Um ano se passou após o rompimento da barragem que caracterizou o maior desastre ambiental do Brasil. Na parte 1 do texto, nós explicamos o que foi o acidente e quais as consequências imediatas dele. Nesta parte, vamos falar sobre os impactos que ainda persistem, além de abordar o que está sendo feito para a sua recuperação.
+ Leia também: O papel da engenharia no rompimento da barragem de Mariana, um ano depois (PARTE 1)
No total, estima-se que mais de 11 mil pessoas foram prejudicadas com o rompimento da barragem. A geração de energia, a atividade industrial, a agropecuária, a pesca e o turismo também foram impactados.
Quando a barragem rompeu, as análises de água demonstraram que havia altos níveis de contaminação, baixo oxigênio e presença de metais em um nível acima do permitido (ferro, alumínio, manganês, arsênio, cádmio, chumbo, cromo, mercúrio, níquel e cobre). A água amostrada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Governador Valadares, cidade abastecida pelo Rio Doce, demonstrou que os índices de ferro estavam muito acima do recomendado para tratamento, assim como os níveis de manganês.
Em um ano, a situação não melhorou muito. A ONG SOS Mata Atlântica percorreu o Rio Doce para analisar a situação atual da água. A qualidade foi considerada imprópria para consumo em 14 dos 17 pontos analisados. Próximo ao local da barragem de Fundão, que rompeu ano passado, o nível de oxigênio medido pela ONG foi zero. O oxigênio dissolvido é um dos principais indicadores da qualidade de água e é imprescindível para o desenvolvimento da vida aquática.
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Outro parâmetro analisado foi a turbidez, que mede a dificuldade de um feixe de luz para atravessar a água (quanto mais sólidos suspensos e coloidais, mais difícil passar a luz, a qual é essencial para a fotossíntese). A medição de turbidez em alguns pontos registrou valores 10 vezes acima do limite, que é de 100 UNT (unidade nefelométrica de turbidez). No entanto, esses valores ainda são menores que os medidos um mês após o rompimento da barragem, nos quais a turbidez estava 50 vezes maior que o permitido.
Normalmente, quanto pior a qualidade da água, maior o gasto com tratamento. Embora a água do Rio Doce seja tratada antes de abastecer a população, os moradores ainda desconfiam da qualidade. A situação piora com a chegada da chuva, que pode carregar todo o material que ficou para trás para dentro do rio. Para evitar isso, a Samarco está construindo diques de contenção, mas as obras estão atrasadas.
Embora degradado em alguns pontos, o Doce era considerado um rio com alta capacidade de recuperação após sofrer alterações (alta resiliência). Porém, essa característica não foi suficiente para resistir à quantidade de lama que recebeu, de forma que sua recuperação deve ser lenta, necessitando de tempo e intervenções periódicas, com a possibilidade de nunca retornar ao estado anterior.
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Com relação à população, as casas continuam destruídas e ninguém pode voltar para Bento Rodrigues devido ao alto risco da área. Os moradores foram alocados em novas residências, nas proximidades de Mariana, e aguardam a construção do novo Bento Rodrigues, em um lugar já escolhido por votação. Porém, o que aconteceu durante o rompimento da barragem e os bens materiais e imateriais perdidos estão registrados na memória da população e jamais serão esquecidos.
De acordo com os princípios do direito ambiental, o meio ambiente não pode esperar para ser reparado, de forma que, independentemente de quem seja o culpado, é necessário iniciar a recuperação o mais rápido possível. No caso de Mariana, as ações de recuperação ainda estão em curso e devem perdurar por um bom tempo.
Como foi dito no primeiro texto, nós, engenheiros e futuros engenheiros, sabemos que há sempre um risco associado a um projeto e devemos trabalhar para minimizá-lo. Se, infelizmente, a tragédia acontece, como foi o caso do rompimento da barragem de Fundão, os engenheiros devem voltar à cena para tentar minimizar os impactos e reparar os danos causados. Durante o ano que passou, engenheiros de todos os tipos trabalharam em grupos com outros profissionais para providenciar ações como: a dragagem das barragens das hidrelétricas, o planejamento do abastecimento de água e energia, a escolha do tratamento de água adequado, o remanejamento de pessoas, a restauração do ecossistema do Rio Doce, a previsão de impactos de longo prazo e outras.
Assim, para evitar situações como essa, cabe a cada um de nós fazer tudo de maneira correta e saber que segurança não é um gasto, é um investimento. Que esse exemplo de desastre ambiental fique como uma lição que nunca deve ser repetida, nem mesmo esquecida..
Referências: G1[1][2], Ibama, O Tempo, R7, SIGRH.
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Larissa Fereguetti
Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.