Desde pequeno, o brasileiro ouve que o seu país possui uma imensa quantidade de água doce. Esse é um dos elementos que justifica o fato de que a consciência em relação à economia de água é mínima. Além do consumo elevado, o Brasil também possui problemas como uma perda de água muito grande no abastecimento, falta de saneamento, problemas no esgoto, desmatamento e alto consumo e poluição provenientes da atividade agrícola.
Em 2015, por exemplo, o país ficou assustado ao ver parte do país passar por uma crise hídrica e a população começou a perceber que a água é um bem precioso. Porém, a crise hídrica foi esquecida assim que a água voltou a sair regularmente nas torneiras.
Situação do esgoto no Brasil
É do conhecimento geral que a água não vai acabar. Porém, na situação atual, a água adequada para o abastecimento humano corre o risco de tornar-se imprópria para o consumo. De acordo com o Atlas Esgotos da Agência Nacional de Águas (ANA), apenas 45% da população brasileira possui tratamento de esgoto adequado. O esgoto não tratado vai para os corpos hídricos, ocasionando desequilíbrios ambientais e problemas na saúde pública.
Existe um limite no qual os tratamentos disponíveis e economicamente viáveis são aplicáveis, além de legislações que classificam os usos da água de acordo com a situação do corpo hídrico de onde ela provém. Aos poucos, um corpo hídrico pode não conseguir mais se recuperar (autodepurar) e acaba muito poluído, como o rio Tietê. Quando um corpo hídrico está nesta situação, ele não pode mais ser utilizado para fins de abastecimento humano.
Um parâmetro utilizado para verificar a situação da poluição da água é a demanda bioquímica de oxigênio (DBO). A DBO nada mais é que a quantidade de oxigênio necessária para estabilizar a matéria orgânica presente nos corpos hídricos. Quanto mais matéria orgânica, maior a DBO. Consequentemente, altos níveis de DBO indicam que a poluição é maior.
No Brasil, apenas 39% da carga orgânica gerada é removida antes que o esgoto chegue aos rios. Segundo a ANA, dentre os rios brasileiros, 1.656.930km possuem DBO de até 3mg/L; 25.760km possuem DBO entre 3mg/L e 5mg/L; 27.040km têm DBO entre 5mg/L e 10mg/L, os quais requerem tratamento avançado para a água captada para o abastecimento público, e 83.450km possuem DBO maior que 10mg/L e já não podem mais ser utilizados para o abastecimento.
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Ainda, apenas um terço das estações de tratamento de esgoto existentes no país remove mais de 80% da DBO. Tais números indicam o quão preocupante é a situação e mostram que, para preservar um bem tão essencial como a água, é necessário agir.
O saneamento básico tem como um de seus princípios fundamentais a universalização do acesso, de acordo com a Política Nacional de Saneamento Básico (Lei Federal nº 11.445/2007). Para isso, o primeiro passo, que é o levantamento de dados, já foi realizado pela ANA. Agora, é necessário desenvolver e aplicar estratégias para tentar solucionar o problema.
Para universalizar os serviços de esgotamento sanitário no Brasil até 2035, a ANA estima que sejam necessários R$149,5 bilhões. O custo é elevado, no entanto, ele não é maior que o custo de novas tecnologias para tratamento de água somado ao custo do impacto da falta de saneamento na saúde pública.
Fontes: Atlas Esgotos; ANA; CONAMA 357/2005; CONAMA 430/2011.
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Larissa Fereguetti
Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.