionou a favor da coexistência entre ciência e fé. Como disse certa vez um representante da Igreja: "Na casa de meu Pai há muitas moradas" (Jo 14,1-6), sugerindo que a vida no universo pode ir além da Terra. Debatemos mais o assunto no artigo a seguir, do Engenharia 360. Confira!
A história da Igreja com a Astronomia
A Igreja passou a manifestar o interesse pelo estudo da Astronomia ainda no século XVI, com o Papa Gregório XIII, por recomendação do Concílio de Trento. Na época, os estudos focaram na troca do calendário juliano para o gregoriano, aquele que usamos até os dias de hoje. Mas, de lá para cá, várias investigações sobre o céu foram realizadas pelos religiosos católicos.
Já o observatório foi criado em 1891, como uma resposta do papa Leão XIII às acusações de que a Igreja era inimiga da ciência. Na época, ele ficava mais próximo da Basílica de São Pedro - mas a cidade cresceu e as luzes das zonas urbanas comprometeram a observação do espaço.
O papel do Observatório do Vaticano na Ciência
O Observatório do Vaticano - Specola Vaticana - é, portanto, um instituto de pesquisa astronômico gerido pela Santa Sé, a jurisdição eclesiástica da Igreja Católica, em Roma. Sua sede fica hoje ao lado da "residência de verão" dos Papas da Igreja Católica Romana, em Castel Gandolfo, na Itália. Ela é coordenada por um ex-professor de Harvard e do MIT, o Irmão Guy Consolmagno. E sua contribuição para a ciência é inestimável.
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A estrutura moderna do observatório
Inicialmente, apenas cientistas jesuítas trabalhavam no instituto. Contudo, posteriormente, o instituto passou a ter integrantes de outras ordens religiosas, como os barnabitas, os agostinianos e os oratorianos. Atualmente a responsabilidade do observatório compete à Companhia de Jesus. Em novo endereço, desde 1939, o observatório passou a contar com instrumentos mais modernos - como artigos de computação da multinacional Hewlett-Packard - e também um departamento de astrofísica para estudo da estrutura e evolução da Via-Láctea.
Hoje ainda existe uma unidade do Observatório Vaticano no interior do estado do Arizona, nos Estados Unidos. Aliás, o "Telescópio de Tecnologia Avançada do Vaticano", no Monte Graham, é considerado um dos melhores locais de visibilidade astronômica.
Mas, no endereço do Castelo Gandolfo, a poucos quilômetros de Roma, a Igreja Católica mantém uma rica biblioteca com 22 mil títulos de livros antigos e raros, como obras de Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Isaac Newton, Johannes Kepler e outros cientistas famosos. Além disso, uma relevante coleção de meteoritos.
Contribuições científicas da Igreja Católica
Neste ponto do texto, gostaríamos de esclarecer que o trabalho deste Observatório do Vaticano não recebe interferências de papa. Assim, se mantendo neutro, sempre contou com a cooperação da NASA. As linhas de pesquisas desenvolvidas incluem: fotometria e espectroscopia sobre aglomerados estelares; estudo da distribuição espacial das estrelas de diferentes tipos espectrais; órbitas de estrelas duplas; produção de atlas de espectro de interesse astrofísico; entre outras.
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Relação 'Fé e Ciência' sob uma nova perspectiva
Ao contrário do que muitos pensam, o trabalho desenvolvido pelo Observatório Vaticano não tem viés religioso. A própria instituição declara em seu site que não usa telescópios para "encontrar algo divino no céu". Em vez disso, sua missão é promover o conhecimento científico, sob a ótica da admirável criação divina, mas com base em métodos e dados científicos rigorosos.
"Nem com um telescópio potentíssimo poderíamos ver Deus. Ele está além do universo, por trás de tudo que existe." - José Funes, diretor do Observatório Astronômico Vaticano.
Enfim, em tempos em que o negacionismo científico ainda persiste, é importante reconhecer instituições - religiosas ou não - que investem em pesquisa, educação e disseminação do conhecimento. Afinal, entender o universo também é uma forma de entender melhor a nossa própria existência.
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Fontes: Unisinos, Wikipédia, Cristãos na Ciência, O Estadão.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.