Dia 08 de Março é celebrado o dia Internacional da Mulher e, neste ano, nós resolvemos celebrar a data falando um pouco sobre como está o mercado de trabalho para as engenheiras. Nesse sentido, analisamos os cenários nacional e internacional e ouvimos o depoimento de algumas mulheres contando suas histórias e os desafios enfrentados, além do posicionamento de algumas empresas.
A diferença entre homens e mulheres em números
No Brasil, segundo o Censo da Educação Superior do Inep de 2019, divulgado em outubro de 2020 (e o último disponível para consulta até o momento), apenas 37,3% dos formandos em cursos de graduação da área de Engenharia, Produção e Construção são do sexo feminino. Isso indica que a maior parte dos prováveis ingressantes nesse mercado ainda é composta por homens (se nós considerarmos que todos os recém-formados colocam a profissão em prática).
Segundo Aparecido Siqueira, diretor do departamento de Recursos Humanos do Grupo A. Yoshii, “Em um segmento dominado por homens, a construção civil percebe um movimento positivo de mudanças. As mulheres passaram a ser uma mão de obra mais qualificada devido à persistência nos estudos e a presença de características como de organização e atenção aos detalhes.”
No cenário internacional, a situação não é muito diferente no quesito desigualdade: na Austrália, por exemplo, os dados liberados pelo The Australian Financial Review em 2019 mostraram que o número de mulheres com diploma de engenharia está diminuindo.
Uma reportagem da Revista Forbes de 2020 mostrou que o preconceito com relação ao viés de gênero ainda existe na área de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e que, se essa lacuna não existisse, haveria um aumento do PIB per capita na União Europeia em 0,7% a 0,9% em 2020 e em 2,2% a 3,0% em 2050.
A mudança é lenta
Os motivos citados para que a diferença entre o número de homens e mulheres na carreira de STEM são vários. Uma pesquisa online da Studio Graphene, uma empresa de inovação tecnológica, mostrou que quase metade das mulheres (49%) já sofreu alguma discriminação no local de trabalho e que um quinto (20%) renunciou a algum cargo por causa de discriminação ou assédio.
Com relação ao que pode ser feito, 58% das mulheres querem ver práticas mais flexíveis que apoiam os pais, uma vez que há certa marginalização de mulheres que retornam ao trabalho após terem filhos e possuem horários mais complexos. Ainda, 54% apoiam currículos “anônimos” durante os processos de recrutamento, evitando preconceitos.
Em 2019, nós publicamos um texto que relata uma pesquisa que mostrou que, dentre os 41 países pesquisados (o que não inclui o Brasil), Portugal era o principal para mulheres em tecnologia, com 36,56% dos graduados em STEM do sexto feminino (não é exatamente comparável com o Brasil porque a porcentagem citada no início do texto só envolve engenharia, produção e construção). Nos Estados Unidos, a situação é pior ainda e só 24,24% dos graduados em STEM são mulheres.
“Eu me formei em Engenharia Química. Iniciei minha carreira como estagiária em uma fábrica de papel de uma multinacional, onde fui efetivada e trabalhei por quase quatro anos diretamente com a produção. Optei por buscar outras oportunidades por não encontrar perspectiva de crescimento e por perceber que a empresa ainda não estava preparada para ter mulheres em cargos de liderança. Hoje trabalho como engenheira de aplicação, sendo responsável pela área de controles avançados de processos na América do Sul. As fábricas ainda têm pouca presença feminina sendo que muitas vezes sou a única mulher em reuniões. Entretanto, na empresa em que trabalho e nos clientes que visito não sinto diferença de tratamento.”
Nathália de Castro Leme, Engenheira de Aplicação da Valmet.
Tudo isso mostra que, apesar de já termos melhorado muito no quesito igualdade nos últimos anos, esse processo está lento e ainda não é o ideal. Espera-se que nós caminhemos para a igualdade de uma forma mais rápida e que a importância da igualdade entre homens e mulheres não seja lembrada só no dia 8 de Março, mas todos os dias.
Lembrando que a busca é por igualdade, não por tratamento diferenciado. No caso de quem precisa de horários mais flexíveis, por exemplo, isso se aplica aos dois lados: se ambos tiverem maior flexibilidade de horário, eles podem dividir melhor as tarefas e dar conta tanto do trabalho como da casa e dos filhos.
“Iniciei minha carreira na empresa na execução de obras em Londrina, como estagiária. Na época, com 19 anos, o contato com engenheiros, mestres e todo o efetivo de obra era constante. Pela cultura promovida na empresa, sempre me senti apoiada e incentivada a crescer profissionalmente. Se houvesse situações de preconceito, eu sei que teria o suporte para mostrar as minhas capacidades. Na construtora, várias mulheres trabalham na engenharia e no canteiro de obras. Sempre há respeito, oportunidades de crescimento e incentivo. Há três anos surgiu a oportunidade de iniciar no departamento de pesquisa e desenvolvimento, uma área mais administrativa, e abracei a oportunidade com a certeza de que minha passagem pela obra foi muito bem aproveitada.”
Letícia Catenance da Costa, Engenheira de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo A. Yoshii
E você, qual a sua história? Deixe nos comentários!